As negociações para definir um tratado global de combate à poluição por plásticos terminaram nesta sexta-feira (15), em Genebra, sem acordo em torno de uma proposta final.
Seis rodadas de negociações na sede da Organização das Nações Unidas não foram suficientes para superar uma divisão entre dois grupos. Segundo a Bloomberg, a maioria dos países defendia um tratado que limitasse a produção de plásticos e estabelecesse restrições a determinados produtos químicos tóxicos.
Um grupo menor, liderado por países produtores de petróleo, como Arábia Saudita, Rússia, Irã, Malásia e Kuwait, defendia manter o foco do acordo na coleta de resíduos plásticos e na melhoria da reciclagem.
Na última rodada de negociações, os Estados Unidos mudaram de lado e se alinharam ao grupo liderado por países produtores de petróleo, declarando-se contrários a restrições a negócios e ao comércio, reportou a Bloomberg.
O tema ganha urgência à medida que a produção do plástico aumenta globalmente. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que a produção de plásticos dobrou entre 2000 e 2019, passando de 234 para 460 milhões de toneladas.
Sem políticas mais ambiciosas, a estimativa da OCDE é de que esse volume alcance 736 milhões de toneladas até 2040.
Representantes de 185 países participaram das discussões. O presidente do Comitê Intergovernamental de Negociação sobre Poluição Plástica, Luis Vayas Valdivieso, encerrou as discussões na manhã de hoje depois que delegados se opuseram a um texto que não tinham os requisitos obrigatórios, na opinião deles, como eliminar gradualmente produtos químicos nocivos, criar um fundo para custear limpeza e reparação e estabelecer limites à produção.
“Não atingir a meta que estabelecemos para nós mesmos pode trazer tristeza e frustração. Mas não deve gerar desânimo. Pelo contrário, deve nos motivar a recuperar energia, renovar compromissos e unir aspirações”, disse Valdivieso em comunicado.
A organização informou que as negociações serão retomadas em data ainda indefinida.
“Os países decidiram que era melhor sair sem tratado do que com um tratado fraco”, disse à Bloomberg Christina Dixon, líder da Environmental Investigation Agency, que acompanhou as conversas.
Um estudo publicado na revista Nature apontou que, dos cerca de 16 mil produtos químicos usados em plásticos, mais de um quarto é nocivo à saúde humana, enquanto a maioria nunca foi testada quanto à toxicidade.
“Nosso trabalho foi frustrado e estamos profundamente desapontados por não termos conseguido aprovar um tratado”, afirmou Emma Hardy, ministra de recursos hídricos do Reino Unido, para a Bloomberg.
Apesar do impasse, a União Europeia deve usar a última versão do texto como base para tentar um acordo mais forte. “Continuaremos a pressionar por um tratado vinculante e robusto, que proteja a saúde pública, preserve o meio ambiente e construa uma economia limpa, competitiva e circular”, afirmou, para a Bloomberg, Jessika Roswall, comissária de meio ambiente do bloco.