Tecnologias de captura e remoção de carbono têm atraído cada vez mais interesse de investidores e também de cientistas: o próprio painel da ONU que reúne a melhor ciência disponível sobre o clima reconhece que essas inovações podem ser necessárias para controlar o aquecimento global.
O assunto também chamou a atenção da Dynamo, uma das gestoras de fundos mais tradicionais do país. O foco da casa, que administra R$ 18 bilhões, é a análise fundamentalista de companhias negociadas na bolsa, mas a mais recente edição de sua carta trimestral aos cotistas olha para o futuro.
“O entendimento crescente da urgência climática, e a pressão social dele decorrente, deverá levar as companhias progressivamente a internalizar as externalidades de suas emissões e de quaisquer outras disfuncionalidades ambientais que elas venham a produzir”, afirmam os autores.
Isso pode acontecer por meio de obrigações regulatórias, como a que está em discussão no Congresso hoje, ou então com compra voluntária de créditos de carbono. “Se for este o caso, nada mais ‘fundamentalista’ que espiar o berçário das ideias e a gênese das tecnologias”, diz o documento.
Os autores participaram da Conferência de Carbono Negativo, realizada em abril, em San Francisco. O evento é organizado pelo Credit Suisse em parceria com a Musk Foundation, de Elon Musk, que patrocina uma competição de startups.
Quando se fala em captura e remoção de carbono, costuma-se fazer uma divisão entre as rotas tecnológicas e aquelas baseadas na natureza. Na primeira categoria, uma das áreas mais promissoras é a captura, utilização e armazenagem de carbono (CCUS, na sigla em inglês).
As soluções de CCUS devem surgir no Brasil especialmente no setor de óleo e gás. A Petrobras já é a petroleira que mais faz reinjeção de CO2 no mundo – para extrair mais petróleo dos poços no fundo do mar – e pretende abrir um hub no Rio de Janeiro para oferecer o serviço a outras companhias.
Mas os analistas da Dynamo apontam que, para que o CCUS contribua de forma significativa para a descarbonização global, o crescimento vai precisar acelerar. “Ainda estamos bem atrás da curva, e a capacidade instalada da indústria precisaria crescer cerca de 23 vezes, ou 80% do potencial produtivo atual, todo ano.”
A complexidade dos projetos, que demoram cerca de oito anos da concepção à operação, e o alto custo são dois obstáculos apontados pelo relatório.
Outro caminho tecnológico é o da remoção do carbono do ar, uma tecnologia ainda mais nova e que “enfrenta inúmeras dificuldades, atrasos e ceticismo”, notam os autores. Eles listam startups que pretendem usar o CO2 extraído da atmosfera para gerar novos produtos, como combustíveis sustentáveis de aviação ou o biochar, um carvão vegetal que a francesa NetZero produz em Minas Gerais.
As soluções naturais
Mas neste nascente mercado de captura e remoção de carbono, a vocação brasileira talvez esteja nas soluções baseadas na natureza, afirma a carta.
Hoje, a fotossíntese é a tecnologia mais efetiva para capturar carbono. É nela – e nos créditos de carbono que podem ser gerados e negociados com base em nossas florestas – que a gestora aposta.
Com a grande extensão territorial, abundância de sol e chuva e rica biodiversidade brasileiras, a fotossíntese “deixa de ser commodity e se torna a base de uma plataforma de maior valor integrado, que une a riqueza dos nossos ecossistemas naturais com décadas de trabalho duro, desenvolvimento tecnológico, conhecimento científico, estudos empíricos, pesquisa aplicada e execução cuidadosa em campo”.
A gestora vislumbra um “estoque de fotossíntese” em atividades como restauração de florestas e ecossistemas nativos, indústria de árvores plantadas de grande escala, silvicultura altamente competitiva e uma agricultura mais produtiva e sustentável, com uso intensivo de aliados “naturais” como bio insumos e biodefensivos.
“Como investidor de longo prazo com foco no Brasil, aqui na Dynamo temos prospectado oportunidades e alocado recursos em companhias que reúnam tais condições naturais favoráveis para realizar fotossíntese com outros ingredientes estratégicos envolvendo ciência, biotecnologia, escala e boa gestão, capazes de oferecer soluções baseadas na natureza custo-efetivas e de qualidade destacada.”
Acesse a íntegra da carta da Dynamo aqui.