COP30: sem ar-condicionado e internet, leques e 5G viram itens de sobrevivência 

Nada mais didático do que debater as mudanças climáticas no calor. Mas as tendas que abrigam a Zona Azul da COP30, em Belém, viraram um forno na área dos pavilhões de países e entidades.

A secretaria extraordinária da COP30 (Secop), do governo federal, admitiu o problema, mas não forneceu detalhes sobre o funcionamento dos ar-condicionados. Para aplacar o calor enquanto duram os ajustes, ventiladores grandes foram instalados.

“Foram identificados, no primeiro dia da COP30, problemas pontuais, de infraestrutura sobretudo na área de pavilhões de países e empresas. As equipes técnicas estão no local realizando os reparos e adequações necessárias para garantir o pleno funcionamento das estruturas”, disse em nota.

Desde o início do evento, na segunda-feira (10), participantes notaram que as salas de conferência, área de negociações e centro de imprensa estavam bem climatizados – em alguns momentos do dia, houve até reclamações de frio. 

Mas na parte da “feira” da COP, onde países e organizações montam seus estandes, a história é outra. Basta uma curta caminhada para ver um desfile de pessoas suando, limpando o rosto com toalhas pequenas e abanando leques, que viraram objeto de desejo na COP30. A maioria deles é distribuída como brindes por delegações e expositores. 

“Dou entrevista se você me prometer que vai nos ajudar a resolver esse problema, por favor”, brincou uma delegada do Malauí, país do leste da África, enquanto pingava suor.

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Reset (@capitalreset)

Três amigos que trabalham em uma empresa japonesa criaram uma estratégia: descansar nos bancos dos restaurantes entre um espaço e outro. “Se você ficar parado, para de suar. Mas na COP é difícil ficar muito tempo sem se locomover”, disse um deles. 

Apesar do clima quente, ninguém quis gravar entrevista em áudio ou vídeo sobre o problema – talvez para não ser o rosto de mais uma notícia reclamando das condições da conferência em Belém. 

Após palestrar no estande do Gabão, a representante de uma ONG caminhava até o espaço do Balanço Ético Global. “Incomoda muito, mas é bom para as pessoas lembrarem do aquecimento global e de como a demanda por ar-condicionados só vai aumentar”, disse.

A situação acabou gerando uma oportunidade de negócios. Nos arredores da Zona Azul, vendedores ambulantes estão munidos de leques, oferecendo aos credenciados que estão indo em direção ao vento.

Um deles, Jonas Melo, já havia vendido 11 leques antes das 11h da manhã, cada um por R$ 35. Mas ele disse que negocia até R$ 30.

“Lá dentro o pessoal está reclamando muito que tem muita gente e o ar-condicionado não está suportando”, disse ele, que pretende também vender guarda-chuvas durante a COP30 para ganhar um extra.

Sem sinal

Na manhã de hoje, pelo menos duas rodas de conversa não ocorreram na Zona Azul por falta de sinal de internet. Quem anda da sala de imprensa para o pavilhão dos países nota que o sinal vai diminuindo ao longo do percurso, mesmo para quem utiliza a internet móvel. 

Na manhã desta terça-feira (11), mapas grandes foram impressos e colocados nas paredes – o que ajudou os transeuntes que estavam sem sinal e tentavam se localizar.

“A rede de internet aberta está disponível nas áreas comuns da Zona Azul, incluindo a sala de imprensa. As equipes técnicas seguem acompanhando o desempenho da conectividade em todo o espaço e trabalhando para aprimorar o sinal, conforme necessário”.

O painel de que participaria a representante de uma entidade da sociedade civil brasileira foi cancelado porque as colunas estruturais do espaço, de ferro, estavam dando choque.

Alimentação

A alimentação fluiu melhor nesta terça-feira (11), mas seguiu com filas longas. A cena é comum: pessoas desistindo e voltando ao trabalho. Na segunda-feira, muitos dos estandes de alimentação já não tinham mais produtos à venda na hora do almoço. 

Para acentuar o problema, os cartões de alimentação da conferência também acabaram durante o almoço logo no primeiro dia da conferência – e um novo lote só foi disponibilizado por volta das 16h. A aquisição de todos os alimentos dentro da Blue Zone é possível apenas com o referido cartão, que é recarregável.