A empresa que aposta alto na concessão de parques naturais 

Com ativos como Chapada dos Guimarães e Itatiaia, onde fica o pico das Agulhas Negras, Parquetur avança e aposta em turismo com conservação

O parque da Chapada dos Guimarães é um dos seis que fazem parte do portfólio de concessão de parques naturais da Parquetur
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Criada para buscar oportunidades no nascente mercado de concessão de parques naturais no Brasil, a holding Parquetur venceu dois leilões na virada de ano e se consolida agora como uma das maiores operadoras do setor no país.

O portfólio, que já contava com Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e Caminhos do Mar, na Serra do Mar paulista, recebeu quatro novos parques no último mês, somando seis concessões.

Em 21 de dezembro, a Parquetur venceu o leilão do governo de Minas Gerais para assumir a gestão de Ibitipoca e Itacolomi. No dia seguinte, foi a vez de levar o parque nacional da Chapada dos Guimarães (foto), concedido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). 

No último dia 4 veio a sexta adição: o icônico Parque Nacional de Itatiaia, onde fica o Pico das Agulhas Negras, na divisa de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo, por muitos considerado o equivalente brasileiro ao americano  Yosemite, que fica na Califórnia. 

Desta vez não foi uma vitória num leilão que trouxe o ativo para sua carteira, mas sim um longo processo de negociação com o ICMBio, do MMA, e o antigo concessionário para assumir a gestão. 

O Grupo Hope, que venceu a licitação para gerir o Itatiaia, em 2018, entrou em recuperação judicial anos depois sem nunca ter investido um centavo em melhorias no parque.

A Parquetur passou, assim, a ter o maior número de parques sob administração entre as empresas do setor. Pelos critérios de faturamento e número de visitantes, a líder é o Grupo Cataratas, que tem as concessões de Cataratas do Iguaçu, Fernando de Noronha e Corcovado, no Rio, além de outros atrativos, como o aquário do Rio.

“Montamos um portfólio dos sonhos”, diz o CEO da Parquetur, Pedro Cleto. “Quando estiverem maduros, todos esses parques devem receber 2 milhões de visitantes por ano”, calcula. Hoje, são pouco mais de 450 mil pessoas anualmente.

Para multiplicar o número de visitantes – e a receita com a venda de ingressos –, a holding fará investimentos da ordem de R$ 70 milhões em infraestrutura e melhorias, previstos nos editais das licitações. Embora as concessões sejam de 30 anos, a aplicação dos recursos se concentra nos primeiros dois a três anos, explica Cleto.

Como funciona

Aqui não se trata de uma concessão florestal. O que é concedido à iniciativa privada é a gestão do turismo ambiental nesses parques. Os parques abertos à visitação costumam responder por uma fração da unidade de conservação, que continua sob o cuidado do governo – ou pode ser também concedida ao setor privado, dentro de outro modelo. 

Os investimentos costumam incluir a construção de centros de visitantes, abertura de novos núcleos com estrutura de visitação, passarelas, decks, instalação de banheiros, bilheterias, catracas e sites para venda de ingressos online.

A ideia é que a boa estrutura funcione como um incentivo à conservação por parte dos visitantes. Para blindar os parques de um modelo de turismo predatório ou desordenado, todas as concessões contam com um plano de manejo a ser seguido pelo concessionário. Qualquer coisa que fuja ao plano, como a instalação de uma nova atração, tem que ser aprovada pelo poder concedente.

“Não precisa fazer muita coisa, mas precisa de um arroz com feijão bem feito”, diz o CEO. A infraestrutura existente costuma ser precária e mal conservada. “Cerca de 48% dos parques no Brasil não tem sequer banheiro. Na Chapada dos Guimarães a situação é triste, porque existem ruínas do que seria um portal de entrada.”

Guimarães tem um dos maiores orçamentos de investimento previstos, em torno de R$ 17 milhões a R$ 20 milhões. Da mesma magnitude são Itatiaia e Caminhos do Mar. Ibitipoca e Itacolomi devem consumir, juntos, cerca de R$ 13 milhões, enquanto Veadeiros demandava apenas R$ 3 milhões.

Quem é a Parquetur

A Parquetur foi fundada em 2015 por Plínio Ribeiro, da Biofílica Ambipar, e os sócios Claudio Padua e Rafael Ferraz, com investimento de alguns empresários, como Juscelino Martins, do grupo atacadista que leva seu nome.

Mas o capital para pagar as outorgas aos governos federal e estaduais e, principalmente, dar conta dos investimentos, é levantado por meio do Parques Fundo de Investimento em Participações em Infraestrutura, criado para captar dinheiro de investidores.

Entre o que já foi levantado e compromissos de novos aportes, o fundo conta com cerca de R$ 60 milhões, diz Cleto. “Mas alguns investidores devem aumentar o cheque agora que levamos novas concessões.”  

A projeção de retorno do fundo é de IPCA mais 5% ao ano, algo que era mais atraente quando o fundo foi criado, dois anos atrás, mas segue sendo interessante para o longo prazo. 

Levantar dívida para financiar parte dos investimentos, provavelmente por meio de bancos de fomento, também está no radar da empresa.

Modelo de negócio

Na modelagem financeira que apresenta aos investidores, Cleto diz que trabalha com uma taxa de crescimento de 15% ao ano no número de visitantes dos parques brasileiros. Atualmente, cerca de 20 milhões de pessoas visitam os parques todos os anos.

“Mas esse é um cenário conservador, que já vinha acontecendo sem as concessões. Com os parques nas mãos da iniciativa privada, esperamos um círculo virtuoso, com mais pessoas visitando.”

Nos parques da holding, Caminhos do Mar saiu de 13 mil pagantes por ano para 60 mil em 2022. Em Veadeiros, o número foi de 60 mil para 90 mil. 

O modelo de negócios tem como tese esse crescimento do número de visitantes e se baseia na cobrança de ingressos como principal fonte de receita. 

Quando atingir os esperados 2 milhões de visitantes ao ano nos seis parques do portfólio, ele estima alcançar receita de R$ 100 milhões.

“Mas ao longo de 30 anos de concessão vamos aprender a tirar receitas acessórias”, diz ele. O aluguel de restaurantes e lojas de souvenir é uma delas. Instalação de novas atrações, como tirolesas, são outra.

Em Caminhos do Mar, por exemplo, onde os investimentos ainda estão acontecendo, a realização de eventos, como corridas de rua e offsite de empresas, já se tornou uma fonte de receita relevante. 

“E estamos começando a aprender como trabalhar com patrocínios de empresas que tenham afinidade com o que fazemos.” Algumas possibilidades incluem associar marcas à coleta e reciclagem do lixo e à instalação de vans elétricas para o transporte interno.

Pipeline de leilões

Só em 2022, 13 parques foram leiloados no Brasil, com previsão de investimentos de R$ 700 milhões. O mais emblemático deles foi o das Cataratas do Iguaçu, que pela segunda vez foi para as mãos do Grupo Cataratas (agora em associação com a construtora Equipav) e que deverá receber novos investimentos de R$ 500 milhões.

Para 2023, diz Cleto, a área de novos negócios da empresa mapeou 22 leilões de parques estaduais e federais, incluindo alguns bastante conhecidos, como Jericoacoara, Lençóis Maranhenses e Serra dos Órgãos. Os primeiros sinais dos novos governos, segundo ele, indicam que os cronogramas devem ser mantidos.