A foodtech Nude acaba de levantar R$ 25 milhões numa captação liderada pela gestora de fundos de impacto Vox Capital, para levar seus substitutos lácteos à base de aveia mais longe.
Fundada há apenas um ano, a empresa foi avaliada em R$ 125 milhões para o aporte. Além de Vox, que colocou quase metade do cheque, participaram o fundo Lever VC, especializado em proteínas alternativas; a Ecoa Capital, gestora de Dario Guarita Neto e Ana Sarkovas voltada a impacto e ESG, a mexicana Angel Ventures e o fundo da Endeavor.
“Ter a Vox liderando a rodada é uma chancela à nossa bandeira da sustentabilidade”, diz Alexander Appel, cofundador e COO da Nude.
No primeiro ano de operação, a empresa produziu 500 mil litros de leite de aveia e chegou a 1.100 pontos de venda. A meta deste ano é chegar a 3,5 milhões de litros e ampliar não só o número de pontos, mas desbravar novos universos, como lojas de conveniência em postos de gasolina. “Grandes empresas estão em 10 mil pontos de venda”, pontua.
O dinheiro, diz Appel, é o suficiente para levar a empresa pelos próximos dois anos.
“Nosso foco será investir em time, produtos e construção de marca, bem focado em marketing, para criar o awareness que caminha junto com o crescimento”, diz Giovanna Meneghel, cofundadora e CEO da empresa – além de casada com Appel.
A visão da empresa é ser uma marca de substitutos lácteos de aveia – e apenas aveia – para a América Latina.
Mas a expansão internacional ficará para 2023 em diante. A exceção é a incursão no mercado uruguaio, que é pequeno, tem alto consumo de leite per capita e servirá como uma espécie de laboratório para a empresa.
Antes de partir para voos internacionais mais audaciosos, o objetivo é mesmo consolidar a marca no Brasil, ampliar a linha de produtos e, o que deve ser a fronteira mais difícil, tornar os preços dos produtos mais acessíveis.
Com seu leite de aveia em cinco versões (original, original com cálcio, baunilha, chocolate e barista), a empresa está na reta final para ir além do leite.
Em fevereiro deve lançar o seu creme de leite de aveia, um produto com apelo não só no varejo, mas também no setor de food service. O produto chega na embalagem individual e mais adiante deve ser lançado na versão de 1 litro para atender restaurantes.
Mais acessível
Marcos Olmos, sócio da Vox e responsável pelo investimento, diz enxergar possibilidade de crescimento da empresa tanto por expansão do consumo de substitutos lácteos à base de planta (hoje os leites vegetais respondem por menos de 2% do consumo de leite no Brasil), quanto pelo crescimento da Nude dentro das diversas categorias de produtos.
Mas hoje uma caixinha de Nude custa proibitivos R$ 17 a R$ 23, o que restringe seu consumo ao topo da pirâmide.
A empresa acredita ser possível, via investimento em pesquisas, com contratação de mais profissionais de P&D, encontrar novos microorganismos para fazer mais com a mesma matéria-prima e, com isso, derrubar o preço do produto.
“Mas se tornar mais acessível não significa abrir mão da qualidade ou da saudabilidade ou criar uma segunda marca mais barata. Não acreditamos nisso”, diz Appel.
Olmos, da Vox, diz que a redução do custo também virá do ganho de escala. “Hoje a empresa está na fronteira do ganho de escala em embalagem, logística e outros.”
Uma terceira frente depende menos de ações diretas da empresa: a tributação dos produtos.
O leite de vaca conta com benefício fiscal, e o mesmo tratamento tributário não vale para produtos à base de planta. “Hoje de 27 a 25% do preço final do produto é imposto em São Paulo, por exemplo”, diz Meneghel.
Segundo os empreendedores, a intenção é começar a se articular com outras empresas do segmento para tentar enquadrar os leites vegetais no mesmo tratamento tributário dos lácteos de base animal.
Impacto ambiental
O investimento na Nude marca a incursão da Vox em negócios com impacto ambiental e não apenas social, algo que vinha sendo prometido pelo fundo em termos de expansão da sua tese de impacto.
“A base da pirâmide social tende a sofrer mais com a mudança climática”, diz Olmos. “A Nude tem a grande vantagem de contar com fundadores que já pensam em impacto, que já se preocupam com o impacto da cadeia de fornecimento, com a embalagem e a logística”, diz ele, ressaltando o fato de desde a fundação a startup contar com uma diretora de sustentabilidade, Mariana Spignardi.
Entre outras ações, a empresa calcula a emissão de CO2 equivalente de cada caixinha de produto e faz a compensação com a compra de créditos de carbono.
Agora, diz Appel, parte do dinheiro da rodada será usada para dar um passo além. “Hoje a gente neutraliza as emissões via projetos de preservação florestal. Agora, a intenção é passar a comprar créditos de reflorestamento, que são mais caros, mas têm um impacto maior.” Além de compensar suas emissões, ações para reduzir a pegada de CO2 de sua cadeia, como projetos de agricultura regenerativa, também estão na agenda.