EUA liberam venda de carne de frango cultivada em laboratório

Duas startups recebem autorização para comercializar produto criado a partir de células; estreia vai acontecer somente em restaurantes

Sanduíche de frango frito feito com carne de laboratório da Upside Food
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O governo americano aprovou ontem a produção e a venda da carne de frango cultivada nos laboratórios de duas startups, uma decisão há muito aguardada pelo nascente setor de proteínas alternativas.

A decisão do Departamento de Agricultura vem meses depois do parecer favorável emitido pela agência de vigilância sanitária do país. Os Estados Unidos são o segundo país a permitir a venda desse novo tipo de alimento, produzido a partir de células dos próprios animais. O outro é Cingapura.

As duas companhias autorizadas, Upside Foods e Good Meats, inicialmente fornecerão para restaurantes. O frango de proveta deve demorar anos para chegar às geladeiras dos supermercados, pois a escala da produção ainda é pequena.

Estima-se que cerca de 150 companhias estejam desenvolvendo produtos à base de células animais, inclusive no Brasil, na esperança de dobrar os consumidores que não se convencem com as imitações feitas com vegetais.

Além de frango, há startups tentando criar carne de porco, de vaca e de peixe em seus laboratórios. Empresas de alimentos brasileiras como JBS e BRF já fizeram apostas defensivas nessas companhias.

“A aprovação vai mudar de forma fundamental a maneira como a carne chega à nossa mesa”, afirmou em comunicado Uma Valeti, fundador e CEO da Upside Foods. “É um passo gigante para um futuro mais sustentável – que preserva a escolha e a vida.”

O principal argumento das startups de carne cultivada é a diminuição do impacto ambiental, o que é especialmente verdadeiro no caso da pecuária.

Além do problema do desmatamento, a criação de bois é responsável por grandes quantidades de metano despejados na atmosfera – um problema de difícil solução técnica.

Mas, diferentemente das alternativas veganas, o desafio técnico de produzir carne em laboratório tem outra ordem de complexidade.

O processo básico envolve a retirada de células do animal, que são alimentadas em soluções especiais e se reproduzem em tanques chamados biorreatores.

O primeiro desafio é aumentar a escala desse procedimento.  Outro obstáculo a ser vencido tem a ver com a textura. A maioria das empresas produz o equivalente a carne moída, que pode ser transformado em hambúrgueres e linguiças ou então usado como ingrediente em certas preparações.

Técnicas para reproduzir os bifes ou filés de frango extraídos de bois e galinhas são considerados uma fase seguinte da inovação.

A Upside Food, cuja sede fica na Califórnia, vai fornecer sua carne para um restaurante em San Francisco. A Good Meat vai adotar o mesmo modelo em Washington.

A ideia é promover um misto de campanha educativa para os consumidores e também ouvir as reações a um produto que parece saído de histórias de ficção científica.

Quando chegar a hora de distribuir a carne de laboratório em supermercados, um outro obstáculo terá de ser superado: o poderoso lobby do campo.

Produtores americanos já fazem lobby para garantir que a palavra “carne” seja reservada somente a alimentos que vieram de animais vivos.