A aceleradora norte-americana 2Gether-International, em parceria com o BID Lab, laboratório de inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento, lançou um programa de aceleração para startups fundadas por empreendedores com deficiência ou que desenvolvam soluções para essa comunidade.
Podem participar startups sediadas na América Latina ou no Caribe que tenham componente tecnológico claro em produtos ou serviços. Entre 15 a 20 projetos serão selecionados. As inscrições vão até 22 de setembro no site da aceleradora e o resultado será divulgado em 26 de setembro.
Com início em 1º de outubro, o programa é gratuito e online, com duração de dez semanas. A grade inclui mentorias individuais e aulas de finanças, marketing, estratégia de produto e liderança inclusiva.
O objetivo é “abrir caminho para que um grupo historicamente à margem possa liderar qualquer tipo de empreendimento”, diz Santiago Garcia Mendez, coordenador do programa.
A aceleração não investe nos negócios dos participantes. Ao fim, a startup considerada mais promissora será premiada com US$ 10 mil.
Além do conhecimento, o programa conecta empreendedores a investidores e ajuda a criar uma rede de startups com foco em pessoas com deficiência.
Empreendedores sem deficiência também podem participar, desde que desenvolvam soluções voltadas a essa comunidade, como questões de acessibilidade, inclusão e emprego.
A 2Gether adota a definição de deficiência da Lei dos Americanos com Deficiências (ADA): qualquer pessoa que se identifique com alguma limitação que afete atividades da vida cotidiana, como caminhar, ouvir, falar, se vestir ou ler. Ela é baseada em autodeclaração, sem necessidade de apresentar laudo médico, por exemplo.
Dessa vez, a iniciativa mira no Brasil, onde pessoas com deficiência têm os maiores índices de desemprego. Em 2019, apenas 28% estavam empregadas, contra 66% da população sem deficiência. Além disso, 18% viviam abaixo da linha da pobreza, de acordo com o IBGE.
As desigualdades se repetem no campo do empreendedorismo. Segundo Mendez, apenas 1% do capital de risco global é destinado a startups lideradas por pessoas com deficiência e ainda não há dados consistentes sobre quais barreiras específicas dificultam o acesso desse público ao investimento.
O programa
A aceleração integra a iniciativa “Ecossistema Acessível”, financiada com investimento direto de US$ 1 milhão do BID Lab. A meta é capacitar mais de 200 fundadores até o fim de 2025 e 600 até 2027.
Um dos pilares do projeto é a ideia de que a habilidade de enfrentar desafios do dia a dia pode se tornar um diferencial na condução de negócios. Essa percepção nasceu da trajetória pessoal do fundador da 2Gether, Diego Mariscal, que tem paralisia cerebral e foi atleta paraolímpico.
Na aceleração anterior, a startup premiada foi a argentina Cromodata, fundada por Keila Barral Masri, plataforma colaborativa que conecta informações clínicas entre instituições para acelerar diagnósticos. Após a aceleração, a startup captou US$ 1 milhão com investidores para expandir o negócio.
Outras startups que passaram pelo programa:
- Escuela Blynk – oferece treinamento para deficientes visuais em ferramentas como leitores de tela e de navegação na web, com foco em independência digital;
- Sí Voy – ajuda agências de viagem a criar itinerários e rotas adaptadas às necessidades de pessoas com mobilidade reduzida;
- Pura Vida – criou uma cadeira facilitadora sexual para que pessoas com mobilidade reduzida vivenciam a intimidade com dignidade;
- Chair-out – criou um dispositivo portátil que transforma cadeiras manuais em elétricas.