CLIMA

Casamento de Bezos em Veneza gera protestos contra super ricos

Ativistas alegam que celebração simboliza extrema riqueza e desigualdade social em cidade que vive vulnerabilidade climática e turismo predatório

Casamento de Bezos em Veneza gera protestos contra super ricos

O casamento de Jeff Bezos, fundador da Amazon, com a jornalista Lauren Sánchez está programado para acontecer neste fim de semana, em Veneza, na Itália. Ativistas pelo clima e anti-turismo predatório se uniram em protestos contra a cerimônia. 

“Se você pode alugar Veneza para o seu casamento, você pode pagar mais impostos”, dizia uma faixa gigantesca estendida na Praça de São Marcos na segunda-feira (23). Logo removida pela polícia, a peça foi uma ação do Greenpeace e do grupo Everyone Hates Elon (ou Todos Odeiam Elon Musk), que defende – entre outras coisas – o aumento de impostos para bilionários.

Moradores da cidade espalharam cartazes com os dizeres “sem espaço para Bezos”, um trocadilho em alusão também aos investimentos do bilionário em tecnologia espacial. 

“O casamento de Bezos é um símbolo de extrema riqueza, privilégio e muitas coisas que estão dando errado atualmente e está acontecendo em uma das cidades mais vulneráveis ​​ao clima global”, disse Clara Thompson, ativista do Greenpeace.

A celebração ainda aguçou uma tensão crescente na região: o desconforto de moradores e ativistas sociais com o avanço do turismo de luxo e a gentrificação de cidades históricas.

Segundo o jornal The Guardian, os protestos e o receio de eventuais novas ações teriam feito o bilionário mudar o local da celebração, antes prevista para o centro da cidade. Segundo fontes italianas, ela deve acontecer no Arsenale, um complexo histórico de estaleiros cercado por muros fortificados. Os ativistas consideraram a mudança uma vitória.

Ao Financial Times, moradores criticaram o uso da cidade como cenário privado para bilionários e a ausência de debate público sobre o evento. “Se há tanto dinheiro circulando, por que não se investe em habitação para quem vive aqui?”, perguntou uma moradora do bairro de Cannaregio. 

Veneza tem enfrentado uma perda crônica de população residente, com apenas 49 mil habitantes fixos em 2024, número 30% menor do que em 2003. A cidade recebe cerca de 20 milhões de turistas por ano.

O governo local defende o casamento como oportunidade de projeção internacional e impulso econômico. A prefeitura estima um impacto de € 48 milhões em hospedagem, transporte e serviços. Fornecedores venezianos, como vidreiros e confeiteiros, foram contratados, e Bezos teria se comprometido a doar € 1 milhão para o instituto científico Corila, que atua na preservação da lagoa veneziana.

A operação de segurança para o evento, porém, mobilizou o fechamento de canais e espaços públicos, com acesso restrito a hotéis e restaurantes da região durante os dias de celebração.

Contradições

O episódio se transformou em um espelho das contradições enfrentadas por cidades turísticas globais. De um lado, o desejo de atrair investimentos e, do outro, a resistência de comunidades locais à mercantilização de patrimônio urbano. Com tantos turistas de alto poder aquisitivo dispostos a gastar, cidades europeias ficam caras para os próprios moradores, que acabam mudando de município.

Em Barcelona, moradores têm usado armas de brinquedo para atirar águas nos turistas, como forma de protesto. No domingo passado (15), ativistas marcharam pelo centro da cidade catalã entoando versos como “Voltem para casa!”. Um cartaz dizia “Seu Airbnb era a minha casa”. 

A pressão da sociedade tem gerado respostas de alguns governos. Portugal, por exemplo, reverteu a modalidade do Golden Visa (visto de ouro), que concedia residência aos estrangeiros que adquirissem casas no país, recurso que durante anos pressionou o mercado imobiliário em Lisboa e Porto.

Veneza já reintroduziu uma taxa de entrada para turistas que visitam a cidade por um dia, estipulada entre 5 e 10 euros durante a alta temporada. Em Nice, no sul da França, a taxa pode chegar a até 4 euros, dependendo da acomodação.