NOTAS DE DUBAI – A sombra do petróleo sobre o Brasil (e sobre a COP)

A aproximação com a Opep marca a passagem de Lula pela COP28; as dúvidas crescentes sobre a isenção do presidente da COP

Bandeira com o logotipo da COP28, que acontece em Dubai
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A SOMBRA DO PETRÓLEO – 1

A aproximação do Brasil com a Opep lançou uma sombra sobre a passagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por Dubai. O timing do anúncio, nos dias em que a atenção da mídia mundial está inteiramente voltada à conferência, foi no mínimo infeliz e potencialmente desastroso para a credibilidade do país nas negociações. Um dos ativos do Itamaraty é o bom trânsito entre ricos e pobres, uma divisão difícil que poucos conseguem navegar como os diplomatas brasileiros.

A SOMBRA DO PETRÓLEO – 2

Não é novidade para ninguém que o país já produz muito petróleo, e até o fim da década o Brasil pode chegar ao top 5 do ranking dos maiores produtores. Mas, depois de décadas de resistência e hesitação, a discussão sobre o fim da queima de combustíveis fosseis entrou para a agenda das COPs. Pode ou não haver alguma decisão a respeito este ano, mas o assunto vai voltar no ano que vem, depois em Belém-2025 e além – até que alguma decisão seja tomada.

A SOMBRA DO PETRÓLEO – 3

A expectativa do governo brasileiro era exibir as conquistas obtidas nestes primeiros 11 meses no poder. Além da queda no desmatamento, falou-se das iniciativas do Plano de Transição Ecológica e da ideia de um fundo ambicioso e inovador para remunerar os países que têm florestas tropicais. O BNDES vai financiar o reflorestamento. Um acordo com o BID pode destravar bilhões de capital privado para a transição verde brasileira. Diante dos olhos do mundo, porém, tudo isso pode ter ficado em segundo plano. A ver o desenrolar dos próximos dias.

A SOMBRA DO PETRÓLEO – 4

Uma reportagem do britânico The Guardian publicada no domingo estremeceu a Expo City Dubai. Em um evento online realizado no fim de novembro, o presidente da COP28, Sultan Al-Jaber, disse que a necessidade de eliminar os combustíveis fósseis para limitar o aquecimento planetário a 1,5° não tem base na ciência. As reações misturaram incredulidade e espanto, já que é consenso entre os cientistas – há muito tempo – que o ponto central do combate à mudança climática é a transição para energias limpas.

A SOMBRA DO PETRÓLEO – 5

Al-Jaber, que também é o CEO da Adnoc, a estatal do petróleo dos Emirados Árabes Unidos, fez o comentário em resposta a uma pergunta de Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e ex-enviada especial da ONU para o clima. A declaração aprofundou a crise de confiança sobre Al-Jaber e sua isenção à frente do mais importante fórum global sobre descarbonização.

A SOMBRA DO PETRÓLEO – 6

Al-Jaber, que participa apenas via áudio, parece irritado e na defensiva ao responder aos questionamentos. “Aceitei participar desse encontro para ter uma conversa sóbria e madura,” disse ele. “Você está lendo a sua própria mídia, que é enviesada e está errada. Estou dizendo, eu estou no comando. Você precisa me ouvir.”

BID NA AMAZÔNIA – 1

O Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Pará assinaram um protocolo de intenções para financiamento de iniciativas de descarbonização do Estado. O objetivo dos recursos, que podem chegar a US$ 300 milhões, é conservar 10 milhões de hectares de floresta até 2050, reduzindo as emissões líquidas paraenses em 6 bilhões de toneladas de CO2. O Pará é de longe o Estado com as maiores emissões do país, por causa do desmatamento.

BID NA AMAZÔNIA – 2O banco multilateral, liderado pelo ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn, também prometeu avançar os programas direcionados aos outros Estados da região. A iniciativa Coalizão Verde, anunciada em setembro, pretende mobilizar entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões entre seus 20 participantes, todos bancos de desenvolvimento.