Durou menos de uma hora o encontro entre o primeiro escalão do governo brasileiro liderado pelo vice-presidente, Hamilton Mourão, e os dez CEOs de fundos estrangeiros na manhã de hoje. A melhor definição para a reunião talvez seja a de um “shakehands” virtual.
Para quem idealizava avanços práticos, certamente houve frustração. O fundo norueguês Storebrand, que lidera a iniciativa dos investidores, divulgou um comunicado bastante protocolar após a reunião. Revela mais pelo que não diz do que pelo texto em si.
Estão lá um agradecimento a Mourão e aos ministros que participaram do encontro e também a lista de cinco pontos que foram apresentados ao governo — ou seriam apresentados. Com menos de uma hora para o vice-presidente e os ministros falarem, faltou tempo para que toda a agenda dos investidores fosse apresentada.
Não se pode dizer que houve propriamente diálogo ou discussão. O governo falou e depois ouviu parte do que os investidores haviam preparado. E ficou por aí.
Mourão ainda saiu do encontro cobrando, via imprensa, que os fundos invistam em projetos na Amazônia se quiserem ajudar de fato. O vice-presidente parece não ter entendido bem a questão.
Afinal, esses fundos já têm alguns bilhões de reais aplicados no Brasil, em ações de companhias negociadas na bolsa, e existe hoje um conflito entre a demanda de seus clientes por sustentabilidade e a prática ambiental em curso no país.
Não é o caso, portanto, de pedir mais dinheiro antes de entregar avanços. Muito menos misturar as estações com o Fundo Amazônia, abastecido por recursos de governos e não de investidores privados.
Sob a ótica política, pode-se dizer que o simples fato de a reunião ter acontecido — e tudo o que a antecedeu — configura um avanço.
Para um governo que nega os riscos climáticos, para dizer o mínimo, abrir a porta para conversar com um grupo de investidores estrangeiros focados em sustentabilidade ambiental é, por si, um sinal positivo. Colocar o presidente do Banco Central na costura com os fundos e incluir outros três ministros no encontro são fatos que certamente enviam sinal de certa abertura, de que o governo sente a pressão crescente.
Além disso, ainda que nada de prático resulte, no mínimo toda a movimentação aumenta o “awareness” internacional e doméstico em torno da ameaça concreta que a irresponsabilidade ambiental traz para as empresas brasileiras e para a economia do país como um todo. Não à toa os CEOs de empresas locais também já começaram a se movimentar para pressionar o governo: já sentiram que a questão vai doer no bolso se nada for feito.
Entre a divulgação da carta dos fundos, há 20 dias, e a reunião de hoje, o movimento ganhou a adesão de outros investidores, como a gestora britânica Hermes, muito presente no Brasil e com amplo histórico de engajamento com companhias brasileiras.
Mas todos esses fundos são movidos por dados e o otimismo, portanto, só virá se as coisas começarem a andar.
SE o desmatamento for brecado, SE os transgressores forem punidos, SE as agências reguladoras estiverem operantes, SE houver transparência de dados e SE as empresas locais se comprometerem com cadeias de fornecimento sustentáveis. Quando todos esses “SEs” forem superados, o dinheiro certamente vai fluir.
(A íntegra do comunicado dos investidores pode ser lida aqui.)
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