Essa empresa quer levar ingredientes amazônicos ao plant-based

Depois de vender negócio de bioinsumos cosméticos, Grupo Sabará quer aplicar o conhecimento no setor de alimentos veganos

Assortment of vegetable oils in bottles
Assortment of vegetable oils in bottles
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Depois de 20 anos na Amazônia e no Cerrado desenvolvendo cadeias de fornecimento de bioinsumos para a indústria de cosméticos, o grupo Sabará, controlado pela família de mesmo nome, quer aplicar esse conhecimento num segmento de crescimento explosivo: o de alimentos à base de planta.

No ano passado, o grupo vendeu a Beraca, que fornece óleos e manteigas para marcas como Natura, Boticário e L’Occitane, para a suíça Clariant, por um valor não revelado.

“Faz cinco anos que estou engendrando uma Beraca de alimentos e agora terei mais tempo para isso”, diz Ulisses Sabará, sócio-diretor do grupo.

A Concepta Ingredients já existe há cinco anos, faturou R$ 34 milhões no ano passado e tem 500 clientes industriais ativos, que compram produtos como óleos gourmet ou uma manteiga vegana desenvolvida depois do teste com 300 fórmulas diferentes. A ideia agora é ampliar e sofisticar a linha de produtos.

Parte do dinheiro da venda da própria Beraca já foi direcionada para a Concepta, e o grupo agora negocia um crédito com investidores estrangeiros. “Existe um movimento principalmente lá fora, acelerado pela pandemia, de buscar construir cadeias de fornecimento sustentáveis de verdade. Tem gente querendo investir nisso e estamos buscando esse capital”, diz Sabará.

O plano é aplicar R$ 50 milhões para erguer uma nova fábrica ‘dos sonhos’ na região de Santa Bárbara do Oeste, no interior paulista, onde já existe uma planta, e também investir em marketing e P&D. “Não precisamos de pesquisa para descobrir ingredientes, mas para aplicá-los.”

Na visão do empresário, de forma geral, os produtos à base de planta ou são pobres em sabor e textura ou, se conseguem ser ótimos nesses quesitos, não têm um trabalho consistente de sustentabilidade na cadeia de fornecimento.

“Queremos trazer todos os valores que temos de relação com comunidades para esse negócio. Hoje não tem ninguém fazendo isso e o mercado de alimentos está passos atrás do de cosméticos nessa questão”, diz ele. “O ‘fator Natura’ acelerou essa preocupação em cosméticos e hoje existem muitas empresas que exigem um comprometimento socioambiental dos fornecedores.”

Por outro lado, ele acredita que o segmento de alimentos é muito mais escalável. “Em cosméticos você leva três anos para desenvolver o produto e vende em tambores. Em alimentos você leva um ano e vende em toneladas.” Mas a margem é bem maior em cosméticos. 

A Concepta de hoje ainda está bastante focada na distribuição de produtos, como açúcares e caramelos da francesa Nigay. 

No segmento plant-based, a empresa fornece para Amazonika Mundi, que faz ‘carnes’ com a fibra do caju. Vem da Concepta, por exemplo, o extrato de açaí que dá coloração de carne ao hambúrguer vegetal da marca. O kibe usa o óleo de patauá em substituição a azeites mais tradicionais, por conta das cadeias graxas semelhantes.

Cada vez mais, esse é o caminho que a empresa quer percorrer.

Na esteira de novos produtos – e tecnologias – estão frutas que são secas num processo que demanda menos gasto de energia e uma pasta de castanha que pode servir como recheio. 

No futuro, a ideia é conseguir, por exemplo, isolar proteínas e trabalhar com produtos ainda mais elaborados. Uma frente em que os estudos estão mais avançados na empresa é o de farinhas protéicas.

O ‘jeito certo’

Ulisses Sabará gosta de dizer que a biodiversidade brasileira é uma fonte inesgotável de ingredientes para serem explorados – desde que do jeito certo. A lógica básica é ajudar as comunidades locais a se organizar em associações ou cooperativas e garantir uma renda contínua.

Hoje a empresa tem em sua cadeia de fornecimento quase 7 mil trabalhadores rurais, incluindo comunidades quilombolas e indígenas. E muitas outras comunidades já estão mapeadas, diz Sabará.

Um dos grandes aprendizados que vieram dos erros cometidos na Beraca, conta, é que é preciso gerar valor para as comunidades. Isso significa realizar nas próprias comunidades etapas de beneficiamento das matérias-primas que precisariam ser feitas na fábrica. “As mulheres catadoras de semente na praia da Ilha do Marajó, por exemplo, hoje têm uma sede e produzem óleo para a gente”, exemplifica.

Essa forma de trabalhar tem valor estratégico também para a Concepta, ao gerar uma fidelização dos fornecedores. “No fim do dia, o que a gente agrega é geração de renda. O interesse das comunidades em se aproximar é porque vamos introduzir os insumos em cadeias produtivas.”