O governo brasileiro montou uma força-tarefa para ajudar os 72 países menos desenvolvidos e nações-ilha a encontrar acomodações e garantir que eles estejam representados na COP30.
A sugestão de que houvesse algum tipo de subsídio por parte do Brasil para custear a hospedagem dos negociadores foi recusada pelo país.
O governo brasileiro apoiou o pedido de aumento no auxílio financeiro dado a essas nações pela ONU para viabilizar sua presença nas COPs – muitas dependem de uma diária de US$ 150 das Nações Unidas para cobrir todos os seus custos.
A crise da hospedagem em Belém foi discutida em uma reunião realizada na manhã desta sexta-feira (22) pelo comando da Convenção do Clima da ONU, a UNFCCC.
Até aqui, segundo um levantamento do governo, 47 países já informaram ter reservas feitas, cerca de um quarto das quase 200 que fazem parte da cooperação climática dentro da ONU.
Mas, com esclarecimentos prestados e a ajuda personalizada aos mais vulneráveis, o governo acredita que esse número vai crescer rapidamente.
Crise diplomática
Miriam Belchior, secretária-executiva da Casa Civil, e Valter Correia, responsável pelo órgão especial criado para lidar com a logística da COP30, falaram com jornalistas logo após o fim da reunião.
Nas últimas ocasiões, os questionamentos vinham sendo respondidos publicamente pela presidência da COP30, que não tem entre suas atribuições as questões práticas da conferência.
Mas os diplomatas viram-se envolvidos na crise dados os preços da hospedagem em Belém.
Segundo Belchior, uma das demandas apresentadas foi a flexibilização do tempo de permanência mínima nos apartamentos oferecidos na plataforma oficial de reservas.
“Há um conjunto de hospedagens previstas para um número muito grande, em alguns casos 20 dias. Faremos blocos de 10 dias para quem não quiser ficar o período inteiro.”
As delegações oficiais são compostas por diplomatas, autoridades e incluem outros representantes indicados pelos países, incluindo técnicos que podem auxiliar nas negociações e representantes de entidades do país.
Com exceção dos que participam das negociações oficiais, é muito comum que os demais vão somente alguns dias para a conferência.
‘Zona de conforto’
Correia, da secretaria extraordinária da COP30, afirmou que a ONU precisa sair da “zona de conforto, por assim dizer, para dar uma contribuição maior” na busca por soluções.
“Temos um desafio conjunto de conseguir outras fontes que possam eventualmente ajudar [financeiramente] esses países”, afirmou Correia. Ele não foi específico sobre quais seriam essas fontes.
Belchior afirmou que a temperatura “baixou um pouco” depois das respostas apresentadas pelo governo brasileiro. Além dos questionamentos a respeito das hospedagens, havia perguntas sobre questões como saúde e transporte, por exemplo. “Mas segue essa tensão dos valores.”
Correia afirmou que a força-tarefa, que conta com representantes do Ministério do Turismo e do Itamaraty, vai ajudar inicialmente na intermediação do contato entre os 72 países menos desenvolvidos.
Também há casos de delegações que tiveram suas tentativas de reservas rejeitadas, segundo o secretário. A ideia, segundo ele, é entender por que houve a recusa e buscar alternativas.
Os brasileiros também reafirmaram que não há possibilidade de a conferência ser transferida para outra cidade. “Isso foi colocado de forma muito definitiva. Vamos parar de questionar isso. Nós estamos com toda a cidade COP [o espaço onde acontecem os eventos oficiais] em construção. [A ideia de mudança] tem que ser estancada definitivamente”, disse Correia.