O Tesouro dos Estados Unidos publicou, nesta terça-feira, novos princípios voltados para investimento e financiamento por instituições financeiras comprometidas em serem net zero em emissões de carbono até 2050.
Os nove princípios não são obrigatórios nem funcionam como um padrão. A ideia é que eles sirvam de orientação para que os compromissos climáticos bancos, seguradoras e outros participantes do sistema financeiro estejam alinhados à meta global de limitar a 1,5°C o aquecimento global.
Uma das recomendações é que as instituições tenham planos críveis para a transição, o que inclui metas intermediárias de descarbonização de seus portfólios até que se atinjam emissões líquidas zero em 2050.
O documento também recomenda o “financiamento da transição”, destinando recursos para ajudar o corte de emissões de setores altamente poluentes.
“O capital direcionado para uma empresa de energia que está substituindo o carvão por geração solar ou eólica por ser tanto financiamento da transição como investimento na adoção de soluções climáticas em escala”, afirma o texto.
Um dos princípios destaca a importância de uma governança robusta para que os resultados possam ser verificados pela alta liderança e pelo conselho de administração.
Outro ponto de destaque é a menção ao impacto dos planos net zero em populações indígenas ou comunidades locais. “Além disso, as instituições devem demonstrar entendimento do impacto da transição no meio ambiente, incluindo a natureza e a biodiversidade.”
O Tesouro americano anunciou que contribuições filantrópicas totalizando US$ 340 milhões vão ajudar a gerar os dados e recursos técnicos necessários para apoiar o desenvolvimento e a aplicação de “compromissos voluntários e robustos”.
Entre os doadores estão o Bezos Earth Fund (do fundador da Amazon, Jeff Bezos) e a Bloomberg Philantropies, do empresário e ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg.
A secretária do Tesouro, Janet Yellen, afirmou que a transição para o mundo pós-carbono deve criar US$ 3 trilhões em oportunidades de investimentos.
Ao longo de sua gestão, Yellen tem reforçado a importância de direcionar fluxos de recursos para soluções com impacto positivo no clima – só que seu tempo acaba no próximo ano, com o fim do governo de Joe Biden. Ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), na atual posição, a economista se encontra no centro das regulações fiscais e financeiras do país.
A proposta foi bem recebida pela Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ), uma coalizão global que reúne 650 instituições financeiras ao redor do globo. Bancos, seguradoras, gestoras de fundos e outras organizações de 50 países compõem a aliança e representam 40% dos ativos financeiros privados mundiais.
“Esses princípios reforçam tanto o imperativo estratégico para as instituições financeiras alinharem de forma independente o seu financiamento com a transição para emissões líquidas zero como a importância de planos de transição credíveis, abrangentes e comparáveis, em linha com o quadro de melhores práticas desenvolvido pela GFANZ em 2022”, diz a aliança em nota.
Apesar da amplitude da coalizão, ela também tem sido alvo de críticas e, no início deste ano, lidou com a saída do banco ético alemão GLS Bank, um de seus membros fundadores.
À época, a instituição disse não querer estar envolvida em um grupo com grandes apoiadores do petróleo, gás e carvão em diferentes países.
A debandada maior ocorreu entre as seguradoras e resseguradoras. Gigantes globais como Allianz, Axa e Munich Re são três das companhias que decidiram sair da aliança.
Além do ataque político por parte de políticos da extrema direita – especialmente nos Estados Unidos –, elas argumentam que participar da organização poderia abrir flancos para ações antitruste.