
Belém – Segue viva a possibilidade de um aporte da China no fundo para financiar a preservação de florestas tropicais idealizado pelo Brasil, o TFFF
Segundo uma fonte qualificada do governo brasileiro, as conversas com o governo chinês sobre o tema começaram bem depois das tratativas com Noruega, Alemanha, França e Reino Unido, com quem o Brasil vinha falando havia um ano sobre possíveis aportes no mecanismo inovador.
A abordagem inicial à China foi feita durante a viagem presidencial ao país, em maio.
“A China entrou recentemente na discussão e não esperávamos um compromisso agora”, disse a pessoa. “E até agora não tivemos nenhuma indicação de que o país não vá entrar.”
Ontem e hoje circularam notícias no Brasil e na China dando conta de que o país estaria se esquivando de investir no TFFF usando o argumento, recorrentemente utilizado pelo país nas negociações climáticas, de que quem deve pagar antes a conta da transição climática são os países desenvolvidos e não aqueles em desenvolvimento.
A China ainda é enquadrada nesse segundo grupo, embora seja hoje a economia que mais emite gases de efeito-estufa, respondendo por cerca de um terço do total. A informação foi primeiramente reportada pelo jornal Folha de S. Paulo.
Sobre esse argumento, uma outra fonte do governo reforçou que o TFFF foi desenhado fora do regime da COP “justamente para permitir que também países que não são desenvolvidos possam aportar ao fundo.” Tanto é assim que os dois primeiros países a anunciar aportes foram Brasil e Indonésia.
A partir dessas informações, agora o governo brasileiro quer conversar com representantes chineses para entender melhor a posição oficial.
O TFFF conta atualmente com cerca de US$ 5,6 bilhões em promessas de investimento por países como Brasil, Indonésia, Noruega e França e o bilionário australiano Andrew Forrest, da mineradora Fortescue.
“Todos os países estão muito envolvidos com a COP30 agora e não temos tido tempo nem mesmo de detalhar os compromissos já assumidos de aportes no TFFF. O único país que veio com algo formalizado no papel foi a França e ainda assim há o que esclarecer. Todos os outros detalhamentos ainda estão pendentes”, diz a fonte.
No caso da Noruega, que surpreendeu positivamente com o compromisso de US$ 3 bilhões a serem aportados durante 10 anos, também ainda não está claro ainda como será esse fluxo de desembolso.
O governo norueguês fez duas exigências, consideradas razoáveis pelo Brasil. A primeira é que o país não quer ter mais de 20% do fundo, para não repetir o que aconteceu no Fundo Clima, em que os recursos noruegueses representam 80% do total.
A segunda demanda é que a fase de captar recursos para o fundo no mercado e iniciar os desembolsos aos países detentores de florestas só deve acontecer depois que o TFFF atingir um piso de US$ 10 bilhões de compromisso de países e filantropias.
A expectativa do Brasil era que, durante a COP30, ao menos Alemanha, Reino Unido e Noruega se comprometessem com valores. A grande decepção ficou por conta da negativa do Reino Unido. A França acabou surpreendendo ao anunciar um aporte, no valor de US$ 580 milhões. Quanto à Alemanha, há “99% de certeza” de participação e com valor expressivo.
Outro país que recentemente começou a analisar o mecanismo é o Japão, segundo apurou o Reset.
Como funciona o TFFF
Com expectativa de alcançar US$ 125 bilhões, o TFFF não é um fundo filantrópico, que aceita doações, diferentemente de outros fundos de financiamento climático. Nele, a lógica é de investimento
A ideia é que o fundo capte cerca de 20% dos seus recursos via empréstimos de longo prazo feitos por países, pagando a eles uma remuneração compatível com seu grau de investimento. Entidades filantrópicas também entram nesses 20%.
Os demais 80% dos recursos serão captados no mercado via emissão de títulos de dívida pelo fundo, a serem vendidos a investidores institucionais e também de varejo. A expectativa é que esses títulos alcancem um rating elevado, barateando o custo de captação.
Uma vez em caixa, os recursos seriam, então, aplicados numa carteira de títulos com rating médio “BB+”, com taxas mais elevadas. O rendimento proporcionado pelo diferencial entre taxa de captação e aplicação é que seria usado para remunerar os países com florestas tropicais. Os pagamentos a esses países seriam feitos a cada ano, mediante a comprovação de que as florestas não foram desmatadas naquele período.
O Brasil também já fez uma rodada de conversas com bancos internacionais para medir o apetite do mercado pelos títulos que o TFFF deverá emitir e colher intenções de preço. “A resposta que tivemos foi que o produto é viável. Quanto ao preço, vai depender das condições de mercado na ocasião do lançamento dos papéis”, disse uma pessoa familiarizada com o assunto.