Depois de uma campanha de pressão bem-sucedida na Unilever, um grupo de grandes investidores quer forçar gigantes globais dos alimentos a se comprometer com metas nutricionais e de redução de obesidade.
Os conselhos de companhias como Nestlé, Danone, Kraft Heinz e Kellogg foram procurados por gestores responsáveis por alocar US$ 3 trilhões que querem mais transparência nas métricas de saúde relacionadas à indústria dos alimentos.
A ONG de defesa de investimentos responsáveis ShareAction, uma das líderes do movimento, argumenta que a saúde dos consumidores é um fator de risco “cada vez mais material” para o negócio dessas empresas.
“Os investidores precisam de métricas padronizadas de saúde para determinar sua exposição a riscos regulatórios”, afirmou ao Financial Times Ignacio Vazquez, um dos líderes da ShareAction.
A entidade é uma das mais ativas em campanhas que cobram responsabilidade do setor de comidas industrializadas. Uma das principais queixas diz respeito à classificação que cada companhia faz de seus próprios produtos.
A Danone, por exemplo, afirma que 90% de suas vendas correspondem a alimentos e bebidas saudáveis. Mas, de acordo com os critérios da Access do Nutrition Initiative (ATNI), uma entidade independente, o número fica em 65%.
No caso da Kraft Heinz, a distância é ainda maior: 76% de acordo com a classificação da empresa, contra apenas 39% segundo a avaliação da ATNI.
Em janeiro, a ShareAction apresentou uma resolução em nome de 11 grandes acionistas da Unilever exigindo metas agressivas da empresa para a venda de produtos saudáveis e a adoção de critérios independentes.
Dona de marcas tradicionais como a maionese Hellmann’s e os sorvetes Ben & Jerry’s, a Unilever anunciou no mês passado que a recomendação seria acolhida.
Segundo uma classificação interna, 61% dos alimentos e bebidas vendidos pela companhia em 2021 tinham “alto padrão nutricional”. Uma avaliação independente, entretanto, colocou o percentual em 17%.
A Unilever concordou em publicar um relatório anual sobre os produtos oferecidos globalmente, além de uma comparação detalhada em 16 mercados estratégicos – incluindo o Brasil –, seguindo critérios nutricionais estabelecidos pelos governos.
O primeiro levantamento será publicado em outubro. “Os próximos meses serão cruciais para garantir que esse compromisso se traduzirá em metas ambiciosas de longo prazo”, afirmou em comunicado Louisa Hughes, uma das diretoras da ShareAction.
Clima na agenda
A indústria de alimentos é só um exemplo da importância – e do aumento da profundidade – dos temas ESG na agenda desta temporada de assembleias de acionistas.
Mais de 200 resoluções foram apresentadas cobrando ação das maiores corporações americanas, com o apoio de nomes de peso, como a BlackRock, maior gestora do mundo.
No ano passado, demandas sociais e ambientais receberam na média apoio de 33% dos acionistas, de acordo com levantamento da Bloomberg Intelligence. Cinco anos atrás, o percentual era de 22%.
O famoso investidor ativista Carl Icahn quer que o McDonald’s atue contra os maus-tratos dos suínos. Na Meta, dona do Facebook, a preocupação é com violações de direitos humanos no mundo virtual, ou metaverso, que a companhia está construindo.
A pressão dos investidores nunca foi tão sentida nos conselhos.