
Belém – O Brasil tem ao menos 254 deep techs climáticas, startups que desenvolvem soluções com alto potencial de transformação baseadas em descobertas científicas. E a maior parte delas, ou 80%, foi fundada nos últimos 10 anos, o que demonstra um ecossistema em crescimento.
Os dados fazem parte do primeiro mapeamento desse ecossistema de inovação climática no país, feito pelo Quintessa, o Panorama DeepClimate Brasil 2025, lançado oficialmente em evento paralelo na COP30 nesta quarta-feira (19).
“O recorte que usamos foi de iniciativas empreendedoras, ou com potencial empreendedor, que trazem soluções para o clima e que se baseiam em pesquisa intensiva, inovação científica e tecnologia de ponta”, diz Anna de Souza Aranha, co-CEO do Quintessa, uma aceleradora de negócios com impacto social e ambiental.
São iniciativas que se distribuem de maneira bastante equilibrada em quatro eixos temáticos: descarbonização da indústria e energia (37%), uso da terra, descarbonização da agricultura e soluções baseadas na natureza (32%), desastres climáticos e justiça climática (16%) e água, saneamento e economia azul (15%).
“Tem abrangência para mitigação e adaptação climática”, diz Aranha.
As principais bases tecnológicas que sustentam as soluções dessas startups são inteligência artificial e machine learning; e biotecnologia e biologia sintética, somando 42% do total.
Modelo de negócio
Embora metade (52%) desse universo já tenha atingido uma maturidade intermediária de desenvolvimento tecnológico, boa parte delas ainda não conseguiu gerar receita a partir das soluções.
Das 254 deep techs mapeadas, 30% delas não tiveram faturamento em 2024. E menos de 10% conseguiram faturar mais de R$ 3 milhões no ano passado. “Tem muito potencial empreendedor, mas precisamos de fato colocar os recursos para que isso cresça e gere desenvolvimento econômico para o país”, diz Aranha.
“O problema é que muitas das inovações ainda não têm um ‘business case’”, diz Danilo Zelinski, que lidera a área de investimento em inovação para natureza e clima da gestora de venture capital KPTL, que já investiu em cerca de 60 deep techs, de um total de 130 empresas que investidas.
“É um segmento mais difícil de investir, porque tem capacidade de atrair capital, mas você precisa conversar com cientistas. E nós precisamos ter um negócio por trás.”
As universidades têm papel crucial no desenvolvimento das deep techs climáticas, com 65% delas vinculadas ativamente a universidades e centros de pesquisa. Além disso, universidades, incubadoras e parques tecnológicos fornecem os recursos para infraestrutura de 57% delas.
Onde estão
Como seria de se esperar, há uma grande concentração (76%) dessas deep techs nas regiões Sul e Sudeste do país. “Mas uma boa notícia é que há hubs emergentes no Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, com destaque para Amazonas, Pará, Pernambuco e Goiás”, diz Aranha.
O mapeamento aponta que 9% delas estão no Norte, outros 9%, no Nordeste, e 6%, no Centro-Oeste. Os dados refletem a expansão de ecossistemas ligados à bioeconomia, floresta em pé, energia limpa e agronegócio tecnológico.
O empresário Denis Minev, CEO da maior empresa da região Norte, a varejista Bemol, e enviado especial da COP30 para o setor privado da Amazônia, é também um investidor em série em startups amazônicas, com um portfólio de 37 negócios (considerando ele e outros integrantes de sua família).
“A economia amazônica é terrível, com muita ilegalidade, tráfico de drogas e pecuária extensiva. O investimento em deep tech é uma das principais formas de transformar a economia da região”, diz ele.
“A bioeconomia é importante, mas existem outras coisas aqui e precisamos pensar em ideias mais sofisticadas também. Estamos falando de clima, mas também de desenvolvimento econômico e deep techs unem as duas coisas.”