Atualmente com R$ 28 bilhões sob gestão, a Dynamo é uma das gestoras de ações mais conceituadas do Brasil.
Com uma postura fundamentalista, o seu principal fundo tem superado com folga o Ibovespa desde a fundação em 1993 — quando falar de investimento de longo prazo em bolsa num Brasil (ainda mais) caótico parecia papo de maluco.
Em uma rara aparição pública feita hoje no Conferência Itaú Amazônia, o sócio-fundador Bruno Rudge deu um panorama de como a gestora, uma das pioneiras na defesa da governança no mercado de capitais brasileiro, está incorporando também os fatores sociais e ambientais em sua análise.
“Quanto mais tivermos executivos e acionistas pensando nesses temas [sociais e ambientais], maior será a saúde da companhia. E não apenas a saúde financeira, mas do relacionamento com o consumidor e as comunidades. E uma gestão de qualidade diminui bastante o risco de onde a gente está investindo”, disse Rudge, que afirma buscar um ‘olhar genuíno’ das empresas investidas sobre esses aspectos.
“As companhias que não estão dando bola vão ser, ao longo do tempo, atropeladas pela competição e a demanda da sociedade.”
A seguir, destacamos os principais pontos da apresentação, usando as palavras do próprio gestor:
Olhando para o longo prazo
A Dynamo começou suas atividades em 1993. Naquele momento falar de investimento de longo prazo era quase exótico. Fomos uma das primeiras gestoras independentes no Brasil e desde o início tínhamos muito claro na cabeça o que a gente gostaria de fazer e como a gente gostaria de fazer, que basicamente se resume a investir em ações no longo prazo, com uma análise fundamentalista dedicada a entender dos negócios e as vantagens competitivas de cada companhia onde a gente investe.
Enquanto a gente dá muito pouca atenção para as oscilações de preço de curto prazo, o nosso foco é sempre no esforço da análise, em compreender muito bem a qualidade e o valor dos negócios onde a gente está investindo — mais uma vez, olhando o horizonte de médio e longo prazo e não se preocupando com o curto prazo das companhias.
Acho que, no fundo, isso diz um pouco como a gente, desde o início da Dynamo, pensa em sustentabilidade dos negócios. A sustentabilidade dos negócios, de certa forma, sempre esteve presente um pouco na nossa forma de investir. Ou seja, de certa forma, para a gente sustentabilidade é o elemento central do nosso processo. Faz parte não só dos princípios de investimento, mas do nosso jeito de ser como investidor.
Naturalmente, esse é um processo que ao longo do tempo foi evoluindo. E eu acho que a gente continua aprendendo até hoje.
Fora da caixinha: do G para o E e o S
No início da Dynamo, posso me recordar muito claramente que nossa grande preocupação era muito ligada ao alinhamento de interesses dos investidores na, digamos assim, justiça distributiva no âmbito da sociedade — talvez o que as pessoas chamam hoje de governança corporativa. Na época, a gente nem sabia qual era o nome disso, mas de certa forma tínhamos uma grande atenção nesse ponto.
E hoje a gente compreende que o paradigma corporativo de perseguir crescimento com rentabilidade num ambiente extremamente competitivo trouxe consequências não intencionais para a sociedade, entre elas as externalidades ambientais e sociais.
E nós, da Dynamo, de um tempo para cá, começamos a desenvolver um olhar mais cuidadoso para este tipo de questão.
Tanto a questão das externalidades ambientais quanto das sociais passaram a ser um processo importante da nossa análise de investimento. É um critério entre vários outros que a gente incorpora nas análises, mas não no modo de itens a serem ticados ou ‘checking boxes’.
A gente sempre se preocupou em pensar sustentabilidade de uma forma muito ligada à qualidade e à saúde das companhias. Quanto mais tivermos executivos e acionistas pensando nesses temas, maior será a saúde da companhia — e não apenas a saúde financeira, mas do relacionamento com o consumidor e as comunidades –, e uma gestão de qualidade diminui bastante o risco de onde a gente está investindo.
Os executivos passam a reconhecer de fato que o risco de ignorar os parâmetros ainda são, vamos dizer, relativamente novos, mas cada vez mais importantes.
Nesse sentido, a gente vem tendo um enfoque mais qualitativo, o que chamamos internamente de ‘olhar genuíno’. Não são todas as companhias que têm um olhar genuíno para desenvolvimento sustentável. Muitas delas estão num processo de adaptação cultural, que acho que faz parte, é natural.
A gente separa as empresas aqui em alguns segmentos. Primeiro, tem as empresas que têm esse olhar genuíno, depois as companhias que estão no meio da transformação cultural e as companhias que não estão dando bola, que vão ser, ao longo do tempo, atropeladas pela competição e a demanda da sociedade.
(Crédito da foto: Krissana Porto/Unsplash)