Por que os gestores de ações têm papel crucial na ação climática

Empresas listadas respondem por ao menos 40% das emissões de gases do efeito estufa do planeta, diz gestora de Al Gore

Por que os gestores de ações têm papel crucial na ação climática
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As empresas listadas são responsáveis por ao menos 40% das emissões de gases de efeito estufa do planeta, segundo estimativa feita pela Generation Asset Management, gestora de impacto que tem como um dos principais sócios o ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ativista climático Al Gore. 

O percentual mostra o papel crucial que os investidores de bolsa têm a desempenhar para pressionar por ação climática, seja via engajamento seja via realocação de capital. 

“Conforme nos aproximamos da COP26, pressionar por ação nas companhias listadas será crucial para fechar a lacuna de ambições climáticas até 2030”, afirmam Felix Preston e John Ward, que assinam o relatório.

Alguns estudos já haviam compilado a extensão das emissões diretas (aquelas chamadas de escopo 1) de gases de efeito estufa das companhias com ações em bolsa — e apontavam para uma contribuição de cerca de 15% a 20% das emissões globais 

Os cálculos da Generation vão um passo além e consideram, ao menos em parte, as emissões de escopo 3. Associadas à cadeia de valor, essas emissões vão desde a compra da matéria-prima até o uso do produto pelo consumidor e em grande parte das indústrias representam a maior parte da contribuição para o aquecimento global. 

Os cálculos da asset mostram que o escopo 3 representa quase o dobro das emissões diretas, reforçando que o corte das emissões ao longo da cadeia de valor precisa ser uma prioridade tanto para as companhias quanto para os investidores.

Outra conclusão do estudo é que não adianta focar o engajamento apenas nas maiores emissores de carbono, estratégia que vem sendo adotada por muitos dos grandes investidores. 

“Nossa análise sugere que a importância coletiva de 10 mil empresas listadas globalmente tem sido subestimada. Com os incentivos corretos, essas companhias podem atacar as reduções de emissões de todos os ângulos e destravar potencial para inovação e colaboração.”

O racional por trás da conta

A Generation partiu de dados compilados pelo Carbon Disclosure Project (CDP) de escopo 1 com base nos inventários declarados pelas empresas e retirou companhias não listadas da conta. Depois, foram agregadas as informações disponíveis para os escopos 2 e 3. 

Os dados levam em conta as 9225 empresas que fazem parte do índice MSCI ACWI Investable Market Index (IMI), que inclui companhias de 23 mercados desenvolvidos e 27 mercados emergentes e corresponde a cerca de 99% do valor de mercado global. 

Segundo a gestora, a estimativa é conservadora e análises adicionais devem mostrar que as companhias listadas são responsáveis por uma fatia ainda maior.

Além das lacunas no reporte de dados relativos a emissões da cadeia de valor, uma das principais dificuldades de estimar o escopo 3 é a dupla contagem, afinal, a emissão de escopo 1 de uma empresa listada pode ser a emissão de escopo 3 de outra. 

Na prática, para ação climática, essa distinção por vezes pouco importa, já que “a responsabilidade pelas emissões deve ser compartilhada, mais que compartimentada”, nas palavras da própria gestora. 

Mas, para o rigor do cálculo, a Generation decidiu usar apenas os dados nos quais tinha alguma confiança. 

Os pesquisadores concentraram os esforços em dois grandes vetores de escopo 3: o uso de petróleo e a cadeia de valor da produção de alimentos. 

No caso do petróleo, a asset incluiu na conta o combustível produzido pelas grandes petroleiras e consumido por entidades não listadas, como o uso residencial e por PMEs. Na outra mão, adicionou o petróleo que é consumido por veículos fabricados por companhias listadas considerando apenas a fatia do total produzido por empresas não listadas. 

Já no caso de produção de alimentos e mudanças no uso da terra (devido à conversão de floresta para uso agrícola), a asset argumenta que a maior parte dos alimentos é produzida por pequenos produtores, ou cooperativas e empresas privadas — ainda que seja comercializada por grandes tradings e empresas de supermercados.

As atividades de financiamento e seguros para atividades intensivas em carbono por empresas financeiras listadas também ficaram de fora, devido à falta de dados de qualidade,  diz a asset.

“Focamos em produzir uma estimativa robusta e preferimos errar excluindo emissões cuja dupla contagem era muito difícil de ajustar”, afirmam os autores.