Como a CCR inclui o risco climático na estratégia – km por km

Gigante das rodovias mapeia impactos de eventos extremos em seus ativos e cria plano de mitigação

CCR, maior empresa de infraestrutura de mobilidade do Brasil, elabora estratégia climática para seus ativos
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A CCR, maior empresa de infraestrutura de mobilidade do Brasil, mapeou cada quilômetro de estrada sob sua administração para entender e minimizar os impactos das mudanças climáticas em seu negócio.

O gatilho da iniciativa foram as fortes chuvas que atingiram o litoral paulista e fluminense há dois anos e deixaram 20 mortos na região de Paraty.

A empresa, que havia assumido a concessão da BR-101 um mês antes, registrou 452 pontos de deslizamento de terra ao longo da rodovia. Desde então, resiliência climática tornou-se fator estratégico dentro da companhia.

Os R$ 306 milhões das obras de recuperação foram cobertos pelo seguro, mas essa conta não inclui os transtornos da população que depende daquela estrada.

“Esse é um exemplo prático de evento em que, hoje, conseguiríamos agir previamente com ações de mitigação de impactos para nossos ativos e para sociedade”, diz Renata Ruggiero, diretora de sustentabilidade, inovação e responsabilidade social do Grupo CCR.

As 37 concessões sob gestão da companhia se espalham por 230 cidades brasileiras, de 13 Estados. Só as estradas somam 3,5 mil km e cortam os biomas da Mata Atlântica, Pampas e Pantanal.

Dito de outra maneira, a CCR está exposta aos mais diversos tipos de mudanças graduais ou eventos extremos causados pelo aquecimento global. A preparação agora anda de mãos dadas com os planos de investimento e crescimento. 

Cronograma

A iniciativa, primeira do setor com tamanho detalhamento, tem três pilares:

  • Mapear os riscos climáticos e estimar os custos financeiros de seus impactos;
  • Usar dados para compreender a provável frequência desses eventos no médio prazo;
  • Garantir que os centros de controle operacionais tenham acesso diário a informações meteorológicas para tomada de decisão. 

Uma parte do trabalho é feita em parceria com a consultoria WayCarbon. A ideia é traçar cenários para os ativos levando em conta duas estimativas de aumento da temperatura média nas respectivas localidades, uma moderada e outra pessimista.

Essas premissas, em conjunto com dados como estado de conservação da infraestrutura e a topografia da região, serviram para modelar os possíveis impactos em cada quilômetro de estrada.

A modelagem foi concluída no ano passado. Agora, a companhia se concentra em colocar os valores na ponta do lápis e entender os custos dos riscos levantados.

“Agora sabemos onde há maior risco e onde são necessárias ações preventivas de mitigação”, afirma Ruggiero. Esse próximo passo deve ocorrer ao longo do segundo semestre deste ano e todo 2025. 

Previsão do tempo

Outro aspecto da iniciativa tem a ver com a previsão do tempo – mas não aquela do app do celular.

A CCR contratou a MeteoIA, uma startup especializada em previsões climáticas de longo prazo, para receber um ou dois relatórios anuais com previsões para os próximos três e cinco anos.

A ideia é que elas sejam usadas no planejamento de orçamento e na avaliação de novas concessões e aquisições de ativos. 

“No caso da BR-101, em 2022, a CCR não incluiu os impactos da chuva no valor do projeto porque não tinha noção de que aquilo poderia acontecer. Não tínhamos acesso a esses dados”, diz Miguel Dau, diretor de segurança empresarial do Grupo CCR. “Agora, vamos poder ter um olhar mais próximo da realidade antes mesmo de adquirir o ativo”. 

No dia a dia, os centros de controle operacional receberão relatórios detalhados do Climatempo e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemadem) com a previsão de fenômenos meteorológicos nas próximas horas e dias. 

A CCR também vai investir em radares meteorológicos de superfície, que permitem saber em quanto tempo a chuva vai atingir um determinado ponto de uma rodovia, por exemplo. 

Além do olhar de resiliência de longo prazo, as medidas também afetam tarefas rotineiras. Manutenções programadas ou obras rápidas passarão a ser marcadas de acordo com o que diz a meteorologia, afirma Dau.

Visão estratégica

A consideração de eventos meteorológicos e climáticos era feita de maneira pontual e com baixa previsibilidade na CCR, de acordo com os diretores.

Desenvolver a nova estratégia exigiu um investimento anual de R$ 2 milhões, com os contratos das empresas parceiras previstos para cinco anos.

A visão integrada entre diferentes áreas da companhia ainda não permitiu um cálculo total do retorno financeiro, mas a apólice do seguro deve diminuir e a previsibilidade do negócio, aumentar, para que não haja perda de material e de tempo em suas definições de despesas de capital (capex, na abreviação em inglês) e manutenção. 

“Esse projeto é muito mais uma mudança de mentalidade para definição de processos e sabedoria do uso das informações que teremos disponíveis para que os centros de controle estejam totalmente preparados para lidar com essas informações com planos de ação robustos para o enfrentamento de um fenômeno qualquer que venha nos acometer”, afirma Dau.