Um CRA de R$ 100 milhões para recuperar pastos na Amazônia

Fundo JBS é primeiro investidor; spinoff da Belterra, Rio Capim quer unir pecuária, agricultura e floresta em pequenas propriedades

Um CRA de R$ 100 milhões para recuperar pastos na Amazônia
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A startup Rio Capim Agrossilvipastoril, spinoff da Belterra Agroflorestas criada no ano passado para recuperar pastagens degradadas unindo pecuária, agricultura e florestas, anunciou a emissão de R$ 100 milhões em certificados de recebíveis do agronegócio (CRA).

A operação terá duas etapas. A primeira, de R$ 50 milhões, foi lançada nesta terça-feira. Por meio do Fundo JBS pela Amazônia, um veículo filantrópico, a gigante das proteínas animais adquiriu uma cota de R$ 10,2 milhões.

Outra tranche tem o mesmo valor, e uma terceira é de R$ 30 milhões. O plano é fazer uma emissão do mesmo tamanho em 2025. A operação foi estruturada pela Vox Capital, gestora de impacto que começou a atuar na originação de ativos.

A Rio Capim se concentra nos pequenos pecuaristas, uma vulnerabilidade da longa cadeia produtiva da carne. Com poucos recursos financeiros e técnicos, eles sofrem com baixa produtividade e representam um ponto cego nas tentativas de rastrear os animais do nascimento ao abate.

Consumidores, investidores e reguladores pressionam os frigoríficos a comprovar que seus produtos não estão associados ao desmatamento – incluindo os fornecedores indiretos.

“Somos parte do desafio da transição climática com foco no pequeno produtor, para que ele não seja excluído”, diz Valmir Ortega, sócio-fundador da empresa.

Sistema integrado

A atuação da empresa tem algumas frentes. Uma parte envolve o aprendizado da Belterra com as práticas agroflorestais para recuperação de áreas degradadas. O terceiro elemento desse sistema integrado é a pecuária.

A ideia é diversificar as fontes de receita. Além da colheita e dos animais, o plantio de árvores e a restauração da cobertura vegetal podem ser rentabilizados com a venda de créditos de carbono. E a melhoria na qualidade da nutrição do rebanho significa menos emissões de metano no “arroto do boi”.

O sistema foi pensado para lidar com os vários desafios de sustentabilidade da pecuária, diz Ortega. Mas nada disso para em pé se a equação financeira não for resolvida.

Na ponta, o negócio da Rio Capim funciona em sistema de parceria. A startup fornece os bezerros aos produtores, que ficam responsáveis pela fase de recria – período a partir do sétimo mês de vida – e recebem suporte técnico e veterinário para um manejo mais produtivo.

O negócio é atrativo porque o pequeno produtor é remunerado pelo ganho de peso de cada boi, que posteriormente será vendido para a etapa de engorda. Ortega estima que a renda média por hectare possa passar de cerca de R$ 150 para R$ 2.000 com a adoção do sistema integrado.

No momento, a Rio Capim está trabalhando com 25 produtores, todos do Estado do Pará. Nessa etapa inicial, estão sendo disponibilizados 1,2 mil bezerros.

A intenção é chegar a 150 famílias ainda neste ano, alcançando 250 produtores a partir do ano que vem, abarcando um número entre 10 mil e 12 mil bezerros. Em dez anos, a meta ambiciosa é alcançar 3,5 mil famílias.

Um dos desafios é aumentar o número de animais numa mesma área. “Queremos sair de meia ou uma cabeça de boi por hectare, o padrão da pequena e média propriedade na Amazônia, para três, quatro, até cinco”, afirma o fundador.

O CRA prevê a instalação de um comitê de risco e impacto, formado por Rio Capim, Vox Capital e um integrante independente para verificar os resultados dos projetos.

Parcerias

“A nossa ideia é chegar na COP30 entregando não uma proposta ou um projeto, mas resultados objetivos no chão, com todos os produtores”, diz Daniel Brandão, diretor de soluções baseadas na natureza da Vox Capital.

No ano passado, o fundo entrou com um aporte de R$ 10 milhões na empresa, que possibilitou o começo dos trabalhos da Rio Capim.

A startup é parceira do programa Juntos, do Fundo JBS, lançado em outubro do ano passado com o objetivo fazer com que os produtores migrem da fase de cria para recria do gado.

Apesar da associação e do investimento da multinacional no CRA, Ortega diz que não há uma relação obrigatória entre a companhia e a produção das cabeças de gado.

“Não há uma vinculação comercial que obrigue o produtor a vender o gado para a JBS”, diz Ortega.