MOV investe em startup que combate a evasão no ensino superior

Gestora de impacto aporta R$ 3 milhões na edtech Movva; mais da metade dos estudantes que entram na faculdade abandonam o curso antes de se formar

MOV investe em startup que combate a evasão no ensino superior
A A
A A

Apenas quatro de cada dez alunos que entram no ensino superior se formam no Brasil. O problema do abandono da escola é crônico, complexo e exige uma combinação de ações para que seja resolvido. As razões para a evasão escolar envolvem questões financeiras, defasagens educacionais e o sentimento de pertencimento à instituição. 

É neste último pilar que a Movva, startup fundada em 2012, trabalha. O negócio da empresa é ajudar as instituições de ensino a reter os alunos. A edtech acaba de receber R$ 3 milhões da MOV Investimentos, gestora de impacto pioneira que, há 12 anos, começou com recursos de fundadores da Natura. 

Este é o segundo investimento do fundo da casa totalmente focado na Amazônia, com R$ 55 milhões sob gestão. A estreia foi com a Symbiomics. “Temos a Amazônia urbana, onde vivem milhões de pessoas, e queríamos negócios que estão contribuindo para o desenvolvimento sustentável da região, pensando em educação e no futuro do trabalho”, diz Denis Nakahara, sócio da MOV.

A solução da startup é aplicada nacionalmente. Os recursos do aporte também ajudarão a empresa a desenvolver uma estratégia comercial voltada para a região, onde hoje atuam com cerca de 20 mil alunos.

A Movva nasceu como uma govtech, tipo de negócio que tenta melhorar a eficiência de governos e serviços públicos. Em 2019, a startup começou a atuar apenas com educação, e foi só no ano passado que voltou o foco para o ensino superior, em particular as escolas privadas.

Não foi à toa: quase 90% das instituições que oferecem educação superior no Brasil são privadas – cenário inverso ao dos primeiros anos de estudo. 

A proposta da Movva é prover um sistema de gestão que contribua para o sucesso do estudante. “Fazemos um diagnóstico completo do processo da instituição, do sistema de retenção e permanência dos alunos. Se a instituição está ou não preparada para lidar com esse problema. Depois, entendemos o perfil dos alunos e usamos a ciência comportamental para o engajamento com eles para evitar que a desistência aconteça”, diz o CEO Rafael Correa.

A fórmula tem apresentado resultados: entre seus clientes, o abandono dos cursos caiu em média 20% nos últimos cinco anos, de acordo com a empresa. 

No portfólio, estão os grupos Anima, dono da paulista Anhembi Morumbi e da catarinense Unisul, e Vitru, da paranaense UniCesumar, assim como a Faculdade Insted, do Centro-Oeste. Atualmente, o sistema da empresa atinge aproximadamente 100 mil alunos.

A MOV é a primeira gestora a apostar na startup, por meio da compra de debêntures conversíveis para ações – as taxas e o prazo não foram divulgados. A Movva ainda deve buscar outros R$ 3 milhões no mercado. 

O fundo de impacto vai acompanhar alguns indicadores, como o número de estudantes alcançados pela tecnologia Movva e a redução do índice de evasão nas instituições-parceiras – tanto de modo geral quanto na Amazônia Legal.

Entre os investidores-anjo da startup estão Jorge Paulo Lemann, dono da Ab InBev e sócio do 3G Capital, Laura Constantini, co-fundadora da Astella Investimentos, e Danilo Costa, fundador do Educbank.

Diagnóstico e previsão

Uma vez que o serviço é contratado pela instituição de ensino, a edtech realiza o diagnóstico da organização e das características dos alunos, e disponibiliza uma plataforma. 

“Nós entregamos um sistema com modelos que preveem quando determinado aluno pode abandonar, de acordo com seu perfil. Uma parte importante da nossa atuação é mostrar onde está o maior perigo de evasão para aquela instituição, onde estão perdendo dinheiro e como podem perder mais”, diz Correa.

As previsões são feitas com base em metadados da própria startup e das instituições de ensino. Dado o elevado índice de evasão, esses dados são gerados com uma alta frequência, o que permite alimentar as bases de informação e saber rapidamente quem está em risco de abandonar o curso, afirma Guilherme Lichand, professor-assistente na Universidade Stanford e co-fundador da Movva. 

“Entre a matrícula e o início das aulas, já há uma perda enorme de alunos”, diz Lichand, “Nós conseguimos atualizar nossos modelos muito rapidamente e entender esses sinais de evasão já bem cedo”. 

Na outra extremidade, a Movva trabalha para estabelecer uma melhor comunicação com os estudantes, entendendo suas demandas sobre a faculdade e lembrando dos benefícios a longo prazo daquela formação. Os disparos são feitos por mensagens SMS ou aplicativos como WhatsApp. 

Em um cliente, por exemplo, os alunos receberam a pergunta: “Você conhece seu coordenador de curso?” – e 60% deles responderam que não. A instituição então apresentou o coordenador e, no semestre seguinte, introduziu essa apresentação mais cedo, em tentativa de estreitar a relação com o corpo discente.

O custo da evasão

São mais de 2,2 mil instituições privadas que oferecem cursos de ensino superior. “Há casos em que a instituição não tem políticas, processos ou sistemas para retenção, o que resulta em uma evasão muito alta”, diz Correa. 

O retorno sobre investimento (ROI, na sigla em inglês) de quem assina a Movva é de 900%, em média, segundo a startup. O cálculo é feito com base na anuidade paga por cada aluno que foi mantido na instituição, em comparação com o previsto pelo histórico. “Se nós conseguimos evitar a evasão de mil alunos, por exemplo, calculamos quanto em mensalidades ao longo do próximo ano a instituição perderia.”

Há também uma redução no custo de aquisição de alunos, afirma Correa. As organizações gastam por volta de R$ 700 para atrair cada aluno, diz o CEO. Quando se evita a evasão de cada um deles, evita-se também o gasto para repor as cadeiras que ficariam vagas. 

Para além da apresentação dos dados em dashboard, a Movva apoia em sua interpretação para que a instituição possa adotar estratégias a partir de determinada observação. “O mercado de educação é muito competitivo e entendemos que instituições que usarem soluções como a nossa vão ter vantagens na atração e retenção dos estudantes.”