A conta do megainvestidor Ray Dalio para o financiamento climático

Para fundador da Bridgewater, a conta do clima é cara e os projetos verdes têm que ser lucrativos: "Não adianta só fazer o bem"

O megainvestidor Ray Dalio, fundador da gestora de hedgefunds Bridgewater
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Maior gestor de fundos hedge do mundo, por meio da sua Bridgewater Associates, Ray Dalio conhece os encanamentos por onde flui o dinheiro no mercado financeiro global como poucos. Em passagem pela COP28, hoje, o megainvestidor deu a sua visão do que será preciso para a conta do financiamento climático fechar.

“Estima-se que o mundo precise de US$ 5 trilhões a US$ 10 trilhões por ano [para limitar o aquecimento global a 1,5°C] e o PIB global é de US$ 100 trilhões. Então, é caro”, disse ao participar de um fórum da Bloomberg Green em Dubai. 

“E estamos num mundo que não tem dinheiro suficiente. Para entender como isso vai se dar do ponto de vista do dinheiro, temos que olhar para quem tem o dinheiro e quais as suas motivações.”

Segundo seu raciocínio, os bancos de desenvolvimento multilaterais, como Banco Mundial e BID, não têm o suficiente. “Eles têm apenas US$ 2 trilhões sob sua responsabilidade. Isso é o quanto eles têm no total, enquanto temos que gastar US$ 5 trilhões a US$ 10 trilhões por ano.”

Os filantropos do mundo todo, continuou, têm US$ 1 trilhão por ano – sendo US$ 500 bilhões nos Estados Unidos. “Não é muito para colocar no balde.”

A maior reserva de dinheiro, apontou, é dos grandes investidores institucionais. “Eles têm US$ 200 trilhões. Esse é o grande pote de dinheiro.”

A grande questão é como fazer esse dinheiro fluir para projetos e ativos que contribuam para frear o aquecimento global. “Hoje, apenas 0,3% desse dinheiro está em investimentos climáticos ou todas as formas de investimentos ecológicos”, disse Dalio. “Eu conheço essas pessoas [que fazem a gestão do dinheiro] e as circunstâncias. Todos precisam fazer a gestão do dinheiro para seus donos e precisam obter retorno.”

E continuou: “Tem uma grande possibilidade de levar uma um dinheiro alto para essas iniciativas se elas forem lucrativas. Lucro é uma proxy para produtividade. Não adianta falar que é para fazer o bem, tem que ser lucrativo.”

Para ele, a regulação é importante e a política também, mas sem sustentabilidade financeira a conta não vai fechar.

E o fim da era de juros super baixos – ou até negativos – tornou mais difícil financiar a transição. “É mais difícil financiar agora que você tem um custo do dinheiro a 8% em vez de dinheiro grátis? Sim, é.”

Para ele, o recém-lançado fundo climático Alterra, dos Emirados Árabes Unidos, que pretende mobilizar US$ 250 bilhões de dólares até ao final da década e tem BlackRock, Brookfield e TPG como parceiros, é um “modelo maravilhoso”. 

No entanto, ele acredita que o dinheiro não vai fluir na quantidade e no tempo necessário para evitar que o planeta atinja o limite de aquecimento de 1,5ºC, o que vai exigir maior foco em iniciativas de adaptação climática, “uma área para grandes investimentos e grande produtividade.”