BID vai prover hedge cambial para investimentos verdes no Brasil

Custo de capital impactado pela variação cambial é um dos maiores obstáculos à atração de recursos estrangeiros em escala para transição

O Brasil entrou na rota dos investimentos climáticos do capital estrangeiro
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Um dos principais nós para atrair investimento estrangeiro em escala para financiar o plano de transição verde do Brasil começou a ser desatado. 

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) fechou um acordo com o Ministério da Fazenda para fornecer, já em 2024, produtos financeiros de proteção contra a variação da taxa de câmbio brasileira, crucial para reduzir o custo de capital dos investidores e tornar atrativo o retorno dos projetos brasileiros.

O anúncio, feito na última sexta-feira em Dubai, passou quase despercebido em meio à miríade de planos e compromissos que governos, empresas e outras organizações costumam desaguar nas COPs.

Nos mercados emergentes em geral, Brasil inclusive, que convivem com limitações de orçamento público e escassez de capital de longo prazo dentro de casa, o investimento estrangeiro direto será fundamental para viabilizar projetos de mitigação e adaptação climática. Estima-se que, dos mais de US$ 2,4 trilhões anuais que serão necessários nos emergentes em 2030, US$ 1 trilhão precisarão vir de investimento privado de fora.

Batizada com o enigmático nome de plataforma de hedge, a solução é resultado de uma provocação feita ao BID pela equipe do ministro Fernando Haddad, em busca de uma solução para destravar os recursos.

Foram desenvolvidos três produtos, para baixo, médio e alto risco cambial e em todos eles o princípio é o mesmo: o BID usará seu balanço e seu rating ‘triple A’ para transferir ao Brasil mecanismos de hedge cambial a um custo baixo, que o país não acessaria diretamente por conta do elevado risco-país

Inicialmente, as coberturas oferecidas totalizarão US$ 3,4 bilhões, podendo crescer ao longo do tempo. E serão elegíveis apenas projetos como de reflorestamento, infraestrutura resiliente à mudança climática, transição energética, hidrogênio verde e agricultura de baixo carbono.

Os produtos

A primeira delas, para riscos mais baixos, é um swap total de taxa de moeda, em que um empréstimo concedido em reais poderá ter a moeda trocada para dólares. Para esse produto, inicialmente o limite será de US$ 1,5 bi, disponível para financiamentos de até 25 anos.

O segundo produto é uma linha de créditos emergencial de liquidez, para resolver problemas de caixa temporários dos projetos, decorrentes de variações cambiais. Segundo uma pessoa que participou do desenho dos produtos, essa solução se aplica a empreendimentos que contam com uma receita futura previsível indexada à inflação, como os de infraestrutura, mas que podem sofrer choques de liquidez momentâneos por causa do câmbio. Aqui a disponibilidade inicial está em torno de US$ 2 bilhões.

O terceiro produto, e também mais inovador, é um seguro contra riscos de cauda decorrentes de desvalorizações cambiais extremas. Será uma espécie de opção de compra de dólares que poderá ser acionada pelo tomador do empréstimo a partir de uma determinada taxa de câmbio. O BID vai adquirir a proteção no mercado internacional junto a grandes bancos e transferi-la à Fazenda para que possa ser distribuída internamente.

Do lado do BID, os dois primeiros mecanismos estão prontos para funcionar e o terceiro depende de algumas finalizações. Do lado da Fazenda, falta definir como tais produtos serão ‘escoados’, ou seja, quais instituições e instrumentos de financiamento poderão oferecê-los. Algumas possibilidades são Banco do Brasil, BNDES e o Fundo Clima (gerido pelo BNDES).