Investidor ativista coloca em xeque sustentabilidade da Unilever

Nelson Peltz, que faz críticas contundentes à estratégia da gigante de bens de consumo, conquista cadeira no conselho de administração

Investidor ativista coloca em xeque sustentabilidade da Unilever
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O investidor ativista Nelson Peltz terá uma cadeira no conselho de administração da Unilever, um movimento que pode colocar em questão as credenciais de símbolo do capitalismo de stakeholder detidas pela gigante dos bens de consumo.

O Trian Fund Management, de Peltz, acumulou uma participação de 1,5% na empresa, dona de marcas globais e icônicas como os sabonetes Dove e a maionese Hellmann’s.

Como outros investidores, o bilionário argumenta que a Unilever está desperdiçando um “potencial significativo” de crescimento. Nos últimos cinco anos, rivais como Nestlé e Procter & Gamble deram retornos anuais duas vezes maiores, incluindo dividendos – em parte porque foram pressionadas por ativistas, incluindo o próprio Peltz.

Ele já passou pelos conselhos de Procter & Gamble, Heinz e Mondelez.

Com a quarta maior posição individual na Unilever, Peltz assumirá seu lugar no board da empresa em 20 de julho.

O investidor é apontado como um dos motores por trás da transformação da P&G. “Ele estimulou mudanças na cultura, na remuneração e na estrutura organizacional”, afirmou um analista ao Financial Times.

Os três temas estão na agenda do ativista para a Unilever. Mas ela deve incluir um quarto: o foco na sustentabilidade.

Em janeiro, quando foi revelado o interesse de Peltz na companhia, outro importante acionista, o britânico Terry Smith, resumiu a frustração com uma frase memorável.

“Na nossa opinião, uma empresa que acha que tem de definir o propósito da maionese Hellmann’s claramente está perdida”, escreveu ele em sua carta anual aos investidores.

Smith estava fazendo referência a um comentário de dois anos e meio atrás por Alan Jope, então recém-chegado ao cargo de CEO. Ele havia prometido uma declaração de propósito para cada um das centenas de marcas da companhia.

Por trás do comentário mordaz de Smith, certamente pensado para conseguir repercussão máxima na era dass redes sociais, está um questionamento legítimo feito por muitos investidores: e se o foco na sustentabilidade estiver atrapalhando mais que ajudando?

Há pouco mais de um ano, Emmanuel Faber perdeu o emprego de chefe da Danone porque os acionistas concluíram que ele estava preocupado demais com os temas ESG e de menos com o rumo do negócio.

Jope sucedeu na Unilever o holandês Paul Polman, talvez o executivo que mais simbolize o capitalismo de stakeholder. Apesar do compromisso de dar seguimento à filosofia de gestão do antecessor, ele se viu diante de um negócio em desaceleração.

Uma das principais críticas de Peltz diz respeito à gestão das marcas. A companhia deveria, em sua visão, considerar vender ou fazer um spinoff de negócios como Hellmann’s e os sorvetes Ben & Jerry’s e buscar categorias que cresçam mais rápido.

Também se espera que o investidor ativista sugira uma cisão mais profunda da companhia, que atua em 190 países e atinge 3,4 bilhões de consumidores. Dividir uma companhia desse porte em unidades menores poderia levar a uma gestão mais eficiente, afirmam alguns analistas.

Nelson Peltz e a Unilever divulgaram um comunicado conjunto reafirmando o compromisso com a sustentabilidade – mas parece inevitável que essa chacoalhada na companhia tenha reflexos na agenda ESG corporativa. O mundo vai observar de perto o desenrolar dessa história.