O Reino Unido deverá se tornar em breve a primeira grande economia a exigir que grandes empresas e bancos revelem os riscos da mudança climática a que estão expostos, liderando o que rapidamente pode se tornar uma onda regulatória global.
Tal onda teria fortes impactos sobre os negócios no Brasil, ainda que o país continue a reboque quando se trata de reconhecer a relevância da crise climática em suas políticas de estado.
Na segunda-feira, Rishi Sunak, o chancellor of the Exchequer britânico, o equivalente a ministro das Finanças, anunciou a intenção de tornar as divulgações alinhadas ao TCFD obrigatórias em toda a economia até 2025, com uma parte significativa dos requisitos obrigatórios já em 2023.
O Task Force on Climate-related Financial Disclosures vem se consolidando como o padrão global para se medir, gerenciar e reportar os impactos das mudanças climáticas nos negócios. Toda a lógica por trás do TCFD é prover informação útil para a tomada de decisão dos investidores sobre como as empresas estão lidando com os riscos e as oportunidades climáticas.
Nos Estados Unidos a regulação deve avançar nesse sentido a partir da posse de Joe Biden na presidência, em janeiro do ano que vem. Enquanto muito se discute sobre os limites do novo presidente para aprovar planos climáticos ambiciosos que dependem de um Congresso dividido, a campanha de Biden indicou ao site Vox que existem ao menos dez medidas de caráter executivo que podem ser implementadas rapidamente.
Uma delas é justamente exigir que as empresas listadas em bolsa divulguem os riscos climáticos e as emissões de gases de efeito estufa em suas operações e cadeias de suprimentos.
Na Suíça, a legislação também deve ampliar a responsabilidade das empresas sobre os riscos ambientais em sua cadeia de valor. No próximo dia 29, a população suíça votará em referendo proposta de legislação sobre a responsabilidade de empresas suíças em relação a direitos humanos e proteção ambiental fora do país, em suas subsidiárias e fornecedores.
Conforme a regulação das principais economias aperte o cerco sobre suas empresas e bancos, isso afetará diretamente as companhias brasileiras com relações comerciais com esses países.
Ao terem que dar transparência aos riscos climáticos a que estão expostos em seus negócios, bancos em países tão distantes quanto o Reino Unido tenderão a cortar o crédito de grandes emissores de carbono para melhorar seu risco climático. Da mesma forma, as empresas britânicas tenderão a incluir dados de emissão de CO2 e outros aspectos ambientais como requisitos para contratação de fornecedores, gerando um efeito cascata por outras economias como a brasileira.
Se cada vez mais as empresas terão que se comprometer com cadeias de fornecimento responsáveis, algumas têm, inclusive, se antecipado à regulação. A Gerdau, por exemplo, está neste momento mapeando os impactos ambientais e sociais de sua cadeia de fornecimento e a ideia é que, no futuro, alguns desses fatores sejam determinantes para a contratação ou não de um fornecedor.
Em termos regulatórios, por aqui o Banco Central saiu na frente e anunciou em setembro que os bancos no Brasil deverão fazer o reporte climático no padrão TCFD de forma obrigatória a partir de 2022. O tema será colocado em consulta pública no início do próximo ano.
No mês passado, o TCFD divulgou um relatório que mostra que o apoio às suas recomendações disparou no ano passado, à medida que aumentou a demanda dos investidores por mais informações sobre como o aquecimento do planeta afetará os negócios. Mas o nível de detalhamento apresentado pelas empresas que adotam o TCFD ainda é pequeno.
(Crédito da foto: James Giddins/Unsplash)
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