Alguns dos maiores gestores de fortunas do mundo acabam de deixar a Climate Action 100+, coalizão formada por mais de 700 grandes investidores para pressionar grandes emissores de gases de efeito estufa a descarbonizar suas operações.
Os americanos JP Morgan Asset e State Street anunciaram quase simultaneamente que vão deixar a iniciativa.
A debandada representa uma saída de quase US$ 14 trilhões em ativos do grupo – de acordo com a Bloomberg, a State Street administra US$ 4,1 trilhões e o JP Morgan, US$ 3,1 trilhões. Antes das baixas, o grupo somava US$ 68 trilhões em ativos sob gestão.
A maior gestora de recursos do mundo, a BlackRock, permanece na coalizão, mas informou que vai mudar sua forma de associação, redirecionando-a da matriz para uma subsidiária, a BlackRock International.
Outras gestoras americanas como Goldman Sachs, Invesco e Pimco ainda seguem na coalizão, de acordo com o jornal Financial Times.
A CA100+ é uma iniciativa voluntária. A ideia central do grupo é usar o peso dos grandes gestores de recursos para que corporações globais acelerem seus planos de descarbonização.
O foco da organização são 170 empresas, com valor de mercado somado de cerca de US$ 10,3 trilhões. As brasileiras JBS, Petrobras, Suzano e Vale fazem parte da lista.
As saídas recém-anunciadas possivelmente estão relacionadas a uma mudança de foco do grupo adotada no ano passado. Criado em 2017, o grupo endureceu sua postura ao entrar numa segunda fase.
Agora, a coalizão quer pressionar as empresas para reduzirem de fato suas emissões. Anteriormente, o foco estava na cobrança pela fixação de metas futuras de net zero e planos de descarbonização.
A State Street considerou essas novas determinações “inconsistentes” com a abordagem da gestora, de acordo com comunicado sobre sua saída do grupo.
A BlackRock seguiu em linha parecida, segundo o jornal Financial Times: disse que a nova determinação entra em conflito com as leis americanas de gestão de recursos.
Já o JP Morgan preferiu dizer que está se retirando por ter desenvolvido uma estrutura própria de gestão de riscos climáticos.
Mas também há um fator político por trás da debandada: a reação anti-ESG vinda dos republicanos nos Estados Unidos.
Logo após as gestoras terem anunciado a medida, o deputado republicano Jim Jordan, presidente do Comitê Judiciário da Câmara, disse que a decisão era “uma grande vitória”. “Esperamos que mais instituições financeiras sigam o exemplo ao abandonar ações ESG”, escreveu ele em um post no X (antigo Twitter).
Vários Estados americanos têm aprovado legislações para barrar, limitar ou boicotar medidas da agenda ESG. Já são pelo menos 18 com legislações do tipo, segundo dados da Bloomberg.
No Texas, por exemplo, uma lei aprovada em 2021 proibiu fundos de pensão e outras entidades de investimentos estaduais de fazer aportes em veículos administrados por gestoras consideradas “inimigas” das empresas do setor de combustíveis fósseis. O Estado é o maior produtor de petróleo dos Estados Unidos.
A perspectiva de uma volta de Donald Trump à Casa Branca também é apontada como uma das razões para a mudança de postura de empresas e instituições financeiras sobre assuntos climáticos.
Em vez de se expor a ataques com motivações políticas, muitas estão optando pelo “greenhushing”, algo como “ficar na moita”. O termo foi cunhado pela consultoria e desenvolvedora de projetos de créditos de carbono South Pole.
Ele era usado inicialmente para descrever companhias que evitavam dar publicidade a suas ações de descarbonização por medo de serem acusadas de greenwashing.
Agora, com o acirramento da polarização em ano de eleição presidencial, o greenhushing parece ter ganhado também uma dimensão política.