Uma startup fundada em 2016 quer ser a solução para um dos problemas mais agudos — e visíveis — do país na frente climática: o combate aos incêndios florestais.
Um sistema proprietário que emprega inteligência artificial permite à Um Grau e Meio, antiga Sintecsys, fazer o monitoramento de grandes extensões de florestas, dos mais variados biomas, para detectar incêndios em sua fase inicial.
“Os incêndios florestais estão entre as três principais causas de emissão de CO2 no país. Por outro lado, muitas empresas estão preocupadas em reduzir sua pegada de carbono e nós oferecemos uma solução”, diz o CEO Rogerio Cavalcante.
A ferramenta da empresa permite substituir a observação humana ou o monitoramento apenas por satélite, que são menos precisos e com tempo de resposta maior, de até 48 horas. Entre a captura das imagens, a leitura pelo algoritmo e a identificação do incêndio, o tempo gasto pelo sistema da empresa é de apenas três minutos.
E, em se tratando de queimadas, cada minuto conta.
“O que determina a possibilidade de combater de forma rápida e eficiente um incêndio é o tempo de detecção, porque rapidamente o vento pode alastrar o foco e fazer com que ele cresça exponencialmente”, diz Cavalcante.
Com clientes como Suzano, International Paper e BpBunge Bioenergia, a empresa de Jundiaí, no interior de São Paulo, tem dobrado de tamanho nos últimos anos e agora vai abrir sua primeira rodada de captação, de olho em fundos locais e estrangeiros alinhados à tese da sustentabilidade ambiental.
Até aqui, a empresa, que prevê faturar R$ 10 milhões neste ano, privilegiou o desenvolvimento do produto com recursos próprios e algo de dívida, para evitar a arapuca de ser pressionada a crescer rápido demais.
“Agora que somos uma empresa sólida, queremos ganhar escala”, diz Cavalcante. A ideia, diz, é levantar R$ 9 milhões.
Com os recursos, a Um Grau e Meio quer estruturar sua força comercial, contratar especialistas em indicadores ambientais a serem mensurados e obter validação internacional da sua metodologia de mensuração de emissões de CO2 por incêndios florestais. Internacionalizar a operação também está nos planos.
O novo nome da empresa foi anunciado nesta semana e a marca escolhida faz referência direta à meta limite de aquecimento global que, segundo cientistas, não coloca em risco a existência de futuras gerações.
Com a mudança, a startup quis deixar mais claro seu posicionamento como uma solução para emissões de CO2 para companhias de diversos setores e não apenas ligadas a usinas e operações florestais.
“Para uma empresa grande que emite CO2, o nosso sistema pode ser uma possibilidade de patrocinar o monitoramento de áreas nativas e de fazer a compensação das emissões através da prevenção dos incêndios florestais. Isso é bem interessante para o mercado de capitais”, afirma Cavalcante.
O pulo da pantera
O sistema da empresa funciona assim: no alto de torres, são instaladas câmeras que giram 360 graus, 24 horas por dia. As imagens captadas são analisadas e enviadas para um centro de monitoramento controlado pelo cliente.
As câmeras não têm grande segredo e podem ser encontradas à venda no mercado (todas da marca Bosch). O pulo do gato está mesmo no Software Pantera, desenvolvido e registrado pela empresa, que usa inteligência artificial não só para identificar os focos, mas também para informar a extensão e a localização exatas.
O algoritmo é capaz de detectar um sinal de fumaça a até 15 km de distância, que corresponde ao monitoramento de 70 mil hectares. A empresa monitora mais de 3 milhões de hectares, sendo 33% de matas nativas, e hoje tem mais de 70 câmeras instaladas em sete Estados e quatro biomas diferentes.
Numa etapa posterior ao monitoramento, o programa da empresa faz análises do tempo de resposta das brigadas de incêndio, o que permite identificar gargalos da operação e tornar a resposta cada vez mais eficiente.
Além disso, os relatórios apontam a quantidade de CO2 que deixou de ser emitida por conta do combate precoce aos focos.
“Os nossos relatórios permitem que clientes tenham provas concretas, como fotos e vídeos, de todo o processo de detecção e combate ao incêndio, além da mensuração da área queimada, e sua conversão em CO2 emitido”, diz Cavalcante.
A empresa diz que a tecnologia empregada permite uma redução de até 90% das áreas queimadas. A medição é feita pela comparação entre o total da área perdida em anos anteriores com área queimada após implantação do sistema. Para tanto, são utilizadas imagens de satélites com apoio e validação de equipe técnica em campo quando necessário.
Receita recorrente
Todo esse serviço é vendido pela empresa num modelo de aluguel, que gera recorrência de receita.
O pacote de locação inclui o software e o hardware, além de treinamento e apoio operacional. “Como a infraestrutura de comunicação e energia no Brasil é bastante deficitária, optamos por também fornecer a infraestrutura [de câmeras e torres], mas o nosso foco principal é o software”, diz o CEO.
Cavalvante não revela o custo do pacote. “O nosso sistema é mais eficiente, confiável e custa muito menos que ter vigias, que é o sistema atual. Os clientes costumam relatar que o retorno sobre o investimento de todo sistema acontece em menos de 6 meses de operação.”