Não cabe ao Federal Reserve fazer política climática, afirmou o presidente do banco central americano, Jerome Powell, num discurso na manhã desta terça-feira.
“É essencial que nos atenhamos a nossos objetivos e autoridades estatutárias e resistamos à tentação de ampliar nosso escopo para tratar de outras questões sociais importantes do dia”, disse ele, completando que seria inapropriado usar instrumentos de política monetária ou de supervisão para “promover uma economia mais verde ou para atingir outras metas baseadas no clima.”
A responsabilidade de promover a descarbonização da economia e a transição energética compete aos legisladores, segundo Powell, e o papel do Fed é monitorar eventuais riscos que a mudança climática possa trazer ao sistema financeiro.
Essa definição de uma atribuição importante – mas limitada – do papel da instituição foi considerada uma resposta às pressões sofridas pelo Fed de ambos os lados da polarizada política americana.
De um lado, os integrantes do Partido Democrata, do presidente Joe Biden, querem uma postura mais atuante do banco central, exigindo proteção dos riscos decorrentes da mudança do clima.
O partido da oposição é contrário a qualquer tipo de medida que possa ser interpretada como restrição à livre atuação do setor financeiro, em particular aquelas que restrinjam crédito para o setor de combustíveis fósseis.
No ano passado, senadores republicanos bloquearam a nomeação de Sarah Bloom Raskin para o posto de supervisora dos bancos, uma das funções-chave do Fed. Ela defendia uma atuação mais decisiva da entidade nos assuntos ligados ao clima.
Alguns políticos do partido de oposição se opõem até mesmo à avaliação dos riscos associados ao clima. Bancos centrais do mundo todo vêm conduzindo e aprimorando testes de estresse para quantificar os possíveis impactos negativos da mudança do clima.
Mas a atuação de um BC deve se resumir a isso, disse o presidente do Fed. “Minha preocupação é que, no entusiasmo de fazer o bem, as pessoas coloquem em risco a independência do banco central.”
É essa mesma independência que permite que a autoridade monetária tome medidas politicamente indigestas no curto prazo, como o aumento da taxa de juros e seus consequentes efeitos no crescimento da economia, afirmou ele.
Foco na inflação
Falando num evento realizado pelo banco central da Suécia, Powell afirmou que sua prioridade é combater a inflação.
Isabel Schnabel, integrante do conselho do Banco Central Europeu, ecoou o sentimento expressado pelo americano.
“A estabilidade de preços é precondição para a transformação sustentável da nossa economia”, disse ela. “A transição verde não vai prosperar num ambiente de alta inflação.”
Mas Schnabel afirmou que o BCE precisa alinhar sua carteira de títulos privados ao Acordo de Paris, mirando na neutralidade de carbono na metade do século.
Quando o banco voltar ao mercado de títulos, critérios ambientais devem ter mais peso, afirmou.