Os sete conselhos da Constellation para suas investidas

Em meio à crise, gestora inverte os papéis e dá alguma perspectiva às empresas das quais é sócia

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Em meio a uma crise sem precedentes, a Constellation decidiu inverter os papéis. 

Em vez de questionar, tentou dar alguma perspectiva às empresas das quais é sócia, a partir das centenas de reuniões que a equipe tem mantido ao longo das últimas semanas. 

Numa carta enviada às companhias do portfólio, reforçou seu compromisso de longo prazo e fez um apelo para que as empresas não sacrifiquem o horizonte mais amplo para satisfazer as demandas de investidores mais curto-prazistas.  

Evitar demissões quando possível, reduzindo a remuneração da alta gestão, se necessário, e manter o foco nas práticas ESG num momento em que fornecedores e consumidores estão fragilizados fazem parte das recomendações.

A gestora comandada por Florian Bartunek, que administra cerca de R$ 11 bilhões, costuma interagir frequentemente com as suas investidas, mas é a primeira vez que coordenou os pensamentos numa carta formal dirigida a todo o portfólio. Alguns investidores também receberam o material. 

A seguir, os sete conselhos, na íntegra (os grifos são nossos): 

1. A prioridade número um neste momento é garantir a saúde de seus profissionais e de seus familiares. O desgaste emocional está sendo grande para todos e estar realmente presente nestes momentos é fundamental. Seja transparente, mostre empatia e reitere o senso de missão da empresa e de cada um.

2. Todos empresários e investidores estão com dúvidas. Você não está sozinho. A visibilidade para o final do ano é muito baixa. Garantir a liquidez é fundamental. Todos sabemos que a economia estará bem mais fraca por conta do maior desemprego. Não acreditamos que tudo será diferente. Um produto ou serviço excelente a um preço justo sempre será demandado. As grandes necessidades dos consumidores continuarão as mesmas. Não ter visibilidade não significa se apavorar e tomar decisões impensadas.

3. As grandes crises tendem a acelerar grandes inovações. Tendências que já estavam acontecendo vão se acelerar. Temos visto empresas mais ágeis que outras em se adaptar ao e-commerce ou em criar ferramentas digitais. Somos entusiastas com a capacidade adaptativa e de inovação das empresas e empreendedores, porém a disrupção vai aumentar. Neste ponto podemos ajudar com exemplos práticos no Brasil e no exterior. 

4. Este é um momento interessante para repensar a estrutura de despesas. Mas lembre-se que gente é o maior ativo da sua companhia. Não queremos ser proselitistas, mas se recorde do tempo que levou para encontrar e depois treinar seus profissionais. Se puder não perca os high-potentials e não faça cortes “across the board”. Neste caso, a alta gestão deveria também sugerir redução de sua remuneração, nada mais justo. 

5. Em momentos difíceis como estes, marketing e práticas ESG parecem luxos. Obviamente para quem não está conseguindo fechar o caixa isto tende a ser verdade.

Acreditamos, porém, que as práticas ESG nunca foram tão importantes. Os consumidores, investidores e profissionais vão querer se relacionar mais ainda com empresas com boas práticas. Portanto, não esqueça de todos os seus stakeholders. A forma como você tratará seus fornecedores, clientes, meio-ambiente, colaboradores e a comunidade neste momento será lembrada por muito tempo. A antiga fórmula de “trate os outros como gostaria de ser tratado” nunca foi tão relevante.

6. Se puder, além da defesa pense no ataque olhando oportunidades neste momento. Aquela empresa que sempre pensou em adquirir, ou aquele profissional que sempre quis recrutar podem estar mais abertos a ouvirem propostas. O efeito no time será muito motivador. 

7. Mantenha o foco. Nestes momentos ficamos aflitos e queremos fazer algo. Ouça todos, mas resista a mudar muita coisa ou sobrecarregar seu time com novas demandas não importantes. Conselheiros tendem também a fazer muitos pedidos e dar muitas sugestões nestas horas. Mantenha a disciplina. 

Confira a íntegra da carta aqui.

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