O Banco do Brasil está fazendo sua entrada no mundo cripto, com um investimento na Bitfy, startup brasileira especializada em infraestrutura de blockchain.
O aporte, de valor não revelado, foi feito pelo fundo de venture capital de impacto que tem o banco como único investidor e é gerido pela Vox Capital.
“O mundo das finanças descentralizadas permite que produtos que hoje são mais caros e inacessíveis cheguem ao alcance de uma parte maior da população”, afirma Marcos Olmos, sócio e gestor da Vox Capital. “Esse investimento tem a ver com inclusão e permitir que o braço do Banco do Brasil chegue mais longe.”
Ele cita como exemplo hipotético um pequeno produtor rural que hoje não consegue dar sua safra como garantia para obter um financiamento mais barato por conta dos custos de transação envolvidos. Com tecnologias como tokenização, viabilizada via blockchain, operações como essa passam a fazer sentido econômico.
“Há diversas aplicações possíveis, tanto para produtos como crédito e pagamentos, até avaliação de ativos ambientais e rastreabilidade”, diz Olmos.
Fundada em 2017 pelo desenvolvedor Lucas Schoch, a Bitfy nasceu como uma carteira de criptomoedas, mas com um diferencial relevante: toda a infraestrutura subjacente, que inclui as camadas mais básicas do blockchain e de criptografia, foram desenvolvidas dentro de casa.
Normalmente, as empresas que vendem criptoativos desenvolvem apenas a camada do serviço e contam com fornecedores terceirizados, de fora do país, para a infraestrutura.
“Sempre tivemos uma preocupação muito grande com a segurança e a transparência, por isso desenvolvemos tudo do zero”, diz Schoch.
Esse processo levou três anos e o app foi lançado apenas em 2020 — mas segundo o fundador, a Bitfy é a única empresa de cripto da América Latina que tem toda a infraestrutura verticalizada.
Com essa espinha dorsal construída, neste ano, a Bitfy mudou o foco, passando dos serviços voltados para o consumidor para um modelo B2B, fornecendo serviços de infraestrutura para grandes empresas.
Sem citar nomes por razões contratuais, ele afirma que hoje já tem uma carteira de 25 clientes.
“O que a gente se propõe a fazer, seja para grandes instituições no setor financeiro ou outros setores, é desmistificar a capacidade que o blockchain e essas novas tecnologias têm, criando uma infraestrutura mais simples e muito robusta para que elas possam construir as aplicações”, diz Schoch.
O Banco do Brasil não terá contrato de exclusividade com a Bitfy, que poderá trabalhar com outros clientes do setor financeiro. De acordo com o fundador da startup, já existem diversas conversas para provas de conceito de novos produtos com o banco.
A Bitfy já tinha levantado US$ 2,4 milhões de capital semente no fim do ano passado, numa rodada liderada pela Borderless Capital, uma gestora americana especializada em blockchain. Na ocasião, a Algorand, que desenvolveu a criptomoeda algo, e a Dash Investment Foundation, dona do token DASH, também investiram.
As empresas não abrem valores de investimento, nem de avaliação da startup, mas segundo Schoch, não houve redução do valuation, a despeito do derretimento mais recente dos ativos ligados ao mundo cripto. Na rodada seed, a startup tinha sido avaliada em US$ 22,5 milhões, ou cerca de R$ 110 milhões a valores atuais.
Esse foi o primeiro aporte do fundo de impacto do Banco do Brasil gerido pela Vox. O veículo tem como foco a inclusão financeira, mira fintechs, agtechs e govtechs e deve contar com cerca de 15 empresas.
O banco não revela o tamanho específico deste fundo, mas junto com outro veículo de corporate venture capital lançado na mesma época, há cerca de R$ 200 milhões sob gestão.