O CoVida20, iniciativa criada para oferecer crédito emergencial a micro e pequenas empresas de impacto em meio à pandemia, conseguiu levantar pouco mais de R$ 3 milhões em investimentos de pessoas físicas e jurídicas nos três primeiros meses da operação.
Na estrutura montada, os investidores escolhem em uma plataforma online as empresas para as quais querem emprestar. Os investidores de varejo foram os responsáveis por levantar 44,5% do total. O restante veio dos grandes aportes, com tíquete mínimo de R$ 100 mil.
Os recursos para financiar a folha de pagamento foram destinados a 40 negócios que passaram pelo filtro de impacto social das entidades que idealizaram o programa: Sistema B, Capitalismo Consciente, Din4mo e Trê. A análise de crédito é feita pela plataforma Mova, especializada em empréstimos diretos entre investidores e tomadores, o chamado peer-to-peer lending.
“O CoVida20 quebrou o paradigma de que não tem pequeno investidor para impacto. A tese foi provada”, diz Livia Junqueira, estrategista da Trê.
Os números estão longe de indicar que o investimento de impacto se tornou popular no varejo. Até aqui, apenas 180 pequenos investidores aderiram ao programa. Desses, 120 aplicaram menos de R$ 4 mil.
De qualquer forma, Junqueira acredita que o CoVida 20 colocou mais negócios, investidores e agentes no pool da Trê e até do próprio ecossistema de impacto.
Do total da base de investidores, 13 são mais endinheirados, com tíquete médio de R$ 130,6 mil.
Inicialmente, havia intenção de levantar até R$ 10 milhões dos investidores. Essa meta foi reduzida para R$ 7 milhões e ainda está distante de ser alcançada, mas a captação segue em aberto.
Para o valor pretendido pela 40 empresas que já foram apresentadas na plataforma, ainda há R$ 1,08 milhão a ser captado. Outros R$ 3 milhões demandados por essas e outras empresas serão colocados semanalmente na plataforma até o fim do ano.
Os organizadores acreditam que a iniciativa precisa ser mais divulgada para que se chegue a esses valores.
Teste de impacto
Um conjunto de 281 empresas se candidatou para receber os empréstimos, mas só 80 passaram pelos critérios que definem um negócio de impacto.
Junqueira cita o caso extremo de uma empresa que até apresentou uma narrativa de impacto, mas que na prática se limitava a reciclar o lixo do escritório. Teses que conectavam a simples geração de emprego ao impacto também foram comuns. A aplicação desse filtro explica a redução do volume de recursos pretendido pela iniciativa.
O CoVida20 foi montado numa estrutura de ‘blended finance’, em que o capital filantrópico entra na equação para absorver as primeiras perdas e reduzir o risco de inadimplência dos investidores.
Até agora, o fundo filantrópico que faz a gestão desses recursos captou R$ 800 mil. Os recursos vieram de doadores como Gerdau, Magalu e Instituto C&A. A intenção é chegar a R$ 1,27 milhão até o fim do programa.
O fundo foi estruturado para conseguir cobrir 25% do valor aplicado pelos pequenos investidores. Ou seja, haveria espaço para R$ 3,2 milhões dos aplicadores do varejo. Hoje essa carteira tem R$ 1,36 milhão e pode chegar a R$ 1,6 milhão, projeta a Trê.
Em tempos de Selic a 2% ao ano, a remuneração de 0,5% ao mês é para lá de atrativa, mas o risco não está claro e depende da capacidade das empresas escolhidas de honrar os pagamentos. Uma recomendação dos organizadores para mitigar o risco é que os investidores dividam o valor aplicado entre vários negócios.
A Trê e a Mova não fazem uma estimativa de inadimplência. “É esperado que os negócios possam enfrentar desafios ao longo do caminho, e por isso contamos com vários mitigadores de risco para evitar uma perda de crédito”, explica Junqueira.
Cerca de 30 negócios ainda estão sendo avaliados e poderão captar recursos na plataforma. O plano é estender o CoVida 20 até o final deste ano. “Depois disso o contexto da pandemia muda e o desafio das empresas deixa de ser a folha de pagamentos, que é o recorte da iniciativa.”
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