Trump toma posse com ‘pacote anticlimático’

Republicano assume Presidência dos EUA hoje e promete uma enxurrada de medidas para desfazer políticas de Biden

Trump toma posse com ‘pacote anticlimático’
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Donald Trump vai assinar uma enxurrada de ordens executivas nas primeiras horas de seu governo, entre elas um pacote de energia com o objetivo de desfazer muitas das iniciativas climáticas de Joe Biden, segundo a imprensa americana.

As primeiras medidas serão anunciadas logo após a posse do republicano como o 47º presidente dos Estados Unidos, em solenidade marcada para o meio-dia em Washigton (14h em Brasília) nesta segunda-feira (20).

Assessores de Trump falam em mais de uma centena de ordens executivas, um tipo de instrumento que dispõe sobre o funcionamento do Executivo e não precisa ser submetido ao Congresso, mas pode ser contestado na Justiça.

A expectativa é que seja declarada uma “emergência energética nacional”, de acordo com o Wall Street Journal, o que justificaria derrubar proibições de novos poços de petróleo e a implantação de terminais para exportação de gás natural.

A guinada nos planos e compromissos de descarbonização assumidos na gestão Biden também incluiria rever os planos de fechar as termelétricas movidas a carvão. As dez maiores usinas do país têm datas para deixar de operar.

Falando a congressistas em sua audiência de confirmação, o futuro secretário do Interior, Doug Burgum, afirmou que os EUA vão “perder a corrida armamentista da inteligência artificial” para a China caso não aumentem a geração de eletricidade com a queima de combustíveis fósseis.

“O sol nem sempre brilha e o vento nem sempre sopra”, afirmou Burgum, argumentando que as energias renováveis não são capazes sozinhas de dar a estabilidade e quantidade de energia necessárias para operar os imensos data centers especializados em IA.

Trump também deve derrubar limites de emissões de poluentes por automóveis instituídos na gestão Biden e que na prática serviam como mais um incentivo para a eletrificação da frota.

Mesmo sem conhecer os detalhes desse “pacote anticlimático”, é virtualmente certo que sob nova gestão os Estados Unidos não vão cumprir as metas recém-apresentadas perante a Convenção do Clima da ONU.

No final de dezembro, Biden havia anunciado o objetivo de reduzir as emissões de gases do efeito estufa entre 61% e 66% até 2035, na comparação com 2005.

Não só Trump não tem interesse em honrar esse compromisso do Estado, espera-se que ele anuncie a saída dos americanos do Acordo de Paris, como fez em seu primeiro mandato.

Em repetidas ocasiões ele afirmou que o aquecimento global é “uma farsa” e disse que turbinas eólicas causam câncer, entre outras afirmações falsas. 

A falta de cooperação dos Estados Unidos, segundo maior emissor de carbono do mundo, atrás apenas da China, introduz uma complicação extra para a presidência brasileira da COP30, que tem entre seus objetivos manter vivo o limite de 1,5°C no aumento da temperatura global.

Blitz

A blitz de Trump vai muito além da energia. O combate à imigração ilegal, um dos seus temas centrais da campanha, deve ser uma das primeiras áreas em que o republicano pretende “mostrar serviço”.

A expectativa é que Trump declare uma “emergência nacional” na fronteira com o México, o que poderia liberar recursos do Pentágono para impedir a entrada de imigrantes. Isso incluiria a mobilização de militares para obras de infraestrutura.

Além disso, numa iniciativa com claras intenções midiáticas, esperam-se batidas policiais para prender e deportar pessoas que estão no país sem documentos.

As operações devem se concentrar em grandes cidades, cujo eleitorado é majoritariamente anti-Trump: Chicago, Boston, Miami e Nova York, entre outras.

Outro alvo serão as políticas de diversidade, equidade e inclusão instituídas por Biden no âmbito federal. A máquina do executivo, disse Trump num comício na noite de domingo, vai voltar a operar baseada em “mérito”.

Obediência ou rua 

Mas não só mérito. Uma das medidas mais controversas esperadas para os próximos dias pretende acabar com proteções a servidores públicos “insubordinados”.

Em seu primeiro mandato, cercado de assessores inexperientes e ainda sem a submissão completa do Partido Republicano, Trump enfrentou resistência em todas as instâncias do governo para colocar em prática algumas de suas ideias mais heterodoxas.

Desta vez, um enorme esforço foi realizado para garantir que não haja obstruções no caminho do que promete ser um dos maiores choques políticos da história americana.

Em uma de suas declarações mais infames do ano passado, Trump afirmou que gostaria de ser ditador, “somente no primeiro dia [de mandato]”.

A extensão das ordens executivas que ele pretende decretar, algo sem paralelo, é considerada um teste da autoridade que um presidente admirador de ditadores e autocratas pretende exercer à frente da maior democracia do mundo.

 

Economia

Também existe a expectativa de que Trump imponha barreiras tarifárias a parceiros comerciais essenciais, como México e China. Apesar da postura desafiadora em público, observadores afirmam que ainda não há uma decisão sobre como implementá-las.

Alguns defendem uma introdução gradativa, focando em setores estratégicos como defesa e energia. Outros querem que a política seja implementada imediatamente, de forma indiscriminada, para reverter o déficit comercial do país.

Uma das consequências potenciais das sobretarifas seria um aumento da inflação – o aumento do custo de vida foi um dos pontos centrais de sua campanha eleitoral.