Em fundo ESG da Plural, empresa que não retém funcionário não entra

Em fundo ESG da Plural, empresa que não retém funcionário não entra
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A maior parte dos fundos ESG tem algum tipo de filtro negativo, que veta o investimento em setores notadamente controversos, como armas, petróleo e mineração. 

Mas um fundo de crédito da Plural, lançado no fim do ano passado, inclui nessa etapa da sua análise um balizador ainda pouco usado: empresas com rotatividade de funcionários superior a 30% por ano não entram na carteira — com exceção de varejo e locação de carros, que pela natureza do negócio têm turnover alto. 

Esse é o filtro que mais tem restringido o universo de investimento, mas a asset considera um diferencial. “Normalmente, o mercado olha o alinhamento dos principais executivos, mas todo o funcionário importa. E se a empresa não consegue reter seus funcionários, isso pode ser sinal de algum problema de gestão”, diz Gabriel Fidalgo, responsável pela análise ESG da Plural Asset. 

Desde que assumiu a função, que se soma ao trabalho de análise tradicional na área de crédito, sua rotina profissional ganhou contornos inusitados.

Para cada empresa que analisa — e até agora já foram quase 40 — Fidalgo tem gasto de oito a 15 horas em frente ao computador em busca de controvérsias nas frentes ambiental, social e de governança.

É um trabalho exaustivo de digitar combinações de termos relacionados a 11 quesitos considerados na avaliação, como mudanças climáticas, gestão de resíduos, relacionamento com fornecedores ou remuneração de executivos.

“É trabalho de formiguinha mesmo. E sei que estou fazendo meu trabalho direito na hora em que o Google me pergunta se sou um robô”, brinca.

São três os objetivos: saber se houve controvérsias relevantes nos últimos dez anos, se houve recorrência do problema nos últimos cinco anos e, por fim, qual foi a qualidade da resposta da empresa no momento de crise.

Foi nessa etapa, por exemplo, que em dezembro passado a Natura recebeu uma penalidade em sua avaliação ESG por conta da resposta que deu diante de questionamentos de que teria investido na startup Singu porque a empresa estava em dificuldades e tinha entre seus mais de 30 investidores Matheus Farah Leal, enteado de Guilherme Leal, um dos controladores da Natura. Na ocasião, a empresa emitiu uma nota pouco esclarecedora.

A resposta da Natura, diz Fidalgo, foi fraca. “Logo a Natura, que é um nome óbvio para qualquer fundo ESG.” A penalidade por conta do episódio, entretanto, não foi suficiente para tirar da fabricante de cosméticos um dos maiores escores atribuídos pela gestora.

Um dos setores com mais controvérsias, diz, é o de açúcar e álcool. “A pesquisa mostra muitos problemas trabalhistas. Por isso não colocamos Cosan na carteira, por exemplo, por causa de Raízen.” Também do grupo Cosan, a Rumo, da área logística, passou pelo crivo e entrou na carteira, embora com uma ressalva ainda em governança. 

Abrindo a cozinha

Enquanto a maioria das casas de gestão de fundos começou a trilhar o caminho da integração ESG pela área de ações, na Plural Asset a escolha recaiu sobre a área de dívida. 

O fundo de crédito privado ESG acaba de publicar a primeira carta trimestral, detalhando a metodologia — desenvolvida com a Sitawi –, toda a carteira e a avaliação ESG de cada ativo, num grau de abertura ainda pouco visto no mercado local.

O fundo comprou títulos de dívida de 20 empresas, como AES Brasil, Algar, B3, Copel, Irani, Lojas Americanas, Movida, Sabesp e Telefonica. Todas com rating nos dois maiores níveis na escala de cinco graus, que vai de ‘crítico’ a ‘superior’.

No relatório, a casa ressalta que a maioria foi bem avaliada em governança, embora os quesitos ‘remuneração de executivos’ e ‘qualidade de gestão’, que inclui visão ESG e diversidade, tenham apresentado pior desempenho. Na frente ambiental, o grande problema tem sido a falta de informações sobre a gestão de resíduos e efluentes. 

Mas é no aspecto social que a Plural identifica o maior gap.

“As questões sociais são onde vemos o maior desafio para as empresas, dado que sempre foi uma área menos acompanhada pelos investidores”, escreve a equipe no relatório. Em especial, sinalizam, merecem maior cuidado o relacionamento com comunidades e com clientes, além de recursos humanos. 

Além de avaliar o desempenho em cada uma das letras que compõem o ESG, na composição do rating a gestora adiciona ainda uma dimensão de impacto positivo. Aqui, a ideia é dar uma turbinada na nota de empresas que contribuem positivamente com a sociedade ou o meio ambiente, atuando em áreas como geração de energia renovável, construção para classes C, D e E ou atuação em microcrédito.

Conselho de notáveis 

O fundo conta ainda com um conselho de três notáveis para ajudar os gestores a se aprofundar em cada uma das dimensões do ESG. Embora não tenha poder de decisão ou veto, o conselho tem sido decisivo. 

Para dar conta do ‘E’, por exemplo, o conselheiro é o cientista Carlos Nobre, referência nos estudos sobre aquecimento global. Partiu dele a contribuição que levou à exclusão dos títulos da Comgás, de distribuição de gás natural, logo nas primeiras semanas de vida do fundo.

“Eu particularmente gosto muito de Comgás. Mas o professor questionou o quanto se deve investir em gás natural [num cenário de transição energética], quando os investimentos deveriam ser em geração distribuída, por exemplo. Levamos a questão ao comitê de investimentos e no dia seguinte tiramos a posição da carteira.” 

Depois disso, o setor de gás natural passou a constar de uma espécie de lista de atenção do fundo, embora não esteja formalmente excluído. Outra que está na lista à espera de resultados mais claros do setor, por recomendação de Nobre, é a pecuária.

Completam o conselho a consultora em governança Cristiana Pereira e Alice Kuerten, que dirige o Instituto Guga Kuerten.

O trabalho de engajamento com as investidas está apenas começando. Recentemente uma empresa foi riscada do universo investível depois que a área de relações com investidores ignorou um pedido de informações. “Considero um exemplo de como a empresa lida com seus stakeholders.”

Em tempo: O fundo tem aplicação mínima de R$ 10, cobra taxa de administração de 0,75% e taxa de performance de 20% sobre o retorno que exceder o CDI. Está disponível na plataforma da Genial, do mesmo grupo da Plural Asset, e também em Guide, Modal, Necton, Vitreo, Nova Futura, Andbank e BTG Digital (neste último, só para empresas). 

Até agora captou R$ 15 milhões de quase 800 cotistas.

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