B3 lança 1º índice de diversidade, com foco em raça e gênero

Banco do Brasil, Hypera Pharma e Raia Drogasil têm maiores pesos no iDiversa; carteira inicial contém 79 ativos

B3 lança 1º índice de diversidade, com foco em raça e gênero
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A B3 acaba de lançar o iDiversa, primeiro índice focado em diversidade nas empresas, do quadro de funcionários ao conselho de administração. O objetivo do índice é medir o desempenho financeiro das empresas que se destacam na inclusão de gênero e raça em relação a seus pares. 

Para integrar a carteira, a empresa precisa ter ao menos uma mulher ou uma pessoa negra ou indígena no conselho administrativo e na diretoria estatutária, ou seja, em ambas as instâncias de governança.

Banco do Brasil, Hypera Pharma, Raia Drogasil, Sabesp e Renner têm os maiores pesos na versão inaugural do índice, composto por 79 ativos, entre ações ordinárias e preferenciais, de 75 empresas. Ao todo, estão representados dez setores da economia, já tipicamente usados como referência pela bolsa. 

O iDiversa é compilado a partir de informações dos formulários de referência registrados pelas companhias na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Neste ano, o xerife do mercado de capitais passou a exigir a apresentação do número de funcionários, integrantes de administração e de conselho por gênero e raça.

Em outros índices, como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), as empresas elegíveis precisam se candidatar voluntariamente e fornecer os dados relevantes, que são auditados de forma amostral pela bolsa. 

“Esse é o primeiro índice da América Latina que mede a diversidade de gênero e raça nos quadros funcionais de companhias listadas”, diz Ana Buchaim, vice-presidente de pessoas, comunicação, marketing e investimento social da B3. 

A ideia do iDiversa é “incentivar companhias para que evoluam na representatividade desses grupos subrepresentados no mercado de trabalho e oferecer para os investidores uma tese de investimento que leva em conta as companhias que têm melhor performance em diversidade de raça e gênero”, segundo Buchain. 

Este é o décimo índice da família ESG da B3, que já conta com o ISE, reformulado em 2021, e o Great Place to Work (GPTW), baseado na lista de mesmo nome que ranqueia as melhores empresas para trabalhar. 

A carteira será revisada a cada quatro meses, em janeiro, maio e setembro. 

Score de diversidade B3

O índice tem três escopos de avaliação: o score de diversidade B3, critério de elegibilidade e de ponderação. 

A nota de cada empresa considera a participação de mulheres, pessoas negras e indígenas em todo o quadro da empresa – funcionários não-líderes e líderes, diretoria e conselho de administração. 

Quanto mais alto o cargo na hierarquia, maior a pontuação – assim,  ter metade do conselho formado por mulheres garante mais pontos do que a mesma proporção na gerência, por exemplo. 

Com os dados em mãos, a B3 compara o grau de diversidade da empresa com dados demográficos nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quanto menos diversa e mais distante da distribuição populacional para mulheres, pessoas negras  e indígenas, menor a pontuação. 

Critérios de elegibilidade e ponderação

Para entrar na carteira, as empresas precisam ter score de diversidade igual ou maior à média, menos o desvio padrão do setor em que está inserida. 

Os papéis também precisam ter alta liquidez, com negociabilidade de 99% e presença em 95% dos pregões, e não podem ser uma penny stock, ou seja, negociadas a menos de R$ 1. 

Já para limitar o peso de cada empresa no índice, a B3 estipula que a representatividade de cada uma delas pode chegar a no máximo três vezes o valor de mercado do seu “free float”, a parcela de ações livres para negociação.

Intersecção e a questão do ‘2 por 1’

Antes de ter seu score elaborado, a empresa precisa passar pela peneira de ter ao menos uma mulher ou uma pessoa negra ou indígena tanto no conselho administrativo quanto na diretoria. 

“Quando há interseccionalidade, a empresa cumpre os dois requisitos, porque é assim que está no formulário de referência. Então se há uma mulher negra, ela conta duas vezes, conforme o formulário de referência”, diz Buchaim. 

Medida parecida era adotada no Anexo ASG, documento no modelo “pratique ou explique” proposto pela B3 para estimular a diversidade em companhias abertas e que foi alterada após consulta pública no ano passado. Uma pessoa que cumpre dois dos requisitos de representação, como uma mulher negra, não basta para atender às demandas. 

Buchaim ressalta que o iDiversa é composto com dados públicos exigidos pela CVM e que o índice ainda pode sofrer alterações conforme os padrões evoluam. 

“O que a gente imagina é que, ao longo dos anos, critérios para pessoas com deficiência ou da comunidade LGBTQIA+, por exemplo, podem ser exigidos”. Ajustes da CVM e revisão de requisitos para atender a padrões internacionais de sustentabilidade, como o proposto pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), também podem promover mudanças no índice. 

Estas são as dez ações com maior peso na primeira versão do iDiversa:

  • Banco do Brasil (BBSA3)
  • Hypera Pharma (HYPE3)
  • Raia Drogasil (RADL4)
  • Sabesp (SBSP3)
  • Renner (LREN3)
  • Petrobras (PETR3 e PETR4)
  • Equatorial Energia (EQTL3)
  • Assaí (ASAI3)
  • Localiza (RENT3)

*Atualização em 04/09/2023, às 12h29: diferentemente do que constava, não há mais aplicação de taxa administrativa no ISE.