Nos últimos meses, a sigla ESG parece finalmente ter saído do nicho e chegado ao debate dos gestores de recursos locais. Uma pesquisa feita pela área de análise de ações do Itaú com 58 gestoras, sendo 40 locais, mostra que não é só impressão.
“Entre os gestores de fundos locais, 70% disseram que estão olhando de forma séria agora para a integração de fatores ambientais, sociais e de governança”, diz o analista Daniel Sasson, que liderou o estudo. Segundo ele, o ESG entrou no foco com essa força nos últimos meses.
Como seria de se esperar, a equipe constatou que o chamado ‘buyside’ local está bastante atrasado em relação a mercados maduros, como Europa e Estados Unidos.
Quase 50% das casas estrangeiras consultadas disseram que a integração de fatores ESG tem importância alta ou muito alta nas suas decisões de investimento, contra apenas 25% das casas brasileiras. Mais de 40% das casas brasileiras disseram que essa relevância, hoje, é baixa ou muito baixa.
Enquanto 20% dos fundos locais ouvidos disseram não incorporar nenhum tipo de critério ESG, apenas 5% dos estrangeiros ignoram completamente os filtros.
Com base nos feedbacks qualitativos recebidos, entretanto, a percepção dos analistas é que essa distância tende a se fechar de forma relativamente rápida.
“Os fundos perceberam que, para além de estarem preocupados ou não [com questões ambientais e sociais], a quantidade de produtos dirigidos tem feito sucesso lá fora. E, se não for por idealismo, a mudança virá por vontade de aumentar captação nesse tipo de produto”, avalia Sasson.
Outro aspecto, diz, é que o cenário de taxas de juro estruturalmente baixas e a entrada consistente de pessoas físicas na bolsa está levando os gestores a repensar sua oferta de produtos e que, ao olhar para o que é feito fora do Brasil, tem sido natural incorporar as tendências mais recentes e relevantes – o ESG entre elas.
Além da diferente penetração do ESG quando se compara o mercado doméstico e o internacional, os analistas do Itaú também constataram que a forma de se aplicar os filtros também difere, mais uma vez refletindo o atraso do mercado brasileiro.
Entre os estrangeiros, 35% dizem usar modelos proprietários de análise ESG, enquanto 25% usam ratings de fornecedores. No Brasil, apenas 18% das gestoras dizem ter modelos próprios.
“No Brasil a integração está mais experimental, usando aspectos mais qualitativos. Poucas casas conseguem atribuir um preço aos fatores ESG em seus modelos. Algumas casas usam métricas financeiras, mas não chegam a atribuir valor para fatores de risco. Atribuem notas a cada um deles e têm uma nota consolidada para cada empresa”, diz o analista.
Mas algumas grandes casas de gestão independentes surpreenderam os analistas por estarem, no momento, desenvolvendo seus modelos proprietários para incluir o ESG no processo decisório.
Testando a água
O relatório intitulado “ESG — It’s time to step up the game” (ou “ESG — É hora de acelerar o jogo”), distribuído aos clientes, marca também um primeiro passo da equipe de pesquisa do Itaú BBA para tatear o mercado ESG.
Neste ano, o banco decidiu colocar cinco profissionais dedicados a pensar o assunto e começar a definir um posicionamento da área de pesquisa do chamado ‘sell side’, ou seja, a corretora, que vende ações a clientes do banco. Ainda não está decidido se os analistas setoriais ficarão também responsáveis pela análise ESG ou se uma equipe específica será criada.
O relatório liderado por Daniel Sasson, que é analista de mineração, siderurgia e papel e celulose, ainda não pode ser visto como um esforço institucional do Itaú BBA. Mas é um sinal de que o maior banco privado do país está se movendo nessa direção.
A ideia, diz ele, foi entender qual valor pode ser entregue a gestores de fundos cada vez mais interessados em conhecer e aplicar critérios ambientais, sociais e de governança em suas decisões de investimento.
O ‘E’, o ‘S’ e o ‘G’ em cada setor
Sasson incluiu perguntas específicas dos setores que cobre na consulta aos investidores e colheu percepções interessantes.
No setor de mineração, os aspectos ambiental e social surgiram como os pontos de atenção. Já em papel e celulose e siderurgia os investidores mencionaram como aspectos críticos a influência dos controladores e a independência do conselho de administração, ambos relacionados à governança corporativa.
“O recente rompimento de barragens de rejeitos no país explica a maior preocupação com a segurança das operações na indústria de mineração, enquanto muitos investidores mencionaram as discussões em andamento para encerrar os contratos de royalties na Klabin como um dos aspectos chave considerados em governança corporativa”, escreveram os analistas.
Entre seis empresas que fizeram parte da enquete com investidores, a fabricante de papel e celulose Suzano aparece como a melhor ranqueada em ESG, com Klabin e Gerdau na sequência.
Com avaliação mais negativa aparecem Vale, Usiminas e CSN.