Um ano e meio depois de surgir no universo das fintechs com a proposta de colocar o impacto à frente do lucro, o Impact Bank acaba de fazer uma primeira rodada de captação de recursos para encorpar seu negócio e vai lançar uma plataforma de investimentos que pretende oferecer produtos para quem quer alinhar capital e valores.
“A plataforma de investimentos veio da demanda de clientes que estavam satisfeitos com nossa proposta, mas queriam que seu dinheiro fosse aplicado em ativos que não causem danos à sociedade e ao meio-ambiente. Muitas vezes, o dinheiro está apoiando coisas que vão contra o que você acredita”, diz Gabriel Ribenboim, CEO do Impact Bank.
Os clientes típicos do Impact Bank são ONGs, negócios de impacto social e pessoas físicas conectadas a esses ecossistemas, especialmente na Amazônia, que concentra 60% das 15 mil contas existentes hoje.
A plataforma de investimentos usa a estrutura da corretora Órama, num sistema “white label”, e entrou no ar agora em agosto para sócios, investidores e instituições próximas do banco – até o fim do mês a captação deve chegar a R$ 5 milhões.
A ideia é fazer uma divulgação mais ampla nos próximos meses. Atualmente, os depósitos nas contas da fintech estão em torno de R$ 4 milhões. Mas esse é um recurso de curto prazo, transacional, que entra e sai rapidamente.
Segundo o CEO, o mapeamento dos valores aplicados pelos clientes em outras instituições mostra um potencial para expandir a cifra. “Só uma organização está trazendo R$ 2,8 milhões agora que temos opções de investimento.”
Buscando impacto
A equipe do próprio Impact Bank analisa e seleciona os fundos e demais ativos que podem ser ofertados na plataforma, considerando alguns critérios.
“Olhamos qual a principal tese do fundo e se isso está associado a ativos que fomentam o consumo de combustíveis fósseis, financiam a agricultura em larga escala, fomentam o desmatamento ou, ainda, se são ligados à mineração”, diz Ribenboim, citando alguns dos critérios de exclusão.
Outro filtro usado é buscar ativos que procuram resolver problemas ambientais ou sociais. “Além disso, também olhamos para as gestoras, quais estão se posicionando e de fato escolhem seus ativos alinhados a uma mudança sistêmica.”
O pequeno número de fundos disponíveis na largada traduz a dificuldade de encontrar opções de investimento no mercado local que vão além do rótulo e de fato estejam conectados a esses princípios, especialmente para o público de varejo.
De um total de 900 fundos na plataforma da Órama, 18 se autointitulam ESG ou de impacto. Dentro desse universo, o Impact Bank selecionou apenas seis.
Na categoria de fundos de renda fixa estão o Empírica Vox Impacto e o SulAmérica Crédito ESG e em ações estão o Fama Ações e o JGP ESG. Em previdência privada estão o Trígono Icatu 100 FIA Prev e o JGP Ações ESG 100 Prev Icatu Seguros.
Em breve a plataforma também ofertará um fundo de renda fixa ‘com viés de impacto’ recém lançado pela gestora Vox.
“Estamos longe de alcançar o estado da arte em termos de fundos e ativos financeiros que de fato financiam soluções para os principais problemas”, diz Ribenboim.
Por essa razão, diz, o banco pretende cada vez mais trabalhar na originação desses ativos. Ou seja, atuar na ponta do crédito para negócios de impacto e empacotar essas operações para trazê-las para o mercado.
A fintech também está em conversas com algumas plataformas de investimento coletivo, tanto de ações quanto de dívida, para plugá-las ao seu supermercado financeiro.
Captação e salto tecnológico
Em abril a fintech concluiu uma rodada de captação ponte, antes de partir para uma série A, no valor de R$ 10 milhões. Parte dos recursos veio de um fundo da inglesa Be The Earth, organização híbrida que combina investimentos que visam lucro e filantropia, e parte veio de um fundo francês cujo nome não é revelado.
Os recursos estão sendo usados principalmente num salto tecnológico do Impact Bank, com um novo aplicativo e uma nova plataforma bancária. Em vez das contas de pagamento, os clientes passarão a ter contas correntes com todas as funções dos demais bancos, inclusive o PIX (hoje há limitações no uso do PIX pelos clientes).
Segundo o executivo, nesses quase dois anos de operação ficou evidente que um dos obstáculos ao crescimento é de ordem tecnológica, especialmente fora do universo dos clientes ‘raiz’, aqueles não ligados a ONGs e negócios de impacto. “As pessoas que são sensíveis a impacto só vão migrar se entenderem que podem ter aqui tudo o que têm em outros lugares.”
Essa versão 2.0 da conta e do app deve ser lançada em novembro, quando a fintech espera começar a colocar para dentro de casa cerca de 30 mil clientes que hoje estão em fila de espera.
A fintech também trabalha para começar a oferecer cartões de crédito. Hoje os clientes recebem apenas um cartão pré-pago com a bandeira Mastercard.
Quando o cartão de crédito virar uma realidade, Ribenboim diz que será a hora de partir para uma rodada série A para reforçar a estrutura de capital, algo que ele espera para 2024.
Blended finance
Enquanto operações de crédito convencionais ainda não são uma realidade, o Impact Bank se prepara para canalizar recursos por meio de estruturas mais heterodoxas.
Um programa de blended finance batizado de ‘food and forest’, que também deve estrear em novembro, está reunindo R$ 40 milhões em recursos filantrópicos e de investidores privados para operar empréstimos para ONGs e negócios de impacto que estão nos biomas da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica.
“Nesse primeiro ciclo conseguimos entender que nossos desafios estão em dois blocos: destravar capital e fazer fluir para agentes que estão nos territórios.”
Um produto crucial tem sido o de câmbio, para trazer doações do exterior e também apoiar a exportação de produtos dos biomas brasileiros. Só neste ano já foram transacionados R$ 12 milhões. “Nossa visão é sermos o principal hub para trazer esses recursos de fora.”