Reino Unido vai abrir novos poços de petróleo e gás

Medida faz parte de pacote bilionário para lidar com a crise energética causada pela guerra da Ucrânia

Plataforma de petróleo no Mar do Norte queima gás excedente
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Em meio a uma crise energética que ameaça punir ainda mais uma economia que já sofre com as consequências do Brexit, a nova primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, anunciou um pacote de medidas para conter um aumento sem precedentes nas contas de luz e gás dos britânicos.

Os preços pagos pelos consumidores residenciais serão congelados por dois anos, e os domicílios de menor renda terão um auxílio para manter suas casas aquecidas no inverno.

Além do socorro emergencial, o plano da líder do Partido Conservador inclui a volta da exploração de gás natural do subsolo e a concessão de dezenas de novas licenças para extrair petróleo no Mar do Norte.

Truss havia prometido durante a campanha “dobrar a aposta” no compromisso climático do país de atingir a neutralidade de emissões de gases do efeito estufa até 2050.

Mas o foco na independência energética significa a queima de mais combustíveis fósseis por um período prolongado, apontam os críticos.

Novos poços de óleo e gás não servirão para aliviar a crise de curto prazo, e os investimentos feitos agora terão de ser rentabilizado por muitos anos.

Igualmente, contratos de fornecimento de gás podem se estender por dez ou vinte anos, garantindo mais emissões de CO2 no futuro.

Na apresentação do pacote no Parlamento, Truss afirmou que tecnologias como “hidrogênio, captura de carbono, solar e eólica, na qual já somos líderes em geração offshore [em alto-mar]”, além de usinas nucleares de menor porte, serão aceleradas.

Questionada sobre o impacto das medidas nas metas climáticas britânicas, ela afirmou ter encomendado um relatório mostrando o caminho mais eficiente para que o país cumpra o que prometeu perante a comunidade internacional.

Quem vai pagar a conta?

O valor total da ajuda emergencial não é conhecido, pois ele está sujeito ao preço do gás natural, entre outras variáveis.

Mas as medidas de emergência devem custar aos cofres públicos muito mais que os 78 bilhões de libras, ou US$ 90 bilhões, do pacote de resgate econômico da pandemia.

“É hora de sermos ousados”, afirmou Truss. “Estamos diante de uma crise energética global, e não existem alternativas gratuitas.”

Em diversas intervenções os parlamentares de oposição levantaram um ponto que não está escapando à atenção dos britânicos: enquanto muitos terão de se endividar para pagar as contas de luz e gás, as empresas de energia estão lucrando como nunca.

O Tesouro britânico estima que as companhias do setor podem obter até 170 bilhões de libras em lucros excedentes nos próximos dois anos graças à disparada dos preços causada pelo corte de fornecimento de gás russo.

O cálculo toma como base o lucro esperado para as empresas em circunstâncias normais.

A oposição defende a criação de um windfall tax – um imposto sobre esses ganhos inesperados – para dividir o custo da atual crise.

Truss, que venceu a disputa interna do partido prometendo um governo baseado em estado mínimo como a melhor forma de atrair investimentos, rejeita a ideia.

Mudança climática

As consequências das escolhas feitas pelos britânicos podem ir muito além do orçamento ou o aumento nas contas de luz dos consumidores do país.

Destinar mais dinheiro para retirar combustíveis fósseis do fundo da terra é um “delírio”, disse recentemente o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.

Mas o novo ministro dos Negócios, Energia e Estratégia Industrial do Reino Unido, Jacob-Rees Mogg, está empoderado pela urgência da crise.

Numa entrevista em abril, ele afirmou que o país “deveria estar pensando em extrair até o último centímetro cúbico de gás no Mar do Norte”.

“2050 está muito longe”, afirmou ele, em relação à data-limite para o mundo atingir o net zero e evitar as consequências mais graves da mudança climática.