A Suzano acaba de fechar a emissão do seu ‘sustainability-linked bond’ com vencimento em 2031 e alcançou a menor taxa da sua história em captações externas: 3,95% ao ano.
É a menor taxa mesmo considerando papéis de prazos mais curtos vendidos pela empresa.
Além disso, normalmente, novas emissões pagam um prêmio sobre papéis que já estão no mercado, mas desta vez foi o contrário. O bônus sustentável da Suzano saiu com desconto sobre um título de prazo semelhante da companhia, que vence em 2030, e que era negociado a um juro de 4,05%.
Mesmo considerando que o mercado está aquecido, que a Suzano é uma emissora frequente e que a empresa pouco sofreu com a pandemia, há um indicativo de que pela primeira vez uma empresa brasileira pode ter sido beneficiada financeiramente pelo “ESG flavor” na emissão de dívida.
No total, a fabricante de papel e celulose colocou US$ 750 milhões. Mas havia demanda para US$ 7 bilhões, segundo pessoas próximas à operação informaram ao Reset.
A julgar pelos questionamentos feitos ao longo do roadshow, é possível inferir que boa parte dessa demanda veio de investidores que buscam ativos de empresas com bons padrões ESG — embora não se saiba em quais fundos os papéis serão alocados dentro de cada casa de gestão.
Diferentemente dos ‘green bonds’, o sustainability-linked bond é um papel que não tem recursos carimbados para um projeto específico com impactos ambientais. O uso dos recursos é livre, mas a emissão é atrelada a uma meta ambiental ou social.
No caso da Suzano, a meta escolhida foi a de redução de 15% da intensidade das emissões de CO2 até 2030. A empresa fixou uma meta intermediária, a ser cumprida até 2025 e, caso falhe em alcançá-la, terá um aumento de 25 pontos-base da taxa paga no cupom do papel a partir de 2026. Como o cupom saiu a 3,75%, isso quer dizer que a taxa poderá ir a 4% ao ano.
A emissão contou com um parecer de segunda opinião da ISS ESG e a companhia foi assessorada pela Sitawi na construção do framework para emissões verdes e na escolha de metas.
Tanto ISS ESG quanto Sitawi notaram que a meta de cortar em 15% a intensidade das emissões é menos ambiciosa do que a meta dos pares da empresa. No entanto, destaca a consultoria brasileira, a intensidade atual da Suzano já é considerada ‘best-in-class’ e está em linha com o cenário de manter o aquecimento global abaixo de 2 graus em 2030.
Em declaração pública sobre a emissão, a Sitawi escreve que “encorajaria a Suzano a fixar metas de emissões absolutas em transações futuras”.