Conforme evoluir em seu plano de vender grandes participações em empresas e migrar para uma carteira de investimentos mais diversificada e pulverizada, a Previ quer fortalecer a cultura de engajamentos coletivos no Brasil.
“Temos uma tradição de engajamento direto com as empresas investidas, com indicação de conselheiros. Mas o engajamento coletivo se fará cada vez mais importante dentro da nova estratégia de investimento, ainda que a Previ continue a ter posições relevantes, pelo seu tamanho”, diz Rafael Castro, gerente executivo de conformidade e de controles internos da Previ.
O chamado engajamento é o mecanismo pelo qual o investidor que detém participação acionária em determinada empresa se relaciona com ela para defender determinadas agendas ou práticas de gestão.
No engajamento coletivo, muito comum no mercado europeu, vários investidores se reúnem para pressionar a investida. No mercado brasileiro, a prática não é comum.
A Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, é o maior fundo de pensão do país, com R$ 195 bilhões sob gestão. Tem grandes participações acionárias em empresas como Vale, Neoenergia, Petrobras e BRF.
Na medida em que os investimentos que aplicam filtros ESG (ambientais, sociais e de governança) começam a avançar no mercado local, mais fundos de pensão e assets têm manifestado a intenção de desenvolver políticas de engajamento sistemáticas.
Mas para criar a cultura do engajamento coletivo, Castro avalia que falta alinhar melhor os interesses dos diversos atores.
“O interesse existe. Mas precisamos começar a alinhar quais os principais temas de interesse comum e traçar planos de longo prazo para organizar melhor e fazer fluir”, diz.
De volta ao PRI
Rafael Castro representa a Previ como candidato a uma vaga no conselho do Principles for Responsible Investment, ou PRI. A organização reúne investidores que se comprometem com práticas de investimento responsável e tem mais de 3 mil signatários no mundo, com mais de US$ 100 trilhões em ativos sob gestão.
A Previ já fez parte do board do PRI no passado, esteve ausente por alguns anos e agora quer voltar.
“Achamos que é importante ter a representação de mercados distintos no PRI. Hoje tem uma concentração em Europa e América do Norte e é um desafio desenvolver investimentos responsáveis em mercados emergentes. E o engajamento coletivo não é comum nesses mercados”, diz Castro.
Ele avalia que no mercado local o PRI é o fórum adequado para fortalecer os engajamentos coletivos.
Atualmente, a Previ é o investidor líder de um engajamento coordenado pela rede brasileira do PRI no tema de integridade nas empresas. Foram escolhidas 19 companhias listadas, que responderam a um questionário sobre suas políticas e práticas de integridade e agora estão na fase de conversas individuais.
“A lógica não é saber se a empresa tem um programa, código de ética, um canal de denúncia. O desafio é capturar a efetividade desses programas. Como a empresa de fato monitora os programas, qual o envolvimento da alta gestão e como fazem a mensuração.”
Os nomes das empresas não são divulgados. Além da Previ, fazem parte do engajamento outros 22 investidores, como Itaú Asset, Bradesco Asset, Santander, Real Grandeza, BTG, JGP, Vinci e Votorantim.
Recentemente, a Previ reviu sua política de sustentabilidade e de melhores práticas ESG, que internamente são chamadas de ASGI, porque incorporam o “I” de integridade. Foi criado um novo plano diretor, que definiu as agendas prioritárias em cada um dos pilares ASGI e também um comitê de sustentabilidade com membros de cada uma das diretorias da fundação. O objetivo é aumentar a velocidade de resposta e efetividade das políticas.