Abrindo a temporada de grandes anúncios no mercado de carbono do ano, a Microsoft acaba de anunciar a compra de 3,5 milhões de créditos de remoção de carbono da atmosfera gerados pela brasileira Re.green. O CO2 será absorvido em projetos de restauração florestal na Amazônia e na Mata Atlântica. Este é o segundo acordo firmado entre as duas empresas.
Para chegar a esse volume, a Re.green vai restaurar 17,5 mil hectares distribuídos em três regiões: uma área entre o oeste do Maranhão e o leste do Pará, outra no sul da Bahia e uma terceira no Vale do Paraíba, entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais.
A entrega dos créditos acontecerá ao longo de 25 anos. O valor da transação não foi revelado, mas a Microsoft tem pagado mais de US$ 50 (R$ 298,5) por tonelada de CO2, segundo uma fonte ao Financial Times – o que levaria a operação para a casa dos US$ 200 milhões (perto de R$ 1,2 bilhão). Um relatório da Pachama afirma que esse tipo de crédito tem sido vendido até mesmo acima dos US$ 80 (R$ 477,60).
“Esse contrato tem um tamanho bem relevante, em termos de área e toneladas de carbono [removidas] entregues. Certamente é uma das maiores operações já feitas e com um grande impacto”, diz Thiago Picolo, CEO da Re.green, ao Reset.
O acordo se soma a um anterior, de maio de 2024, no qual a Microsoft se comprometeu a comprar 3 milhões de créditos da Re.green nos próximos 15 anos, gerados pelo reflorestamento de 16 mil hectares.
Ao todo, a empresa fundada por Bill Gates deve adquirir 6,5 milhões de créditos e ser responsável pela restauração de 33 mil hectares de florestas brasileiras apenas com a Re.green. Os números crescem quando se incluem as compras acordadas para projetos na Amazônia com a Mombak e no Cerrado com o Timberland Investment Group (TIG), braço de gestão de investimentos florestais do BTG Pactual.
Novos ares (e terras)
A Microsoft é, por ora, o único cliente público da Re.green. A startup, fundada há três anos, tem a meta de restaurar 1 milhão de hectares. Por enquanto, tem 13,5 mil hectares em restauração e outros 13,5 mil para florestas plantadas para a extração comercial de madeira.
A Re.green já atua na Amazônia e no sul da Bahia, e irá expandir seu trabalho na Mata Atlântica para o Vale do Paraíba. “Ali, houve um desmatamento antigo, com bastante degradação, e há áreas com tamanho médio menor que o da Amazônia. É, portanto, um desafio costurar áreas maiores. A região tem suas particularidades, com certeza, mas é também uma área mais acessível, por exemplo”, diz Picolo.
Parte do esforço será a ampliação da cadeia de viveiros, com parceiros mais próximos das áreas alvo de restauração. A Re.green já é dona do Bioflora, um dos principais fornecedores de mudas nativas do Brasil, e conta com mais de 30 parceiros pelo país, segundo o executivo.
A Re.green está explorando novos modelos de negócios e firmou, também neste mês, uma parceria com a Agro Penido – empreendimento da mesma família dona do Grupo Roncador. As empresas trabalharão juntas no reflorestamento de uma das fazendas e repartirão a receita gerada pela venda dos créditos de carbono.
O gatilho das big techs
A compra pela Microsoft é apenas a mais recente de uma sequência de anúncios feitos por big techs nos últimos dois anos para a compra de créditos de carbono no Brasil.
A demanda por parte das gigantes do Vale do Silício está diretamente ligada ao crescimento explosivo da inteligência artificial.
Esses sistemas exigem data centers especializados, que consomem muito mais energia que os tradicionais, tanto para o funcionamento dos servidores quanto para o resfriamento dos ambientes.Diferentemente do Brasil, países que abrigam os gigantes consumidores de energia e processadores de dados, como os Estados Unidos, não têm sua matriz elétrica baseada em fontes renováveis de energia.
No ano passado, Google, Meta, Microsoft e Salesforce criaram a Symbiosis Coalition, um grupo que mira a compra de até 20 milhões de créditos de remoção de carbono da atmosfera até 2030. Todos eles devem vir de soluções baseadas na natureza, que proporcionam outros benefícios socioambientais, como a conservação da biodiversidade, e são mais baratos do que alternativas tecnológicas como a captura direta do ar (DAC, na sigla em inglês).