A B3 vai criar um sistema de registro primário para créditos de carbono gerados no Brasil, com o objetivo de dar mais transparência e integridade a um mercado que sofre há quase dois anos uma profunda crise de credibilidade.
Uma atividade que protege a floresta amazônica, por exemplo, gera créditos de carbono. Hoje, na maioria dos casos, o desenvolvedor segue uma metodologia avalizada pela americana Verra, que também fica responsável por certificar e registrar os créditos.
A ideia da B3 é que as metodologias, os projetos e os respectivos créditos sejam registrados nessa nova plataforma, incluindo informações descritivas e técnicas para os potenciais interessados.
No sistema atual da Verra (que detém um virtual monopólio dos créditos florestais), esse tipo de dado faz parte de longos relatórios técnicos, que exigem conhecimento específico para ser entendidos.
“A gente acha que a transparência é o grande instrumento de governança nesse primeiro momento”, diz Leonardo Betanho, superintendente de produtos de balcão da bolsa.
O sistema em desenvolvimento pela B3 também vai refletir as transações e os valores de venda dos créditos, um tipo de informação raramente disponível no mercado voluntário, pois as transações são bilaterais.
A primeira metodologia registrada será a PSA Carbonflor, criada em parceria pela Reservas Votorantim e pela consultoria e desenvolvedora de projetos Eccon Soluções Ambientais. As duas companhias também participam do desenho da plataforma da B3.
A CCR se comprometeu a adquirir os primeiros créditos registrados no novo sistema. A concessionária de infraestrutura vai adquirir 67 mil toneladas de créditos de carbono correspondentes a serviços ecossistêmicos no Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do país, administrada pela empresa do grupo Votorantim.
A expectativa é que o registro seja lançado no ano que vem.
Yuri Rugai Marinho, da Eccon, faz uma analogia com uma bolsa de valores. “A empresa que emite os títulos é a responsável pela veracidade dos dados e está sujeita a eventuais punições da CVM [Comissão de Valores Mobiliários].”
No caso do novo registro, a lógica seria mais ou menos parecida. “O desenvolvedor dos créditos vai apresentar suas medições, por exemplo, e tomar a responsabilidade por tudo o que disser”, afirma Marinho.
David Canassa, diretor-executivo da Reservas Votorantim, afirma que a plataforma também pode incentivar o desenvolvimento de soluções tropicais para o mercado de carbono.
A maior parte das metodologias usadas nos projetos em curso no país foram desenvolvidas para a realidade de países do Hemisfério Norte.
O sucesso da plataforma vai depender da aceitação de metodologias (já avalizadas em registros estrangeiros ou não) por parte da B3 e também do registro dos projetos pelas empresas que os desenvolvem.
Esta é a segunda iniciativa relacionada a carbono da B3 nos últimos meses. No fim do ano passado, a companhia anunciou a criação de uma plataforma para transacionar créditos, em parceria com a AirCarbon Exchange (ACX), de Cingapura.