A fabricante de papel e celulose Suzano prepara a emissão externa de um ‘sustainability-linked bond’, um bicho diferente dos chamados ‘green bonds’. Trata-se de um mercado nascente e o papel vai figurar entre os primeiros emitidos no mundo e o primeiro da América Latina.
A oferta deve sair já nas próximas semanas. Tamanho, prazo e o pool de bancos que coordenará a emissão devem ser fechados nos próximos dias.
Enquanto os green bonds ou títulos verdes levantam recursos carimbados para financiar projetos específicos com vantagens ambientais, o dinheiro captado por meio de sustainability-linked bonds não tem destino certo. Mas as emissões são atreladas a objetivos gerais na área ambiental ou social ou de governança ou ainda uma combinação delas.
O título da Suzano que está no forno deve trazer especificamente metas ambientais. As possibilidades incluem sequestro de carbono, emissões de gases industriais, uso da água e até redução de resíduos e economia circular. Tida como referência em ESG no mercado local pelos investidores, a companhia assumiu novas metas ambientais recentemente, como retirar 40 milhões de toneladas de carbono da atmosfera até 2030.
Como é regra nos créditos ligados a sustentabilidade, haverá uma penalidade caso a companhia falhe em cumprir as metas assumidas no escopo da emissão: as taxas de juro subirão. É o chamado ‘step-up’ de taxas, já mais comum em empréstimos bancários com metas de sustentabilidade.
Em julho, a FS Energia fechou o primeiro empréstimo do tipo no Brasil, com o Santander – no caso, com possibilidade de redução de taxa. Foram R$ 180 milhões para capital de giro, com prazo de um ano, que pode ter o custo reduzido em até 0,15%, para CDI mais 6,65%, caso as metas sejam alcançadas.
Sem destino certo
Os sustainability-linked bonds são embalados em certa controvérsia justamente pelo fato de o dinheiro não ser carimbado para projetos. Na visão dos críticos, isso deixa a corda muito frouxa para as empresas seguirem no curso do ‘business as usual’ a partir do dinheiro captado com o apelo da sustentabilidade. As emissões, sob essa ótica, dariam margem ao greenwashing se as metas fixadas forem pouco expressivas.
Mas quem defende esse tipo de papel argumenta que nem todas as empresas têm projetos específicos a serem financiados e que, ainda assim, precisam fazer a transição de suas práticas ambientais e sociais para modelos sustentáveis. Esse tipo de papel conversaria ainda com a ideia de alinhar estrategicamente a empresa a objetivos sustentáveis, atrelando isso a consequências financeiras (taxas maiores ou menores), algo bastante tangível. Além disso, é mais um instrumento num cardápio de opções com vantagens socioambientais que podem ser complementares para as empresas.
Em junho, a International Capital Markets Association, a Anbima global, divulgou princípios que devem ser seguidos nas emissões de sustainability-linked bonds para, a partir da autorregulação, tentar aumentar o grau de confiança de emissores e investidores e criar um ambiente mais favorável para esse mercado.
Os princípios indicam as melhores práticas para a estrutura, como a adequada seleção dos indicadores de performance (KPIs), ressaltando a questão da materialidade para o negócio do emissor, a calibragem das metas, a transparência e o reporte das operações.
Até hoje se tem notícias de poucas emissões de sustainability-linked bonds, enquanto os empréstimos bancários do gênero são mais comuns. A emissão que ganhou mais destaque foi a da companhia estatal italiana de energia Enel, feita em outubro passado. A companhia alemã de engenharia Dürr também acessou esse mercado.
A operação da Enel foi de US$ 1,5 bilhão, com prazo de cinco anos e a meta atrelada de aumentar sua capacidade instalada de geração de energia limpa de 48% para 55% até 2021. Caso falhe em atingi-la, o cupom do papel (juro pago anualmente aos investidores) terá um aumento de 25 pontos base. A meta foi considerada suave — a companhia já havia assumido esse compromisso antes — e, além disso, os críticos apontaram que a empresa seguirá queimando carvão e gás natural em boa parte da sua geração durante muito tempo ainda.
Quem conhece os detalhes da operação da Suzano diz que as metas a serem anunciadas são bastante mais ambiciosas do que a que norteou a emissão da Enel.
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