
Denúncias de assédio moral feitas por funcionários da Vale foram a causa da demissão da vice-presidente de recursos humanos, Catia Porto, na semana passada. A informação foi confirmada pelo Reset com três pessoas com conhecimento do assunto. Pela mesma razão, a mineradora também desligou dois diretores da área, Kiko Campos e Rodrigo Rojas.
As denúncias foram feitas à ouvidoria da empresa. Após a apuração interna, o caso foi levado ao conselho de administração da mineradora, a quem a ouvidoria se reporta. Como uma das denunciadas era a vice-presidente, o caso não passou pelo comitê executivo da companhia, do qual Porto fazia parte.
As demissões aconteceram no início da semana passada. Na quarta-feira (9), as informações sobre Porto já haviam sido retiradas da página do site da Vale dedicada à alta liderança. Marcelo Bacci, vice-presidente de finanças e relações com investidores, assumiu interinamente a área.
A reportagem não tomou conhecimento de quais práticas teriam sido consideradas assédio moral e também não obteve detalhes sobre a investigação dos fatos conduzida pela empresa.
Procurada, a Vale informou por meio de sua assessoria de imprensa que não vai comentar o caso.
Em nota conjunta, Porto, Campos e Rojas afirmaram que “é falsa e difamatória” a informação de que a saída da Vale teria ocorrido em razão de denúncia anônima. “Em uma empresa deste porte, qualquer denúncia é tratada de acordo com protocolos formais de governança, com investigação estruturada e comunicação às partes envolvidas. Em nenhum momento fomos notificados pela ouvidoria da companhia.”
“Reiteramos que sempre conduzimos nossas carreiras com respeito, profissionalismo e em estrito cumprimento ao código de conduta da Vale e das demais empresas em que atuamos”, concluíram – veja a íntegra da nota no fim da reportagem.
Segundo a assessoria de comunicação contratada pelos executivos, a Vale teria justificado a demissão de Porto por “desalinhamento cultural” e a dos diretores por falta de clima para a permanência deles em decorrência da saída da VP.
Histórico
Catia Porto assumiu a vice-presidência de pessoas, que cuida dos recursos humanos da mineradora, em dezembro do ano passado, na esteira das mudanças no alto escalão da companhia promovidas pelo novo CEO, Gustavo Pimenta.
A executiva foi escolhida após um processo conduzido por uma consultoria de recrutamento executivo. Kiko Campos e Rodrigo Rojas foram trazidos do Carrefour para assumir diretorias subordinadas a ela. Os três já haviam trabalhado juntos quando Porto foi vice-presidente de RH da rede varejista entre 2019 e 2024.
Poucos meses depois de assumir a posição na Vale, a executiva se envolveu em uma polêmica. Em postagens no seu perfil do Instagram, ela afirmou que a cultura “woke” estava perdendo espaço e, com isso, um movimento de “meritocracia, excelência e inteligência” estaria substituindo as atuais políticas corporativas de diversidade, equidade e inclusão. Woke é uma expressão em inglês que indica um “despertar” para questões de desigualdades sociais.
“Quem entende movimentos sabe que ou você se adapta rapidamente e surfa a onda de forma mais tranquila ou vai ficar na lanterninha… no grupo que reclama, resiste e não sai do lugar…”, escreveu Porto em fevereiro deste ano – veja a íntegra das postagens em reportagem do Reset.
A postagem levantou dúvidas sobre um possível recuo da Vale nas políticas de diversidade e inclusão. A mineradora declarou, à época, que não havia mudanças em suas políticas e diretrizes para essa agenda. A demissão da executiva não está ligada a esse episódio, segundo pessoas consultadas pela reportagem.
Governança
As áreas de ouvidoria, compliance e auditoria da Vale passaram por um processo de reestruturação após o rompimento da barragem de Brumadinho, em 2018, repetindo a tragédia de Mariana, em 2015, ambas em Minas Gerais.
As áreas e processos já existiam dentro da mineradora, mas foram revisados e reforçados como parte das medidas adotadas em reação a uma das maiores tragédias socioambientais do país. Brumadinho deixou cerca de 270 pessoas mortas e despejou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos. À época, 427 pessoas da mineradora trabalhavam no local.
A mineradora, então, revisou as diretrizes e os processos de governança referentes à gestão operacional, funções de controle e auditoria interna. A partir daí, a ouvidoria ganhou mais força e passou a se reportar diretamente ao conselho de administração da mineradora.
Veja a íntegra da nota dos executivos:
“É falsa e difamatória a informação de que nossa saída da Vale teria ocorrido em razão de denúncia anônima. Em uma empresa deste porte, qualquer denúncia é tratada de acordo com protocolos formais de governança, com investigação estruturada e comunicação às partes envolvidas. Em nenhum momento fomos notificados pela ouvidoria da companhia.
Causa estranheza que o veículo Capital Reset divulgue tal alegação sem apresentar qualquer comprovação, baseada apenas em fonte anônima. Essa prática, além de irresponsável, atinge de forma indevida nossa reputação e trajetória profissional.
Reiteramos que sempre conduzimos nossas carreiras com respeito, profissionalismo e em estrito cumprimento ao código de conduta da Vale e das demais empresas em que atuamos.
Cátia Porto, Kiko Campos e Rodrigo Rojas”