A Votorantim e o fundo de pensão canadense CPP já investem juntos em energia renovável no Brasil desde 2017 e são os controladores da Auren, empresa listada na B3 que reuniu ativos geração eólica e solar à antiga estatal paulista Cesp.
Agora, estão juntando esforços para replicar sua expertise em áreas mais emergentes da transição energética, com a criação da Floen.
A joint venture, com participação de 50% de cada um dos sócios, será um veículo de investimento em setores como hidrogênio verde, eficiência energética e gestão de carbono — de olho na oportunidade de tornar o Brasil um protagonista global em produtos verdes e soluções climáticas.
Com um olhar de longo prazo, a ideia é investir em negócios que tenham tecnologias comprovadas e podem escalar de forma exponencial.
“Cerca de 70% das tecnologias necessárias para descarbonização e transição energética já estão em estágio comercial. A dor é justamente o investimento numa fase em que a empresa já está funcionando, já testou e precisa escalar – ou seja, as tecnologias precisam ser barateadas e ganhar eficiência”, afirma a CEO da Floen, Raphaella Gomes.
A executiva veio da Raízen, onde fez carreira de mais de uma década e passou pelas áreas de inovação e transição energética.
Por lá, participou do processo de transformação para extrair o maior valor possível das plantas de etanol, com o avanço do biocombustível feito do bagaço da cana e aproveitamento energético dos resíduos na forma de biogás.
Votorantim e CPP não abrem os valores a serem investidos no negócio, mas sinalizam que ele deve ser relevante.
“Espero que a Floen seja um investimento muito representativo dentro do nosso portfólio”, diz João Schmidt, CEO da holding Votorantim, dona de negócios como a Votorantim Cimentos, o Banco BV, a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) e a Altre, da área imobiliária.
“Essa pode ser uma das nossas maiores investidas no Brasil e região”, reitera Ricardo Szlejf, head de infraestrutura e sustentabilidade da CPP para América Latina. O fundo de pensão tem US$ 10 bi investidos em infraestrutura e energia nesta geografia.
Setores prioritários
Operando oficialmente desde o começo de fevereiro, a Floen tem mapeadas 17 oportunidades de investimento “em diferentes fases de discussão”, segundo Gomes.
Entre setores prioritários, ela cita o de hidrogênio verde, sem dar previsão de quando devem sair os primeiros negócios.
“Esse é um bom exemplo do que estamos olhando. A tecnologia existe, o Brasil tem tudo para ser um protagonista, com energia limpa, e o desafio agora é dar escala”, diz a CEO.
Entre os segmentos na mira estão também eficiência energética e biocombustíveis, principalmente para setores de difícil descarbonização, como o de aviação, marítimo e a indústria de cimento.
Outra área avaliada é que a de gestão de carbono, que pode ir desde os serviços de inventário e redução de emissão para empresas, até créditos de carbono e fronteiras como a captura e armazenagem de gases de efeito estufa.
“Vamos entrar como investidores de longo prazo e com uma cabeça muito associativa, porque as soluções estão sendo construídas e a transição não vai acontecer da noite para o dia”, diz Schmidt, da Votorantim.
No portfólio da holding, há empresas que atuam nas duas pontas do processo de transição.
Há aquelas mais intensivas em carbono, como a Cimentos e a CBA, que estão em busca de uma jornada de descarbonização, e as que já oferecem soluções, como a Auren e a Reservas Votorantim, criada mais recentemente e que tenta monetizar as áreas de vegetação conservada espalhadas nas empresas do grupo.
“Todas nossas empresas estão olhando para essa questão de alguma forma. O que sentíamos falta era de um veículo que não estivesse trabalhando a partir de uma dor específica, mas olhando a transição de forma mais ampla”, afirma Schmidt.
Do lado da CPP, a união com a Votorantim será um veículo para replicar no Brasil uma tese que já adota em outros mercados.
Entre as transações mais recentes, em dezembro, o fundo aportou US$ 200 milhões na californiana Redaptive, que oferece serviços de eficiência energética para empresas, que vão desde iluminação de LED até economias em equipamentos industriais.
Negócios distintos
A criação de uma empresa de focada na transição energética já tinha sido sinalizada no fim de 2021, quando as duas sócias fundiram seus negócios de energia renovável e foram incorporadas pela Cesp, empresa listada da qual já eram controladoras, formando a Auren, avaliada hoje em R$ 14,5 bilhões na B3.
Atuando em áreas correlatas, Schmidt afasta a possibilidade de haver uma sobreposição ou um conflito de interesses entre o escopo da Floen (onde Votorantim e CPP são os únicos acionistas) e da Auren (no qual há sócios em bolsa).
“Esse negócio é diferente da Auren, o foco de atuação é mais amplo e o perfil de risco é mais flexível. Provavelmente vamos atuar em etapas anteriores da cadeia de valor dentro da transição energética”, afirma o CEO da Votorantim.