União Europeia quer intervenção de emergência no mercado de energia

Disparada no preço do gás com conflito entre Rússia e Ucrânia faz bloco considerar revisão no modelo atual de precificação de energia

União Europeia quer intervenção no mercado de energia depois de novo corte de fornecimento de gás pela russa Gazprom
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A disparada dos preços do gás causada pelo conflito entre a Ucrânia e a Rússia está levando o mercado de energia da União Europeia ao seu limite — e o bloco já estuda intervenções de emergência para dar algum alívio às tarifas e até uma reforma mais estrutural no seu modelo elétrico.

“Atualmente, o gás domina os preços do mercado de eletricidade”, disse a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen. “Com esses preços exorbitantes, vamos ter que desassociar esses dois fatores.”

Hoje, os preços do gás estão 10 vezes mais caros que um ano atrás na Europa em meio à diminuição da oferta vinda da Rússia.

Nas últimas semanas, a estatal russa Gazprom reduziu a 20% da capacidade o fornecimento no gasoduto Nord Stream 1, um dos principais a abastecer o continente. E ontem interrompeu a oferta de gás para a Alemanha alegando “manutenção temporária”.

Isso, somado a uma política de armazenamento do gás para fazer frente ao inverno que se aproxima, ajudou a levar as cotações da commodity a preços recordes.

Uma reforma no mercado europeu de eletricidade poderia revisar a chamada “ordem de mérito”, que determina os preços da eletricidade no mercado de atacado. 

Nesse sistema, as usinas vão sendo acionadas para abastecer o sistema de acordo com seu custo de produção: da mais barata para a mais cara. Mas os preços da energia são estabelecidos pelo custo marginal da última usina a ser acionada — que atualmente são aquelas movidas a gás. 

Em vigor há mais de 30 anos, o modelo por muitos anos deu incentivo à expansão das fontes renováveis, pagando a elas o mesmo valor que aquelas movidas a combustíveis fósseis. Mas, para os críticos hoje ele gera um efeito efeito desproporcional nos preços, especialmente nos países que produzem energia mais barata vinda de fontes como solar e eólica.

A crise do gás é agravada pela estiagem que castiga a Europa. Os reservatórios de usinas hidrelétricas secaram e os rios chave para o transporte no continente, como o Reno, ficaram intransitáveis para navios carregados de carvão — uma alternativa suja, mas disponível para fornecer energia.

Socorro às distribuidoras

As principais empresas de energia da Europa estão demandando socorro dos governos para fazer frente à disparada dos preços. Em linhas gerais, geradoras e distribuidoras arcam na frente com o aumento de custo no atacado e só os repassam aos consumidores em reajustes periódicos, o que, em casos de mudanças bruscas como a atual, resulta num descasamento brutal de caixa. 

A Uniper, uma das maiores empresas de energia elétrica da Alemanha, disse que pediu um aumento de € 4 bilhões numa linha de crédito emergencial de € 9 bilhões aprovada recentemente com o banco estatal KfW para assegurar sua liquidez de curto prazo.  A Wien Energie, líder na Áustria, disse que está tendo dificuldade para financiar suas operações e que está em conversas com o governo. 

Mexer no modelo de precificação do sistema elétrico é sempre uma tarefa complicada, dado que ele serve de base para investimentos na ampliação da capacidade de geração, que depende em grande medida da estabilidade no longo prazo. 

Mas a situação chegou a tal ponto que vem ganhando apoio de países como a Alemanha.

Uma das ideias em estudo é estabelecer um teto de preço para o gás utilizado no mercado de energia elétrica — proposta apoiada por Itália e Espanha. O assunto deve ser tratado numa reunião do bloco no próximo dia 9. 

Temores de racionamento

O bloco europeu vem trabalhando para acelerar a transição energética para fontes renováveis no médio prazo. 

“A era dos combustíveis fósseis russos está próxima do fim. Cada quilowatt-hora que a Europa gera de energia limpa nos torna menos dependentes de gás russo e, hoje em dia, o preço da energia solar e eólica é mais barato”, disse Ursula von der Leyen.

Mas, com a proximidade do inverno, começam a aumentar os temores de racionamento de gás e apagões no bloco, justamente no momento em que o gás é mais demandado para calefação.

E o presidente da Shell, Ben Van Beurden, tem uma visão menos otimista. Em evento na Noruega, ele alertou que a crise pode ser mais longa do que inicialmente se supunha – e que ela vai testar a solidariedade entre os países-membros da União Europeia. 

“Pode ser que tenhamos que enfrentar vários invernos em que tenhamos que encontrar soluções, por meio de eficiência, racionamento e uma construção muito rápida de alternativas”, afirmou esta semana num evento na Noruega. “Achar que passaremos por isso de forma fácil ou rápida é uma fantasia que devemos deixar de lado.”