Com medo de Trump, investidores fogem de fundos de carros elétricos

Resgates nos primeiros sete meses do ano já superam o total registrado no ano passado; candidato republicano faz ataques constantes à eletrificação

Silhueta do presidente Donald Trump diante de bandeira dos Estados Unidos
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Investidores estão sacando recursos de fundos que investem em carros elétricos, receosos de que uma eventual eleição de Donald Trump represente um desafio adicional aos ganhos do setor. 

Esses fundos registraram saída líquida de US$ 1,6 bilhão entre 1º de janeiro e 31 de julho, de acordo com a empresa de dados EPFR Global. O volume já supera o total de resgates visto em todo o ano de 2023, depois de um 2022 com saldo positivo. 

“Os fundos de carros elétricos se tornaram um negócio anti-Trump”, disse Vicki Chi, gerente de portfólio da gestora holandesa Robeco em Hong Kong, à Bloomberg. “Apesar de vermos cada vez mais elétricos nas ruas, poucas empresas estão ganhando dinheiro e têm uma perspectiva de expandir as margens.”

Se retornar ao cargo de presidente, Trump prometeu abandonar algumas políticas existentes que beneficiam os carros elétricos e aumentar para até 200% as tarifas sobre importações de veículos elétricos chineses. 

Isso aumentou as preocupações sobre uma desaceleração no crescimento das vendas do setor, fazendo com que investidores e fabricantes reavaliem suas perspectivas.

Em relatório recente, analistas do JPMorgan Chase alertaram para o risco de revogação dos créditos fiscais ao setor dado pela Lei de Redução da Inflação e também do financiamento federal para veículos elétricos e infraestrutura relacionada. 

Em um jogo de morde e assopra, Trump critica as políticas verdes de Joe Biden apesar da amizade e do apoio do CEO da Tesla, Elon Musk. “Eles não vão longe [não têm autonomia], custam caro e são todos feitos na China — fora isso, são fantásticos”, disse Trump na semana passada em um comício em Atlanta. “E sou a favor de carros elétricos. Tenho que ser porque, você sabe, Elon me apoiou muito.”

O candidato republicano argumenta que eles são uma “pequena fatia” do mercado quando comparados aos veículos movidos a gasolina e híbridos.

No mês passado, a Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett, reduziu ainda mais sua participação na chinesa BYD, que compete com a Tesla como a maior fabricante de automóveis elétricos do mundo. Sua fatia caiu para menos de 5%, ante mais de 20% há dois anos.

As montadoras chinesas pagam impostos adicionais nos EUA e na União Europeia, o que ameaça a expansão global em meio a uma feroz guerra de preços no país que está corroendo a lucratividade das empresas.

As vendas de veículos elétricos, incluindo híbridos plug-in, devem aumentar de 13,9 milhões em 2023 para mais de 30 milhões em 2027, de acordo com estimativa da consultoria BloombergNEF.

A previsão pressupõe esforços globais para atingir emissões zero de carbono apenas com tecnologias hoje economicamente viáveis. Nessa trajetória, o crescimento médio anual das vendas diminuiria para 21% até 2027, em comparação com 61% entre 2020 e 2023.