Que a humanidade vive num ritmo muito além dos limites dos recursos do planeta já é motivo de alerta de cientistas e ambientalistas há décadas. Agora, o recado chega de Wall Street.
“The world is not enough”, crava o Bank of America num relatório de 135 páginas distribuído hoje a clientes e que pinta um quadro de fim de mundo para as próximas décadas – do qual James Bond nenhum será capaz de nos salvar: “Desde 1970 a extração global de recursos mais do que triplicou, 99% de tudo que colhemos, mineramos ou processamos vira lixo em seis meses, mas a parcela de reciclagem é 10 vezes menor do que a mineração.”
E prossegue: “Precisaremos de duas vezes os recursos da Terra para acompanhar a taxa de uso atual até 2030. Hoje menos de 1% da água do planeta é própria para uso humano e podemos ficar sem água doce até 2040. Além disso, metais importantes como lítio e níquel podem atingir déficit em 2024 e poderíamos atingir o pico de fósforo em 2030, o que agravaria a escassez de alimentos”.
O banco aponta na direção do agravamento do abismo social no processo: “O descompasso entre oferta e demanda pode levar a um crescimento insustentável e um aumento permanente da desigualdade à medida que os preços aumentam, tornando os recursos menos acessíveis para os menos abastados”.
Se não é novidade para os iniciados no tema dos limites planetários, o calhamaço tem o mérito de reunir dados que costumam estar dispersos e se dirigir a um público que tem o poder de decidir a alocação de capital no mundo.
Ao fim e ao cabo, prepara o terreno para ‘vender’ as oportunidades de investimento criadas pela ‘economia da escassez’. “Felizmente, soluções temáticas estão no horizonte”, escrevem os analistas.
Num segundo relatório de 156 páginas restrito a clientes, a equipe de análise do banco selecionou 50 ações de empresas do mundo todo, com capitalização de mercado somada de US$ 8 trilhões, que em sua visão oferecem soluções temáticas para toda a gama de problemas apontados, de água e biodiversidade, passando por agricultura, mineração e resíduos e chegando a saúde e educação.
Entre as apostas do banco, há lugar para três companhias brasileiras: a produtora de lítio Sigma Lithium, a empresa de saneamento Sabesp e o grupo de tratamento de resíduos Ambipar.
Abaixo, a lista completa das ações recomendadas, separadas por tema:
1) Água
Veolia, Essential Utilities, Beijing Enterprises Water, Guangdong Investment e Sabesp;
2) Biodiversidade e ar
SCA, Segezha, Weyerhaeuser, Daikin, Carrier e Atlantic Sapphire;
3) Terras Raras e Metais
MP Materials, Lynas, Ganfeng e Sigma Lithium;
4) Agricultura e pecuária
PhosAgro, Mosaic, Zoetis e Elanco;
5) Tratamento de resíduos e reciclagem
Waste Connections; Cleanaway, Ambipar, Befesa, Origin Materials e Sims Limited
6) Poder de processamento
ASML, KLA Corp, GlobalFoundries, TSMC, GlobalWafers, Shin Etsu Chemical e SUMCO;
7) Saúde e bem-estar
AMN Healthcare, SMS, Teladoc, Thorne Healthtech, Life Time e Xponential Fitness;
8) Habilidades e educação
Udemy, Duolingo, APM Human Services, Chegg e PowerSchool
9) Juventude
Progyny e Jinxin;
10) Tempo
Apple, Microsoft, Disney, Meta Platforms e Sony.