Cerrado em Goiás

Belém – Goiás e Mato Grosso, conhecidos pelo agronegócio, assinaram memorandos de entendimento com a Emergent, gestora da Coalizão Leaf, para vender créditos de carbono gerados por programas de REDD+ jurisdicional, que abrangem os Estados inteiros. 

Em ambos os casos, trata-se do início formal das negociações. As transações só ocorrerão após validação e verificação das reduções de emissões e a assinatura de um compromisso de venda.

A Coalizão Leaf reúne grandes companhias globais interessadas em compensar de maneira voluntária suas emissões de gases de efeito estufa. A lista dos membros, ou seja, os potenciais compradores, inclui empresas como Amazon, Airbnb, H&M, Walmart, BlackRock e Volkswagen. Durante a COP30, a aliança anunciou a entrada da Tencent, uma das gigantes da tecnologia na China. 

A coalizão também recebeu doações dos governos de Estados Unidos, Noruega e Reino Unido.

O Pará foi o primeiro governo estadual a formalizar um acordo de venda com a Leaf, em 2024. O contrato prevê a venda de até 12 milhões de créditos de carbono florestais. Acre, Tocantins e Piauí também têm contratos assinados para vender ativos jurisdicionais com outras iniciativas.

Níveis de maturidade

Andrea Azevedo, vice-presidente de relações institucionais da Emergent no Brasil, afirma que o Mato Grosso está em um estágio mais maduro em relação ao tema.

O Estado recebeu dois financiamentos do REDD Early Movers (REM), um programa do governo alemão que recompensa financeiramente países e governos subnacionais por reduções de desmatamento verificadas. O Reino Unido também realizou doações ao estado pelo mesmo programa.

A expectativa é dar escala a um processo que já está em curso.

“O REM já tinha um debate com populações indígenas e agora vamos ampliar para produtores rurais e pessoas que trabalham no uso da terra. E, junto com o governo, [pensar] um plano de repartição de benefícios”, diz.

Em Goiás, a fase é de conhecer melhor o que o Estado está fazendo para combater o desmatamento. 

Mas Azevedo aponta como positivo o fato do governo ter ciência de que as regiões do Estado possuem necessidades diferentes. 

Enquanto o sul goianiense precisa de recursos para reflorestamento em áreas de bacia que estão com baixos níveis de água, o desafio ao norte, com o Cerrado, é melhorar o nível de renda de populações tradicionais e acelerar práticas de manejo florestal.  

“São Estados do agro que estão produzindo, mas estão se comprometendo a reduzir suas emissões e esse é o lugar ideal em que a gente quer chegar. A gente quer desenvolvimento e produção, mas de forma sustentável, sem desmatamento, degradação ou fogo”, diz Azevedo.

De olho na China

No último dia 12, a Leaf anunciou uma aquisição de peso para a coalizão: a chinesa Tencent, multinacional de tecnologia e entretenimento, tornou-se a primeira corporação com sede na Ásia a se comprometer com o financiamento climático da iniciativa. 

À medida que a China endurece critérios de sustentabilidade para garantir que o país não compre produtos de áreas desmatadas, Azevedo vê que há mais espaço para que companhias chinesas apoiem financeiramente REDD+ jurisdicional no Brasil.

Um terço de tudo o que o Brasil exporta vai para a China, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Os destaques são carne bovina e soja.

“É uma mudança de chave. Esperamos que outras empresas chinesas entrem. Há uma grande quantidade de empresas chinesas que compram nossas commodities. Apoiar o REDD+ jurisdicional é uma questão de diminuição de riscos das compras nestas jurisdições”, diz Azevedo. 

REDD+ jurisdicional

Os créditos gerados por Estados são conhecidos como jurisdicionais. Ou seja, trata-se de um sistema que engloba uma jurisdição inteira. 

Nele, levam-se em conta os resultados das políticas públicas de preservação florestal adotadas no Estado todo, diferentemente dos projetos que cobrem áreas circunscritas, os mais comuns no país hoje. Isso pode reduzir, por exemplo, o risco de deslocamento do desmatamento para áreas vizinhas. 

“Esses recursos vão nos ajudar a desenvolver práticas agrícolas sustentáveis e gerar benefícios sociais concretos para a população”, disse em nota Andréa Vulcanis, secretária estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás.

“Qualquer financiamento proveniente de um futuro acordo com a Leaf chegará às comunidades que estão na linha de frente no combate à perda florestal e também ajudará a financiar o desenvolvimento de cadeias produtivas livres de desmatamento e conversão”, Mauren Lazzaretti, secretária de Meio Ambiente do Mato Grosso, em comunicado.

Até o momento, a Coalizão Leaf já mobilizou mais de US$ 1 bilhão em compromissos de governos e do setor privado e recebeu propostas de 27 jurisdições florestais.