Esse slogan de uma renomada organização internacional na década de 1990 foi o que me motivou a mudar para Manaus há quase 20 anos para trabalhar na linha de frente do desenvolvimento sustentável na Amazônia. O que aprendi nesse período é que não existe solução simples e todos precisam fazer a sua parte.
Atualmente, acredito que o Brasil tem mais oportunidades que desafios. Estou convicto de que a Amazônia representa nossa melhor (senão a única) chance de ocupar uma posição relevante na economia global no século 21.
Assim como a transformação digital e a internet mudaram radicalmente a forma como vivemos, a corrida para conter as mudanças climáticas e a necessidade de nos tornarmos “carbono zero” irá ditar os rumos da economia global nos próximos 20 anos. E o Brasil não pode ficar de fora.
O problema é que estamos perdendo tempo.
A COP26 terminou e os resultados foram insuficientes para a maioria dos especialistas. Na minha opinião, ganhamos “nota 05”, o famoso “cinco bola” que é suficiente apenas para passar de ano.
Houve avanços com acordos setoriais e bilaterais, abrimos caminho para os mercados de carbono, mas faltou ambição, boa vontade e compromisso. As duas semanas em Glasgow não foram suficientes para nos colocar em rota para limitar o aquecimento global a 1,5ºC ainda neste século.
O Brasil, que no passado liderou a construção de acordos na convenção, chegou desprestigiado com a maior alta de desmatamento dos últimos 15 anos, perdeu protagonismo e a confiança de países doadores e investidores. Embora desta vez o país tenha apresentado uma postura mais construtiva, que colaborou para que consensos fossem alcançados na COP, como país ainda estamos longe dos resultados alcançados na “década de ouro de combate ao desmatamento”.
Entre 2005 e 2015, fomos um dos países que mais reduziu emissões de carbono no mundo com redução do desmatamento na floresta amazônica. Assumimos a vanguarda na corrida climática e fomos recompensados com isso, por meio de investimentos em diversos setores e com a criação do Fundo Amazônia, que recebeu investimentos bilionários dos governos da Noruega e da Alemanha. Mas atualmente somos mais vistos como párias do que relevantes na luta para salvar o planeta.
Segundo os dados mais recentes, divulgados pelo INPE em 18 de novembro — curiosamente quando a convenção do clima já tinha se encerrado –, a área desmatada na Amazônia foi de 13.235 km² entre agosto de 2020 e julho de 2021. É o maior índice desde 2006, quando 14.286 km² de área desmatada foram registrados pelo sistema.
Na medida em que a Amazônia queima, invalidamos também qualquer esforço de outros setores da economia para reduzir nossas emissões de gases do efeito estufa. Afinal, é do uso da terra, do desmatamento e da agropecuária que vêm 70% das emissões de carbono no Brasil.
O desmatamento não é bom para os negócios e nem para a nossa economia. Os grandes mercados consumidores de commodities, em especial no caso da União Europeia, já sinalizam que não estão dispostos a comprar produtos do Brasil vinculados ao desmatamento da floresta.
De forma contraditória, face à pior crise econômica de nossa história, a conservação da floresta amazônica representa nossa melhor oportunidade para atrair investimentos e promover uma recuperação econômica verde, compatível com a ambição esperada na COP26.
O movimento ESG e as metas “race to zero”, que grandes corporações e fundos de investimento têm encabeçado recentemente, precisam convergir com a Amazônia. O setor privado brasileiro precisa se conectar mais profundamente com a região, que tanto representa para o nosso país.
Com já disse, não existe solução simples, mas com boa margem de segurança é possível fazer algumas apostas de medidas que podemos implementar nos próximos 12 a 18 meses: governos, empresas, bancos e investidores para conter o desmatamento e fomentar a bioeconomia na Amazônia.
É possível atrair grandes investimentos, movimentar nossa economia e nos colocar novamente em posição de relevância na próxima COP27, no Egito, com resultados para mostrar e melhor poder de decisão.
Esse é o tema da minha próxima coluna, que vai discutir medidas concretas para conter o desmatamento e fomentar a bioeconomia na Amazônia.
* Mariano Cenamo é engenheiro florestal e dedica sua carreira à busca de soluções inovadoras para conciliar o desenvolvimento socioeconômico e a conservação florestal na Amazônia. Diretor de novos negócios do Idesam e CEO da aceleradora de impacto Amaz, passa a ser colunista do Reset.