Colômbia aumenta pressão por fim de fósseis e lança conferência paralela

Belém – Com o apoio de 24 países, a Colômbia lançou na manhã de sexta-feira a “Declaração de Belém”, um documento pedindo a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, aumentando a pressão para que o tema faça parte das decisões tomadas pela COP30.

“Esta COP não pode terminar sem um mapa claro, justo e equitativo para o fim dos combustíveis fósseis. Não estamos pedindo um documento vazio”, afirmou Irene Vélez Torres, ministra do Meio Ambiente da Colômbia. “Acreditamos que há um consenso se formando entre pessoas do mundo todo.”

A versão mais recente da “Decisão Mutirão” apresentada pela presidência brasileira da conferência excluiu todas as menções ao assunto que constavam do primeiro rascunho, publicado na quarta-feira.

Colômbia e Países Baixos, um dos signatários do documento, também anunciaram uma primeira edição de uma conferência internacional para discutir uma transição que se afaste dos combustíveis fósseis. O evento acontece no fim de abril do ano que vem, na cidade colombiana de Santa Marta.

“A conversa não pode terminar aqui [em Belém]. Precisamos manter o impulso e liderar com coragem”, afirmou Vélez.

Conferência paralela

“Estamos muito comprometidos com o processo multilateral. Mas uma coalizão voluntária de países é mais necessária do que nunca, porque o processo [das COPs] não está cumprindo seu papel”, afirmou a ministra chilena Maisa Rojas depois do anúncio.

Também falando a jornalistas após anunciar a conferência, Vélez disse que “o problema, neste momento, é que o método [de tomada de decisões na conferência] é apenas de consenso”, o que significa que “a agenda mais ambiciosa” acaba sendo “eliminada”.

A reunião de abril será uma oportunidade de compartilhar experiências e “identificar as alavancas para passar de palavras à ação”, disse Sophie Hermans, ministra holandesa de Política Climática e Crescimento Verde.

“Será uma plataforma ampla, intergovernamental e multissetorial, complementar à UNFCCC, projetada para identificar caminhos legais, econômicos e sociais necessários para viabilizar a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis”, segundo Vélez.

“Enquanto não se consegue um acordo com as 196 partes que estão aqui, os dispostos podem se reunir lá. O que a gente vê é que tem muito mais países dispostos do que se imaginava no começo desta COP”, disse Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima.

Reta final

Vélez lançou a declaração numa das salas de entrevistas coletivas da COP30, acompanhada de Hermans e representantes de outros 13 países. O anúncio do evento do ano que vem suscitou aplausos dos presentes.

Outra fala ovacionada foi a de Maina Talia, ministro de Mudanças Climáticas de Vanuatu.

“Nossas crianças do ensino fundamental estudam com livros  mais baseados em ciência e mais alinhados com a realidade do que [as decisões propostas] aqui no clube do clima, onde se supõe que resolveríamos esse problema”, disse Talia. “Não vamos legitimar um texto nem um processo que apagam a realidade.”

Autoridades científicas mundiais também se uniram à pressão para que a COP30 pelo menos comece a desenhar o mapa do caminho para o fim dos fósseis:

“As palavras ‘combustíveis fósseis’ estão completamente ausentes do texto mais recente. Isso é uma traição à ciência e às pessoas, especialmente os mais vulneráveis, além de totalmente incoerente com os objetivos reafirmados de limitar o aquecimento a 1,5°C e com o quase esgotamento do orçamento de carbono”.

O documento é assinado, pelos brasileiros Carlos Nobre e Thelma Krug e pelo sueco Johan Rockström, entre outros.